A crise financeira provocada pela pandemia da covid-19 tem causado um efeito dominó nas contas a pagar de muitos que perderam o emprego ou tiveram salário reduzido. O desajuste tem atingido em cheio os conjuntos residenciais de Niterói, cujos síndicos viram crescer, nos últimos meses, a inadimplência das taxas condominiais. O problema tem atingido até mesmo os bairros nobres da cidade, como Icaraí.
Em um conjunto da Avenida Roberto Silveira, o síndico Carlos Mandarino, de 52 anos, calcula que o percentual de inadimplência mais que dobrou, passando de 8% para 17% nos últimos meses. Apesar da dificuldade financeira, ele conta que não foi preciso demitir funcionários devido ao fundo de reserva do condomínio.
"Como tínhamos uma boa reserva, fruto de uma eficiente administração nos últimos anos, conseguimos segurar a onda e não demitir ninguém. A exceção foi apenas um funcionário, com mais de 60 anos, cujo contrato suspendemos recentemente. Mas não teve relação com a inadimplência dos moradores", diz Mandarino, que é advogado.
A reportagem tentou contato com um dos moradores que, desde abril, está sem pagar a taxa de condomínio, no valor de R$ 738. A proprietária confirmou que os atrasos são motivados pela pandemia.
"Sou advogada. E, com o recesso no Tribunal de Justiça, os processos estão parados. Isso tem me prejudicado", comentou a moradora, que não quis se identificar.
Em outro condomínio próximo, a síndica Isabele Faitinin conta que houve aumento de 8% de inadimplência dos moradores durante a crise da covid-19. O conjunto, que tem 46 apartamentos, fica na Rua 5 de julho. Com um fundo de reserva financeira não tão robusto, ela conta que teve fazer alguns ajustes:
"Não vou entrar em detalhes do tamanho do prejuízo financeiro. O que posso dizer é que não precisei fazer demissões. Mas, por outro lado, tive que estabelecer acordo com fornecedores e até mesmo paralisar, por tempo indeterminado, a obra que estávamos fazendo na portaria do prédio", diz a síndica.
Segundo Edson Santos, síndico de um condomínio na Avenida Roberto Silveira, a inadimplência no prédio que administra se manteve no patamar de 6% verificado antes da pandemia. Apesar de não ter sido necessário demitir funcionários, ele conta que o Conselho Administrador decidiu reduzir salários daqueles que fazem parte de grupos de risco e ficaram impossibilitados de trabalhar.
"Não demitimos ninguém, apenas reduzimos os vencimentos daqueles que não puderam se locomover até o trabalho. Importante ressaltar que foi tudo feito dentro da lei", explica.