Osiris Ricardo Bezerra - Arquivo Pessoal
Osiris Ricardo BezerraArquivo Pessoal
Por O Dia

O turismo pós-pandemia será um desafio para o setor hoteleiro, em escala global. A sensação de imprevisibilidade criada pelo novo coronavírus é um entrave no planejamento de retomada do setor, em especial no Rio de Janeiro. Do outro lado da Baía de Guanabara, Niterói ensaia a reação, impulsionada pelos hóspedes do mercado offshore: trabalhadores da área de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Considerado essencial, o serviço não foi descontinuado na cidade, apesar da significativa queda no número de reservas, como revela Rodrigo Alvite, presidente do Polo Hoteleiro de Niterói e CEO do H Niterói Hotel e do Villa 25 Hostel.

"A hotelaria tem trabalhado com cerca de 15% da ocupação. Um hotel, em média, precisa de pelo menos 40% desse volume para se pagar. A queda gerou redução de dois quartos do quadro funcionários, por suspensão de contrato e demissão. Caso a volta seja muito lenta, esse número pode aumentar, infelizmente", destaca Alvite.

Segundo a Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), a cidade conta com 11 hotéis. Em reuniões diárias com representantes e especialistas do setor, Rodrigo Alvite diz que o mercado busca alternativas para retomar as atividades na nova realidade imposta pelo coronavírus, com uma série de restrições e demandas por parte dos hóspedes. O quesito higienização será fundamental no processo de reconquista da confiança dos turistas no cenário pós-pandemia.

"Já está virando o novo normal. O mundo mudou e tudo será diferente na prestação de muitos serviços. Os hotéis vão precisar fazer investimentos num momento complicado para atender às novas necessidades. Avaliamos que a questão da limpeza será determinante de agora em diante. A higienização e proteção de hóspedes e funcionários seguirão protocolos rígidos. O setor terá que se movimentar", avalia Alvite.

Com medidas eficazes adotadas pela prefeitura no combate à pandemia, Niterói foi uma das primeiras cidades no país a endurecer no combate à covid-19, o que criou um clima de confiança na população, comprovada pela reabertura gradual de serviços e áreas públicas sem grandes percalços ou aumento de casos da doença na cidade. Ainda assim, a previsão do setor de hotelaria é alarmante devido à série de cancelamentos de reservas, pacotes e eventos em todo o país.

"O mais difícil é a previsibilidade. Esse é o tesouro que todos gostariam de ter. Uma coisa é certa: nada será como antes. Teremos a adoção de protocolos rigorosos para a volta do turismo. Os hotéis, por exemplo, passarão a funcionar com série de restrições e dificilmente trabalharão com a capacidade de lotação máxima. Em Niterói, especificamente, existe a possibilidade de retomada por conta do mercado offshore na região. No Rio, que atende basicamente ao público de lazer, a situação é diferente. Durante algum tempo teremos que conviver com algumas regras e restrições", pontua Osiris Ricardo Bezerra, vice-presidente da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Pesquisa analisa impactos os negativos no turismo
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O impacto da pandemia do novo coronavírus classifica 2020 como um ano perdido para o setor do turismo. Um estudo realizado pela Rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT), com colaboração da UFF, resultou na pesquisa 'Sondagem empresarial dos impactos da covid-19 no setor de Turismo no Brasil'. O objetivo é produzir análises que auxiliem os governos estaduais e municipais a entender as demandas das empresas para minimizar os danos no setor.
"A maioria das empresas que trabalham com turismo no país são micro e pequenas. São cerca de 80%. Fica claro que não existe fôlego de sobrevivência. A pesquisa é um retrato da situação que as empresas estão passando. A maioria não sobrevive dois meses com o caixa que tem. Mesmo com a retomada efetiva prevista para 2021, haverá mortalidade grande de empresas por falta de recursos, infelizmente", diz Osiris Bezerra.
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A nível de comparação, o H Niterói Hotel, em Niterói, está funcionando com uma série de restrições. Com 264 quartos e 151 funcionários, o estabelecimento opera hoje com apenas com 49 trabalhadores: 97 pessoas tiveram o contrato suspenso e cinco foram demitidos. A piscina e o bar anexo estão fechados, assim como os 15 salões para eventos, que representavam cerca de 30% do faturamento da casa. Serviços próprios de produção de alimentos, como padaria, confeitaria, açougue e hortifruti, também foram interrompidos no hotel, assim como a academia.
"Contamos com um quadro grande, pois temos produção própria e oferecemos serviço de quarto 24 horas. Estamos operando com uma série de limitações. É um desafio para o cliente e para a rede hoteleira, que terá que se adaptar e investir num momento difícil. Creio que o comportamento do hóspede mudará num primeiro momento. Se passar mais tempo no quarto, vai exigir o serviço de streaming, por exemplo. Isso exigirá a compra de TVs smart, um investimento de cerca de R$ 450 mil no nosso caso", diz Alvite.
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