Grupo mantém grupo no WhatsApp com mulheres no propósito de não beber mais e o Instagram @alcoolismo_feminino, onde são realizadas lives informativas - Divulgação / AA
Grupo mantém grupo no WhatsApp com mulheres no propósito de não beber mais e o Instagram @alcoolismo_feminino, onde são realizadas lives informativasDivulgação / AA
Por Irma Lasmar
Niterói - Na maioria dos grupos de mútua ajuda a dependentes do álcool, a presença do público masculino é sempre maior, e muitas mulheres não conseguem compartilhar suas dores e culpas de forma confortável, o que acaba levando-as novamente para um lugar de isolamento. Neste cenário surgiu, junto com a pandemia no estado do Rio e com a quarentena, o Coletivo Alcoolismo Feminino, que em apenas três meses ganhou força e vem atraindo um número cada vez maior de adesões. A idealizadora do conjunto, a niteroiense Grazi Santoro, 51 anos de idade e mais de 11 anos sem beber, percebeu a necessidade de criar um ambiente apenas para mulheres, com base nos princípios dos 12 passos. Isso porque, apesar de os homens ainda serem os maiores consumidores de bebidas alcoólicas, o número de mulheres que bebem aumentou significativamente.
O Coletivo já conta com a participação de mais de 80 mulheres e a rede social, com mais de 1.000 seguidores. As niteroienses Fátima Sampaio (62 anos de idade e mais de 31 sem beber) e Luciana Lage (33 anos de idade e mais de cinco sem beber) são algumas das integrantes, além da carioca Denise Cabral (55 anos de idade e mais de 11 sem beber), que atualmente mora em Maricá, e com a qual Grazi dividiu sua ideia e pediu ajuda quando decidiu materializá-la. A psicóloga niteroiense Claudia Leiria, especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que atua há mais de 30 anos cuidando de dependentes de álcool ou outras substâncias, é voluntária no acompanhamento das reuniões realizadas duas vezes por semana pelo aplicativo Meet e propondo algumas atividades de autoconhecimento e empoderamento.
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"Em geral, as mulheres são mais propensas ao efeitos devastadores do álcool em comparação aos homens devido à sua composição corporal. Como as mulheres têm mais gordura no corpo e menos água, o álcool demora mais tempo para metabolizar, facilitando o estado de embriaguez e causando consequências físicas mais danosas do que nos homens. Uma mulher comum pode consumir a mesma quantidade de álcool que um homem comum, mas sofre impacto maior", explica Claudia.
O grupo tem participantes de vários estados do Brasil: mantém um grupo no WhatsApp com mulheres no propósito de não beber mais e o Instagram @alcoolismo_feminino, onde são realizadas lives informativas e disponibilizados conteúdos sobre o transtorno. "O alcoolismo não tem cura, mas pode ser controlado, e quanto mais senso de comunidade em torno de escolhas positivas, mais úteis e atraentes elas são. A missão do Coletivo Alcoolismo Feminino é ajudar na criação de uma sensação de pertencimento, assim como o álcool e o embalismo alcoólico prometem, e contribuir como fonte de motivação para a busca de mudança e o possível encontro de alternativas e soluções mais saudáveis para o enfrentamento e manejo dos problemas", diz Luciana.
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Segundo a fundadora, para participar, a abertura do anonimato não é obrigatória, mas bem-vinda para favorecer na quebra do estigma, que é uma das principais razões pelas quais as pessoas não admitem que têm um problema e não buscam ajuda. "Uma das coisas que mais me afligia, na minha jornada de 11 anos em recuperação, era não poder falar sobre meu problema. Idealizei esse coletivo pra compartilhar esperança e dar voz a essas mulheres. Não somos culpadas pela doença que carregamos", afirma.
A pesquisa Vigitel 2018 mostra que, de 2010 a 2018, o índice de mulheres de 18 a 24 anos que bebem além do recomendado cresceu de 14,9% para 18%. Na faixa etária dos 35 aos 44 anos, esse índice passou de 10,9% para 14%. Chama atenção também o consumo de bebida alcoólica entre mulheres idosas: 11,3% daquelas com idades entre 55 e 65 anos bebem além do recomendado, de acordo com o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).