A gestão do HOF passou de federal a municipal em 1990 e, após algumas crises econômicas e administrativas que quase ocasionaram o seu fechamento, a unidade deu a volta por cima e atualmente possui o status de um hospital geral, com destaque para o atendimento de urgência, o ambulatório e os procedimentos cirúrgicos eletivos, além de exames de HIV, videolaparoscopia, endoscopia, patologia, ultrassonografia e raios-X - Divulgação / Antonio Schumacher
A gestão do HOF passou de federal a municipal em 1990 e, após algumas crises econômicas e administrativas que quase ocasionaram o seu fechamento, a unidade deu a volta por cima e atualmente possui o status de um hospital geral, com destaque para o atendimento de urgência, o ambulatório e os procedimentos cirúrgicos eletivos, além de exames de HIV, videolaparoscopia, endoscopia, patologia, ultrassonografia e raios-XDivulgação / Antonio Schumacher
Por Irma Lasmar
NITERÓI - Há oitenta anos, falecia nesta data (20/08) Orêncio de Freitas, o idealizador do hospital municipal que leva seu nome, localizado no Barreto, hoje referência estadual em tratamento de doenças do aparelho digestivo. A grande demanda pelos serviços oferecidos na unidade, como as cirurgias eletivas e os exames laboratoriais e de imagens, fazem com que seja considerada um dos principais polos de saúde do Leste Fluminense, composto pelos municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito, Silva Jardim, Maricá e Tanguá. O que pouca gente sabe é que este importante personagem da História de Niterói (nascido em 1891 e falecido em 1940), sem um único registro fotográfico, não foi mais um médico a batizar um hospital, como é praxe no meio, e sim um operário do setor naval, negro e semianalfabeto, que insistiu ferrenhamente junto aos órgãos governamentais locais pela construção de um hospital público que atendesse ao expressivo número de trabalhadores do bairro, que à época era tido como um dos principais polos industriais do país. Por ironia do destino, Orêncio - doente de tuberculose - foi o primeiro paciente a se internar no hospital que idealizou, inaugurado em maio de 1940, e ali morrer três meses depois. 
Assim como a maioria dos jovens pobres de sua época, Orêncio de Freitas cresceu sem escola, sem apadrinhamento e sem oportunidades. Começou a trabalhar como tipógrafo no Barreto, atuando depois por estaleiro e fábrica de tecidos. Com o apoio dos médicos Salomão Cruz e Alcides Pereira, que atendiam a população carente do bairro, Orêncio fundou a Sociedade Mútua dos Operários da Manufatura Fluminense, com um propósito ainda mais ambicioso: construir uma casa de saúde que atendesse não só os trabalhadores, mas também os moradores do bairro. A sua ideia começou a se materializar pouco tempo depois, com a doação de um terreno no alto do morro pela Fábrica de Tecidos Manufatura Fluminense, fábrica em que trabalhava na ocasião. Após a Revolução de 1930, quando vieram as leis trabalhistas e a possibilidade de criação de sindicatos, seguida do período de democratização do país, o operário fundou o Partido Proletário do Estado do Rio de Janeiro, que disputaria as eleições federais de 1934. Já acometido de tuberculose, Orêncio foi diagnosticado com tuberculose., Orêncio iniciou uma interminável peregrinação em busca da cura, ou pelo menos do tratamento de sua doença. Em Niterói, apesar do crescimento contínuo da população, havia apenas um hospital, o São João Batista, onde os ricos tinham prioridade no atendimento porque podiam pagar. As vagas gratuitas eram poucas, além de serem distribuídas com o aval dos políticos.
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A construção do hospital teve início em 1937, como resultado da luta do movimento operário na região. A Prefeitura de Niterói doou parte dos materiais e a mão de obra. O Governo do Estado também ajudou, doando anualmente 180 contos de réis ao projeto. Mas as verbas começaram a escassear e as obras paralisaram por um longo tempo. Sensibilizado com o projeto de Orêncio de Freitas, o interventor federal no Estado, Ernani do Amaral Peixoto, restabeleceu a subvenção ao estabelecimento. Amaral Peixoto não só retornou com os investimentos à instituição como também perdoou todas as dívidas da comissão construtora com o Estado e a Prefeitura de Niterói, o que permitiu a conclusão das obras e a aquisição dos equipamentos necessários. Em maio de 1940, Amaral Peixoto e seus convidados subiram ao outeiro para entregar finalmente à população o Hospital dos Marítimos - nome escolhido devido à localização do prédio, no início da rampa de subida do morro de mesmo nome. Orêncio não foi à inauguração do hospital que idealizou devido ao estágio avançado da tuberculose. Assim que aberta a unidade, o operário nela se internou, morrendo em agosto de 1940, aos 49 anos - ocasionando, assim, e com causa justa, a renomeação do local para Hospital Orêncio de Freitas (HOF). Infelizmente, não há registro fotográfico do patrono deste importante personagem.
Em 1990, o HOF, de gestão federal, foi cedido à Fundação Municipal de Saúde de Niterói. Após passar por algumas crises econômicas e de gestão que quase ocasionaram o seu fechamento, a unidade deu a volta por cima e atualmente possui o status de um hospital geral, com destaque para o atendimento de urgência, o ambulatório e os procedimentos cirúrgicos eletivos, além de exames de HIV, videolaparoscopia, endoscopia, patologia, ultrassonografia e raios-X. Dirigido por Célia Maria Gouvêa, o hospital funciona 24 horas por dia, de segunda a sexta-feira; aos sábados, domingos e feriados, atende em regime de plantão. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas até os dias de hoje, o Orêncio de Freitas é bem avaliado pela população: em pesquisa realizada pelo hospital em 2019, 96% das pessoas atendidas na unidade disseram que voltariam a se internar na unidade caso precisassem. O mesmo percentual foi demonstrado pelos que utilizaram da emergência. Já os pacientes que estiveram internados no Centro de Tratamento Intensivo deram 100% de aprovação ao atendimento prestado.
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