Fernanda Brasil e Gabriel Gontijo ladeados pelo diretor de fotografia Alex Costa (de preto) e o diretor do documentário, Rafael Spaca (de branco) - Divulgação
Fernanda Brasil e Gabriel Gontijo ladeados pelo diretor de fotografia Alex Costa (de preto) e o diretor do documentário, Rafael Spaca (de branco)Divulgação
Por Irma Lasmar
NITERÓI - Único niteroiense que integra a produção do documentário Trapalhadas sem fim, sobre a carreira de Os Trapalhões, o jornalista Gabriel Gontijo participa, junto aos demais produtores, da busca por financiamento coletivo para o lançamento do filme, cujas filmagens já estão concluídas há dez meses mas dependem de patrocínio para a edição e a montagem. Ele ressalta que a dificuldade financeira de se fazer cinema independente no Brasil se agravou ainda mais com a pandemia. E conta que a equipe tentou negociar com o Canal Brasil, no ano passado, e com a Netflix, no início deste ano, porém sem êxito. Empresas com visão cultural e empresários fãs do quarteto de humoristas mais famoso do Brasil podem patrocinar o produto, colaborando com qualquer quantia, através do portal catarse.me/trapalhadas_sem_fim_2020?ref=ctrse_explore_pgsearch&project_id=120784&project_user_id=1387729 .
As filmagens começaram em outubro de 2018 em São Paulo, de onde vem a maior parte da equipe de produção, e seguiram em abril de 2019 para o Rio de Janeiro, quando Gontijo passou a atuar presencialmente. Entre os niteroienses entrevistados por ele para o filme estão Baiaco, o dublê de Renato Aragão (que atualmente mora em Campo Grande, zona oeste do Rio), e Fernanda Brasil Schmidt, a menina que protagonizou o longa-metragem A filha dos Trapalhões (1984). As gravações terminaram um ano depois, em outubro de 2019, após coletar depoimentos de dezenas de famosos que conviveram com o grupo, principalmente participando de seus filmes, como Angélica, Tom Cavalcante, Fagner, Tony Ramos,  Myriam Rios, Ney Matogrosso, Ronnie Von e Pelé, entre muitos outros.
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O diretor, Rafael Spaca, é um especialista em Trapalhões: já escreveu dois livros sobre o quarteto, O cinema dos Trapalhões - por quem fez e quem viu, de 2016, e As HQs dos Trapalhões, de 2017, antes de realizar o documentário. "Para mim, é uma honra muito grande participar dessa produção, pois sempre fui fã do grupo. Cresci assistindo aos quatro. Cheguei a alcançar a exibição dos últimos episódios inéditos, em 1993, quando eu tinha cinco anos. Depois, acompanhei todas as reprises até os anos 2000. Com o advento da internet, pude assistir a mais quadros e finalizar toda a filmografia. Quando Spaca me convidou, naturalmente aceitei. Pra mim, foi uma oportunidade única", revela Gabriel Gontijo, de 32 anos, cuja monografia de conclusão do curso de Jornalismo na UFF foi um rádio-documentário sobre o legado artístico de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. 
A intenção do documentário foi reviver e homenagear a trajetória do quarteto de humoristas, segundo Gabriel Gontijo, sem mitificar nem desconstruir a imagem da trupe, e que os temas polêmicos não foram planejados pela produção, e sim mencionados pelos depoentes. O produtor diz que, procurados, Renato Aragão e Manfried Santana (o Dedé) não quiseram participar da realização do filme.
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"Tocamos em assuntos espinhosos, muitos deles que Renato não gosta de comentar, mas porque surgiram ao longo das entrevistas, que revelaram inclusive informações até então ocultas. Mas as polêmicas se fazem presentes em no máximo 20% do documentário, não mais do que isso. Como por exemplo as divergências entre os componentes que culminaram na primeira separação do grupo em 1983 - voltando seis meses depois - e também a disparidade entre os ganhos financeiros de Renato e os demais membros. Há relatos muito bacanas de pessoas que elogiaram o convívio com o humorista e outros que criticaram atitudes pontuais. Enfim, mostramos o lado humano dele, tanto nos erros quanto nos acertos. Claro que alguns fãs ficaram chateados, e reclamaram do resultado nas redes sociais", descreve.
Uma dessas polêmicas envolve Fernanda Brasil Schmidt, a "filha dos Trapalhões", no filme de mesmo nome. Levada pela atriz Suzana Mattos, amiga de sua mãe, para um extenso processo seletivo, ela ganhou o papel entre milhares de meninas inscritas de todo o Brasil (vide galeria abaixo). "A experiência sem dúvida foi incrível. Na relação com todas as pessoas e nossas vivências. O estúdio virou minha casa e aquelas pessoas se tornaram minha família. Eu era o xodó de todos, a menina prodígio, uma estrela", recorda-se ela, hoje jornalista com 40 anos, que, apesar das boas lembranças, hoje não concorda com a vulnerabilidade emocional a que crianças são expostas em experiências intensas como a gravação de um filme. Desafio maior, porém, viveu após a maioridade: um processo judicial contra as produtoras/distribuidoras Renato Aragão Produções, Europa Filmes, InfoGlobo e Globo Filmes por conta dos direitos autorais que jamais recebeu por este longa-metragem que é um dos cem mais vistos de todos os tempos no Brasil.
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Remunerada apenas na época com um valor revertido totalmente na compra apenas de uma treliche e roupas de cama, Fernanda foi indenizada em segunda instância por danos morais em janeiro de 2018 no valor de R$ 20 mil e o processo ainda corre na Justiça, podendo chegar ao total de um milhão de reais de indenização por danos materiais. "As produtoras cometeram um erro financeiro grave comigo e meu maior questionamento recaiu sobre meus pais, que não buscaram meus direitos quando criança. Mas a mágoa que um dia tive dos próprios Trapalhões já passou", garante ela.