Niteroiense na Espanha lança livro arteterapêutico com pinturas sobre a pandemia
Há oito anos morando em Valência, Marcelli Pereira Ferraz montou coletânea com 55 obras de alunas dando testemunhos visuais do atual momento coronaviral
Um dos desenhos a serem publicados na obra, que expressa coletânea de sentimentos sobre a pandemiaReprodução
Por Irma Lasmar
NITERÓI - Residente na Europa há 15 anos, sendo oito deles em Portugal e os sete últimos na Espanha, a psicóloga niteroiense Marcelli Pereira Ferraz, 42 anos, lançará em setembro o livro "Arteterapia: testemunho visual de uma pandemia", contendo 55 pinturas sobre a experiência da quarentena em uma pandemia. Autora de vários livros na área da Psicologia, neste projeto a professora universitária inova na proposta e publica uma coletânea de desenhos de suas alunas do mestrado em Arteterapia e Terapia Psicoexpressiva na Escuela de Terapia Psicoexpresiva, do Instituto Iase, que exprimem seus sentimentos sobre os efeitos psicoemocionais do novo coronavírus, como medo, angústia, solidão e a visão da morte. "Acredito que será um material futuramente importante como registro socioemocional das impressões individuais desse período tão peculiar que vivemos este ano", diz ela.
Marcelli saiu de Niterói para estudar em Lisboa. Após conhecer seu marido, hoje pai de seu filho, foi morar em Valência - terceira maior cidade da Espanha, localizada na costa sudeste do país, onde o rio Túria encontra o Mar Mediterrâneo. É conhecida como Cidade das Artes e das Ciências, com estruturas futuristas que incluem um planetário, um oceanário e um museu interativo, que atraem muitos turistas do mundo todo. Valência também tem diversas praias, algumas delas no Parque Albufera, uma reserva pantanosa nas proximidades com um lago e trilhas para caminhada. Ela se declara feliz com a opção pela nova nacionalidade e conta que não pretende voltar à terra natal por causa da violência urbana.
Publicidade
"A pandemia é uma loucura. A Espanha parou em fevereiro. Há poucos dias começou a flexibilização, mas ainda estamos todos sob tensão. Pelas informações que temos, o vírus entrou aqui na cidade através dos jogadores de futebol do time de Valência, que teriam voltado infectados de um jogo na Itália. O contágio eclodiu em nossa cidade antes mesmo da capital Madri. A mais importante e tradicional festa local, chamada Falhas, equivalente ao Carnaval brasileiro, foi cancelada pela primeira vez na história. Alunas italianas da faculdade onde leciono até hoje não conseguiram voltar para o país de origem e ainda hoje estão confinadas na Espanha. Quando o presidente anunciou que iria fechar tudo, os supermercados ficaram abarrotados e faltaram muitos itens essenciais. Paracetamol, ibuprofeno e álcool em gel acabaram rápido", descreve ela, que continuou dando aulas, porém à distância, na modalidade on-line.
Ela elogia a disciplina de precaução adotada e respeitada pelos espanhóis, principalmente em Valência. "O país viveu os primeiros três meses de confinamento de forma muito bonita, cuidadosa, harmoniosa e criativa, com uma energia de solidariedade incrível. As redes sociais e os canais de TV ficaram repletos de arte. Os canais a cabo abriram gratuitamente seus sinais para não-assinantes. Nos três primeiros meses, todo dia, às oito horas da noite, a Espanha inteira aderiu a um movimento de a população ir até as janelas e terraços para aplaudir os profissionais de saúde, os policiais e os demais trabalhadores que estão na chamada 'linha de frente'. Todo domingo o presidente da República faz um pronunciamento de agradecimento à população e de pêsames às famílias dos mortos", descreve Marcelli, ressaltando ainda os auxílios emergenciais emitidos pelo governo espanhol, com rapidez e sem burocracia, para ajudar financeiramente as pessoas e as empresas mais prejudicadas com a crise provocada pelo isolamento social.
Publicidade
A niteroiense conta que a população valenciana, assim como a maioria das cidades do país onde mora, já pode sair de casa, usando máscaras de proteção e mantendo distância segura entre si, para ruas, praças e praias. Eventos coletivos continuam proibidos, exceto cinemas - que voltaram a funcionar, porém com limite de público. Em setembro será a vez das escolas e faculdades retornarem às suas atividades, mas em grupos reduzidos, sem contato físico e usando máscara. Exceto Marcelli, que não pretende tão cedo levar o filho ao colégio. "O governo liberará o reinício das atividades educacionais presenciais, com a recomendação de proibir o contato com idosos. Só que não levarei o meu filho porque opto pelo contato dele com os avós", justifica. "Tenho medo mesmo é do término do verão e da chegada do inverno, que traz consigo as doenças respiratórias, que podem camuflar algum coronavírus ainda sobrevivente", desabafa.