Expectativa para 4ª edição da Expedição Anamauê que sairá, no dia 25 ou 26 da base da Canoa Polinésia Pataxó, na praia do Parracho, em Arraial D´Ajuda, no sul da Bahia - Imagem Divulgação
Expectativa para 4ª edição da Expedição Anamauê que sairá, no dia 25 ou 26 da base da Canoa Polinésia Pataxó, na praia do Parracho, em Arraial D´Ajuda, no sul da BahiaImagem Divulgação
Por Luciana Guimarães
Niterói - A expedição será das maiores do Brasil com 650 milhas náuticas percorridas até Niterói (RJ), na praia do Jururuba, na base do Centro de Estudos do Mar - CEM - em trajeto inédito percorrendo o litoral sul da Bahia, todo o litoral do Espírito Santo, Norte, Região dos Lagos no Rio de Janeiro com previsão de término entre os dias 10 e 20 de janeiro de 2021. A cada dia serão velejadas e remadas (se preciso) de 30 até 40 milhas náuticas, dias inteiros no mar sem o auxílio de equipamentos eletrônicas, apenas bússola e carta náutica.

Ela será feita por intermédio de uma canoa havaiana V6 adaptada para vela que terá dois mastros como explica Cauê Sekiguchi, que já iniciou os trabalhos de adaptação na base de Arraial D´Ajuda onde a deixará pronta no dia 20: "Tem sido um desafio para adaptar essa canoa por conta do prazo. Será uma canoa com dois mastros, canoa que demanda algumas estruturas de reforço, talvez estaiamento, precisamos nos preocupar com o volume da ama, é algo que terá uma área vélica significativa. Existem velejadores à bordo, mas é uma canoa adaptada à vela, adaptações que temos know-how", disse Cauê que tem a base em Arraial D´Ajuda há três anos e começou no esporte junto com Ranin. Ele se especializou em construção de canoas havaianas e polinésias., hoje possui quatro em sua base para seis e quatro pessoas.

Um dos líderes da 4ª edição da Expedição Anamauê é o capixaba Ranin Thomé, natural de Regência (ES), multicampeão estadual de competições no esporte, que idealizou o desafio com o niteroiense Douglas Moura. Ranin, oceanógrafo, conheceu a Canoa Havaiana durante o período de faculdade, hoje ele tem 10 anos de experiência no esporte e nesse mesmo período montou o primeiro clube que vem se espalhando pelo litoral. Hoje conta com bases por todo o litoral capixaba, coordena a base de Arraial D´Ajuda e de Porto Seguro com Cauê, e ainda tem filiais no litoral paranaense e em Brasília (DF).

"Estamos encarando com muito respeito a expedição pois sabemos que o mar não é injusto, mas é intolerante. É um desafio pois ninguém nunca adaptou uma canoa V6 tahitiano. Ninguém nunca fez esse percurso. Sempre é um desafio. Não nos consideramos aventureiros pois aventureiros são pessoas que fazem sem planejamento. Estamos muito confiantes pois as pessoas que vão e quem faz a canoa trabalham há mais de 10 anos com canoa, a equipe tem muita experiência com travessias. Temos muitos parceiros de bases ao longo do caminho. A comunidade da canoa é muito parceira, que abraça", aponta Ranin que vê os maiores desafios nas chegadas e saídas: "Precisamos embarcar e desembarcar em praias com ondulações, bocas de Rio, parar para dormir todos os dias. Maior perigo é a zona de arrebentação para chegar ou sair das praias".

Bárbara Guimarães, também oceanógrafa, é instrutora de canoa havaiana há cinco anos, esporte que conheceu em um trote ecológico na época da universidade. Ela é professora da base da CPP Extreme em Vitória (ES) dando aulas no período da noite e já realizou diversas expedições de norte até o sul do Espírito Santo desde Regência até Marataízes , além de ter disputado a competições da conhecida Volta de Santo Amaro (SP) e da Volta de Ilhabela (SP) em revezamento com 12 mulheres em canoa de seis lugares. A preparação vem sendo forte: "Os treinos têm sido praticamente diários, estou remando 15km/dia, somando as três turmas que têm no clube. No final de semana faço uma remada de 20km sem parar em canoa individual (V1). Além disso faço Yoga e funcional regularmente. Minha alimentação durante a quarentena é vegetariana e faço jejum intermitente também. Tudo isso associado melhora a resistência física para essa expedição", destacou Bárbara que destacou o aumento do número de mulheres no esporte. Além de Bárbara, a capixaba Dayana Gualberto, de Regência (ES), será outra mulher a participar da expedição: "O esporte vem ganhando popularidade, quantidade praticamente igual de homens e mulheres nas escolas. A vibe que vem dos alunos nas aulas e nos campeonatos estimulam com que as mulheres queiram fazer parte da canoa havaiana, isso é muito positivo".

A 4ª edição da Expedição Anamauê tem ainda três membros do estado do Rio de Janeiro. Douglas Moura, de Niterói (RJ), que realizou diversas expedições, entre elas Niterói (RJ) até Santos (SP) com onze dias no mar, além de ter disputado competições internacionais, o velejador niteroiense Talvo Calfat e o carioca Daniel Gnone, do Rio de Janeiro.

Projetos sociais pelo Espírito Santo e sul da Bahia

A CPP Extreme tem o foco não só de aulas de canoa havaiana, mas o objetivo social. Em dez anos de projeto, milhares de crianças, adolescentes e adultos com vulnerabilidade social, deficiência visual e cadeirantes participaram dos projetos sociais espalhados pelas bases. No momento, por conta da pandemia do COVID-19 são cerca de 200 alunos ativos, 50 somente em Regência (ES).

"A ideia sempre foi trabalhar com projetos sociais em comunidades de vulnerabilidade social e a partir disso escolinhas para manter esse sonho vivo e nos conhecemos na faculdade para montar esse clube e sempre competimos, mas nosso foco principal sempre foram os projetos sociais e realizar travessias. Ao longo desse processo, por nós lutarmos por uma deselitização do esporte, passamos a trabalhar com pessoas de favela, comunidades, cadeirantes, deficientes visuais. E por isso começamos a fabricar as próprias canoas também. Davamos aula nas escolinhas, fabricavamos as canoas e trabalhamos com os projetos sociais."

Há um ano, Cauê montou o projeto social Filhos do Céu em Arraial D´Ajuda o qual vem utilizando canoa comum da aula e vem realizando uma vaquinha virtual para custear uma canoa nova específica para o projeto social que busca estender por mais 10 anos. As doações podem ser feitas pelo link bit.ly/afc-doe-qualquer-valor .


Tripulação:

Douglas Moura, natural de Niterói (RJ), mora em Jurujuba, tem 39 anos, fundador do Icarahy Canoa Clube, Niihau Aventuras Controladas e do Centro de Estudos do Mar. Capitão Amador, co-fundador do Anamauê e desbravador de diversas rotas de navegação de canoa havaiana e polinésia. Ele é atleta de Canoa Havaiana desde 2005. Em competição disputou provas como a Rio VA`A, Santo Amaro, Vendee VA`A (maior da europa e 2ª maior do mundo, na França), Vancouver Island Challenge (Canadá); Lotus VA`A Challenge.

Ranin Thomé, 31 anos, natural de Regência (ES), é oceanógrafo, instrutor e atleta de Va´A, do clube CPP Extreme. Apaixonado por canoa polinésia e com experiência em velejadas, construção de canoas e longas travessias.

Dayana Gualberto, de 33 anos, reside em Regência (ES) . Professora e instrutura de Va´A do CPP Extreme . Idealizadora do projeto social Cablocos para o Planeta , experiências em travessias de vela oceânica e canoa polinésia.

Tavo Calfat, natural de Niterói (RJ), 47 anos, desenhista industrial, velejador desde os sete anos e remador de canoa desde os 2007. Passou boa parte da vida em barcos à vela, já realizou travessias oceânicas e inúmeras travessias menores. Na canoa tem títulos na Volta de Ilhabela (SP) e Rei de Búzios (RJ) onde mora hoje em dia.

Daniel Gomez Gnone, 25 anos, natural do Rio de Janeiro. Engenheiro de Produção. Fundador do Granolas Mauka e remador do Calango Wa´A. Amante da natureza e do Va´A, tendo sido criado em contato com o mar, desenvolve projetos de reciclagem de plástico para a produção de peças para navegação.

Barbara Guimarães, de 29 anos, nasceu em Sto. André (SP), se radicou e, Vitória (ES), é oceanógrafa, instrutora e atleta de Va´A, do clube CPP Extreme . Apaixonada por canoa havaiana e com experiência de longas travessias.

Sobre a Canoa Havaiana

Canoa Havaiana ou Polinésia, são nomes para determinar o esporte que surgiu na região polinésia e que originalmente é conhecido como Va´A, Wa´A ou Waka. A cultura da canoa existe há mais de 3 mil anos e elas foram inicialmente usadas pelos povos polinésios com a necessidade de colonizar novas terras na região polinésia, conjunto de ilhas do Pacífico que incluem Tahiti, Havaí.

Os povos polinésios usavam canoas como meio de transporte entre as ilhas e cada povoado construía suas canoas com características locais. No Havaí, que possui mar agitado, as canoas possuem curvatura de fundo envergada, e no Tahiti, as canoas possuem formato mais alongado e cockpit fechado.

No Brasil a cultura da prática do esporte da canoa havaiana ou polinésia só aumenta no decorrer dos anos para travessias, expedições e competições com destaques para clubes de canoas no litoral do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Somente em Niterói (RJ) são 33 clubes de canoa com cerca de dois mil remadores. No Espírito Santo são 21 clubes, cerca de 1.500 remadores.