A UFF vira sexagenária coberta de ânimo e dinamismo - Imagem Divulgação
A UFF vira sexagenária coberta de ânimo e dinamismoImagem Divulgação
Por Luciana Guimarães
Niterói - Nos primeiros meses desse inesquecível 2020, quando o Brasil caminhava para se tornar o epicentro da pandemia de COVID-19 no mundo, e parcela significativa da população do país estava em regime de quarentena, as janelas de nossas casas e apartamentos passaram a ser ressignificados. Esse espaço passou a ser frequentado não mais somente para se olhar a cor do céu ou acenar para um vizinho, mas para expressar desejos, indignações e também fazer homenagens, já que não se podia ocupar as ruas naquele momento. De nossas janelas, muitas vezes aplaudimos médicos, enfermeiros e todos os outros profissionais de saúde que estiveram “na linha de frente” do combate à pandemia, em hospitais, clínicas, postos de saúde e outros espaços similares.  
Na Universidade Federal Fluminense, que se manteve em plena atividade durante todo o ano, os profissionais da saúde recepcionaram a população acometida de COVID-19 no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e no Hospital Maternidade São Domingos Sávio. Para além disso, lideraram uma extensa gama de projetos na área voltados para o enfrentamento do desafio sanitário que então se apresentava. Eis que, agora, no mês de aniversário de 60 anos da UFF, a universidade acena do alto de suas janelas para o mundo em gesto de homenagem a esses profissionais que tanto colaboraram com seu trabalho para proteger e cuidar da vida de todos nós, cidadãos brasileiros.
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"Estar filiado ao RIUPS significa que a área da saúde faz parte da missão institucional da UFF, que tem como responsabilidade social a promoção da saúde e a qualidade de vida da sua comunidade interna e externa.", disse Antonio Claudio Lucas da Nóbrega.
Faculdade de Farmácia: produção de álcool em gel e testagem em massa

Um primeiro destaque vai para a Faculdade de Farmácia, que se reinventou para dar continuidade a suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. A Farmácia Universitária permaneceu em funcionamento durante todo o ano, mantendo o suporte à população de Niterói, incorporando ao cotidiano de sua prática a produção de álcool 70 e álcool em gel para atendimento à comunidade universitária. O curso de residência em farmácia hospitalar permaneceu ativo durante todo o ano, com os residentes participando da linha de frente de combate ao COVID-19 em suas unidades de treinamento em serviço.

Docentes e discentes da faculdade também se dedicaram a produzir e disseminar informação sobre a pandemia e seus tratamentos, segurança alimentar na pandemia, formas de prevenção da doença, entre outras coisas. Além disso, a pandemia foi objeto de estudo de alguns alunos nos cursos de pós-graduação stricto sensu. No âmbito do Programa de Pós-graduação em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica (PPG-GAFAR), por exemplo, estão sendo desenvolvidos dois trabalhos de dissertação com vistas a explorar os recursos humanos nas Emergências de Saúde Pública impostas pelo COVID-19.

Um desses estudos investiga a estrutura da Assistência Farmacêutica hospitalar nos municípios do Estado do Rio de Janeiro. O modelo considerou o tensionamento do sistema de saúde, ou seja, a ocupação total dos leitos e o número de casos de COVID-19 na semana epidemiológica mais crítica presenciada em cada município. Resultados preliminares apontam um déficit na força de trabalho de farmacêuticos em hospitais durante a pandemia. O modelo desenvolvido pode ser aplicado em qualquer região do país, sendo útil para análises e avaliações de serviços de saúde, além de colaborar com o desenvolvimento de políticas para a melhoria dos serviços de Assistência Farmacêutica.

Já o outro analisa, na prática, a atuação de farmacêuticos durante a pandemia, nas diversas frentes onde estão inseridos. O estudo foi desenvolvido em duas etapas. A primeira compreendendo a validação por especialistas na área do questionário da pesquisa e a segunda aplicando o questionário a uma amostra representativa de farmacêuticos em todo o estado do Rio de Janeiro. Com os resultados, espera-se traçar o perfil das mudanças ocorridas na rotina farmacêutica durante a pandemia e analisar a atuação desses profissionais. Estão envolvidas nestes trabalhos, respectivamente, as discentes Nadielle Gonçalves Siqueira e Stephanie Carvalhal Moreira dos Santos e as docentes orientadoras Elaine Miranda, Sabrina Calil, Claudia Du Bocage.

A Farmácia também construiu e manteve ativo o Centro de Testagem de COVID-19, coordenado pelos professores Fábio Aguiar Alves, Andrea Alice da Silva e Jorge Reis Almeida. Desde maio de 2020, foram testados por PCR em tempo real (padrão ouro da OMS) um total de 1577 indivíduos, incluindo pacientes e profissionais do HUAP e moradores de rua do projeto laboratório na rua. Além dos profissionais do hospital, também foram testados funcionários da reitoria e dos serviços essenciais da UFF que atuaram em trabalhos presenciais. De acordo com Fábio, “a iniciativa reúne técnicos, professores, estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em um projeto que devolve para a comunidade o aprendizado adquirido ao longo da vida acadêmica. Trata-se de uma aplicação efetiva daquilo que a universidade pode oferecer para a sociedade”, enfatiza.

Faculdade de Nutrição: higienização de alimentos, cuidados nas refeições e assistência aos idosos

No curso de Nutrição um dos destaques é o projeto “Capacitação em controle higiênico-sanitário para manipuladores do comércio ambulante de alimentos no município de Niterói”, que ao longo desse ano foi rebatizado de “Capacitação para manipuladores da comida de rua em tempos da COVID-19”. A iniciativa, coordenada pela professora Maria das Graças G. de A. Medeiros, é fruto de uma parceria com a Vigilância Sanitária de Niterói (Jane Silva Maia Castro), a Casa do Artesão/Secretaria de Cultura da Prefeitura de Niterói (Claudia Regina de Azevedo Fernandes) e a Faculdade de Nutrição do Centro Universitário Anhanguera (Edna Freignan dos Santos).

Inicialmente, seu objetivo era o de desenvolver e aplicar um programa educativo de capacitação sobre habilidades culinárias e boas práticas para manipuladores do comércio ambulante de alimentos do município de Niterói. A emergência da pandemia, no entanto, desafiou a equipe, formada pelas professoras Maristela Soares Lourenço e Manoela Pessanha da Penha, além de 11 discentes das Faculdades de Nutrição da UFF e da Anhanguera, a lançar o projeto no formato virtual, a fim de contribuir na formação dos manipuladores que estavam trabalhando no sistema de delivery ou take way, com o tema de boas práticas aplicados ao momento.

Foi realizado um mapeamento com gastrônomos do comércio de alimentos de rua e, de acordo com as necessidades apontadas, foi elaborado um programa de capacitação dividido em cinco encontros: Legislação Sanitária, Higiene Pessoal, Segurança na Produção de Alimentos, Sustentabilidade na Produção de Alimentos e Custo no Comércio de Alimentos. Inicialmente, previu-se uma turma, mas devido à demanda esse número de multiplicou. A iniciativa alcançou um público total de cerca de 250 participantes, que extrapolaram o município de Niterói e incluíram municípios vizinhos e de outros estados e regiões do Brasil, do Sul ao Nordeste. Em 2021, a ideia é abrir novas turmas.

Outro projeto do curso de Nutrição de grande relevância é o “Atendimento Nutricional e Ambulatorial no Centro de Atenção à Saúde do Idoso e do seu Cuidador (CASIC)”. Fruto de uma parceria com a Escola de Enfermagem da UFF, o programa, coordenado pela professora Renata Frauches Medeiros Coimbra, consiste na realização de consultas nutricionais aos idosos e seus cuidadores, através das quais são colhidas informações sobre sua rotina, principais necessidades, padrão alimentar e possíveis deficiências. Também são realizados exames de antropometria para se conhecer massa corporal, percentual de massa gorda e massa magra do idoso e de seu cuidador, a fim de ser realizada uma prescrição de dieta e acompanhamento nutricional.

Durante o período de isolamento social, o CASIC, também composto pela professora Gabrielle Rocha, por nutricionistas, alunas bolsistas de graduação e pós-graduação e dois residentes da área, deu continuidade ao acompanhamento de alguns idosos através de contato telefônico com sua família ou com o próprio. Esse momento inspirou a equipe de Nutrição a preparar um material informativo que pudesse ser divulgado através de mídia eletrônica. Também foram criados minivídeos (animações) com temas como “Nutrição no envelhecimento”, “Nutrição e COVID-19”, “Como lidar com a ansiedade durante o isolamento social”, “Dicas para fazer um planejamento alimentar durante o isolamento social” e “A importância da higienização de alimentos em época de pandemia”. Adicionalmente, a página do Instagram @nutricaonoenvelhecimento foi criada para que mais conteúdo pudesse ser divulgado de forma rápida.

Nesse contexto de atendimento aos idosos, outro importante espaço que permaneceu ativo durante a pandemia, com equipe multiprofissional e ação interdisciplinar, conjugando diferentes valências dentro do campo da saúde, foi o Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso, também chamado de CRASI. Reconhecido no tratamento do Mal de Alzheimer, o programa confere suporte àqueles que possuem algum grau de demência, procurando dar qualidade de vida, independência e autonomia aos pacientes.

A coordenadora do CRASI, a geriatra Yolanda Boechat, esclarece que desde março de 2020 até agora foram realizadas atividades com o apoio da internet para manter os grupos terapêuticos online. Formaram-se pequenos grupos de até seis pessoas, envolvendo pacientes, alunos pós-graduandos e residentes, na presença de pelo menos um coordenador da atividade, assim como também grupos maiores com todos os pacientes, para que eles não se isolassem uns dos outros. Além disso, explica ela, “de maio para cá estamos realizando um grupo no Google Meet para apoio dos pacientes com demência, a fim de que mantenham as estimulações, e uma vez por mês também está sendo formado um grupo nesta plataforma para apoio aos familiares. Durante todo esse período mantivemos nosso ambulatório aberto para assistir aos pacientes em risco de descompensação e orientar famílias e fazer prescrições de drogas de receita controlada”, enfatiza.

Faculdade de Psicologia: o acolhimento em situações emergenciais

No curso de Psicologia, o destaque foi para o projeto “Psicologia UFF na COVID-19: Suporte psicológico”. Imediatamente após a decretação da quarentena, um conjunto de professores do departamento se reuniu para organizar uma iniciativa visando prestar auxílio emergencial à população. O foco do atendimento eram os profissionais de saúde que estavam na linha de frente de combate ao coronavírus nas unidades de saúde e também pessoas encaminhadas por lideranças das comunidades.

O grupo de professores se dirigiu, então, à prefeitura e a algumas lideranças ou parceiros para dar início aos atendimentos de suporte. Participaram da iniciativa o Coordenador de Saúde Mental de Niterói, Carlos Castro, e sua colega na gestão Stefânia Soares; a professora Andrea Souza, do Departamento de Enfermagem da UFF, atuante na rede de saúde de Niterói; Maria Alice Bastos, assistente social que participa da Associação de Usuários, Familiares e Amigos da Rede de Saúde Mental de Niterói e a assistente social Soyanne (do juizado de violência doméstica de São Gonçalo). Também integraram o projeto 16 professores da psicologia e um técnico psiquiatra.

Foi divulgado um número de telefone através do qual o usuário enviaria sua demanda via mensagens postadas no aplicativo WhatsApp. Os atendimentos foram pensados, primeiramente, lançando-se mão de intervenções breves capazes de criar condições mínimas para o usuário dar contorno às suas angústias diante da crise da pandemia. E, em segundo lugar, fazendo encaminhamentos para grupos quando fosse o caso, no intuito de estimular iniciativas grupais que pudessem fortalecer vínculos de solidariedade entre as pessoas na crise. Tanto em um caso como no outro o atendimento seria por via remota.

O projeto passou por uma adaptação, em meados de junho, resultando num alargamento da oferta. Cartazes afixados nas unidades de saúde se espalharam pelas redes sociais, sobretudo em São Gonçalo, produzindo um incremento na procura pelo atendimento. Durante os quase cinco meses de projeto, foram realizadas reuniões semanais, nas quais os casos eram discutidos e também avaliado o andamento da iniciativa.

Escola de Enfermagem: a gestão do cuidado dentro e fora dos hospitais

A Escola de Enfermagem, parceira do projeto CASIC, com a nutrição, também foi destaque no ano de 2020, abrigando grandes eventos na área, como o que comemorou a Semana de Enfermagem, no dia 12 de maio, cujo tema foi o Ano Internacional do Enfermeiro (a) e o Bicentenário de Florence Nightingale. E o evento Internacional XXVI Semana Científica, que aconteceu nos dias 22 e 23 de outubro, com o tema central “A Enfermagem no Enfrentamento da Pandemia de COVID-19: Panorama Internacional e Nacional das Atividades Acadêmicas de Enfermagem”.

Durante todo o ano, segundo informa o diretor da Escola de Enfermagem Enéas Rangel, os professores da enfermagem foram instigados a serem criativos e a manterem o ensino de modo remoto e o estágio supervisionado no Hospital Universitário Antônio Pedro de modo presencial, bem com as atividades das residências nos espaços assistenciais. Os projetos de extensão envolvendo áreas da saúde da criança e do adolescente, a saúde materno-infantil, a saúde do adulto e do idoso, a saúde mental e do trabalho, da gestão do cuidado, e da enfermagem em saúde coletiva, entre outros, foram realizados de modo virtual e presencial, acolhendo os usuários da saúde, inclusive via telemonitoramento e teleconsultas de enfermagem.

O mesmo aconteceu com relação aos processos educativos voltados à comunidade na prevenção de doenças e promoção da saúde. De acordo com o diretor da Escola de Enfermagem, “esse ano se caracteriza como um marco no contexto do ensino e assistência de saúde, que nos conduz a profundas reflexões, a avaliações de nossas atividades e a pensar num futuro, mesmo que ainda incerto, mas esperançoso”.

UFF integra rede internacional de universidades promotoras de saúde

Outra conquista importante que teve o protagonismo da Escola de Enfermagem, na figura da vice-coordenadora do Programa Acadêmico de Ciências do Cuidado em Saúde, professora Vera Maria Sabóia, foi a certificação da UFF na Rede Ibero-Americana de Universidades Promotoras de Saúde, a RIUPS. Trata-se de uma rede internacional que incorpora centros colaboradores da Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana e Saúde, incluindo universidades e instituições de nível superior, impulsionando a organização de eventos, criando redes nacionais, cartas e documentos fundamentados nos preceitos da promoção da saúde sustentável, identificando práticas e iniciativas inovadoras.

De acordo com Vera Sabóia, com a filiação da UFF a essa rede, o intuito é o de “desenvolver um projeto macro na universidade que fortaleça o compromisso com o bem-estar da comunidade acadêmica e do seu entorno, com ações alinhadas aos princípios da promoção da saúde, organizando ambientes coletivos acolhedores e saudáveis, atividade educativas em saúde, observatórios e laboratórios, uma agenda de eventos, veículos de comunicação e demais atividades que integrem ensino, pesquisa e extensão”, pontua a docente.

O reitor Antonio Claudio da Nóbrega finaliza ressaltando que "estar filiado ao RIUPS significa que a área da saúde faz parte da missão institucional da UFF, que tem como responsabilidade social a promoção da saúde e a qualidade de vida da sua comunidade interna e externa. A implantação do projeto será expandida para todas as áreas da UFF e conta com um movimento amplo que busca nos reafirmar como Universidade Promotora de Saúde".