A Atriz Claudia Macedo está entusiasmada e ansiosa pela a estreia da próxima produção bíblica da Rede Record.Divulgação/ Foto: Daniel Castro

De uma infância cheia de desafios no Morro do Bumba, no Cubango, na Zona Norte de Niterói, a um papel numa novela. Prestes a estrear em “Reis”, mais uma novela bíblica da Rede Record, Claudia Macedo, de apenas 24 anos de idade, é a personificação de um Brasil feroz. Filha e neta de mulheres trabalhadoras domésticas, ela cresceu sabendo o quão forte é ser uma mulher negra periférica no país.

"Quem diria que aquela menina que não tinha nenhum contato com o mundo cultural teria seu destino traçado nos palcos?", indagou a jovem negra. No espetáculo chamado vida, ela diz que, desde cedo, aprendeu que é preciso muita coragem para enfrentar as adversidades do cotidiano.
“Meu contato com a arte foi libertador. Se eu consigo falar hoje sobre essa tragédia e resgatar algumas memórias que foram interrompidas, é por conta da arte”, ressaltou ela, bastante incentivada pelos pais e pela avó a se dedicar cada vez mais ao teatro, tempo depois do deslizamento de terra que acometeu sua comunidade, quando era adolescente, deixando mais de 250 pessoas mortas, casas destruídas e mais de 3 mil famílias desabrigadas, em abril de 2010.

Há nove anos na arte de representar, Cláudia, apesar de nova, é fonte de inspiração quando o papo é resistência. “Não sei o que me motivou exatamente a trabalhar como uma atriz, mas acredito que foi um encontro de corpo e alma. O teatro apareceu na minha vida, comecei a fazê-lo, trabalhá-lo e a viver dele. É isso que me motiva. Nunca consegui parar e nem quero. Fico inquieta”, revelou a atriz.

Apaixonada pelo ofício, não é necessário conhecê-la há anos ou mais intimamente para saber que a atriz vibra pelo o que faz. “Teatro é sinônimo de coletividade e não se faz sozinho. Ao longo desses anos eu tive a sorte de encontrar pessoas incríveis que me ensinaram muito sobre o fazer teatral. Receber o prêmio de ‘melhor atriz’ e ‘melhor iluminação’ no Festival de Teatro Universitário deste ano, é para mim, um reconhecimento de todos esses anos de muito estudo, trabalho, dedicação e aprendizado. Além da importância do olhar cuidadoso da Pietra e do Fabiano, que assinaram a direção da cena, na construção do trabalho”, afirmou Claudia.


Atenta ao racismo estrutural que abarca o país desde a era colonial, a atriz acredita romper barreiras. “Nós sempre vemos as mesmas pessoas em todos esses lugares, ganhando todos os prêmios, tendo todas as oportunidades, entre outros privilégios que nem precisam ser mencionados. Nos deslocamos da Zona Norte, Baixada Fluminense e fomos para o Teatro Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, levando com a gente nossa arte, nossas raízes, dores e nossas inquietações mediante a esse sistema que nos persegue há tanto tempo. Utilizamos a nossa arte como arma para questioná-lo, acreditando na potência do nosso trabalho”, ressaltou disse a artista.

Sobre sua carreira artística como modelo e manequim, se formou em 2012 e em 2014, na Oficina Social de Teatro. “Eu tive a sorte de ter como professora Erika Ferreira, que me mostrou o mundo através da arte, mais especificamente do teatro. Me formei também no curso de Formação de Atores da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, no Cetep do Barreto, em 2013. E desde 2018 curso na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna”, explicou Macedo.


Desde 2014 Cláudia pertence a Cia Teatral Agromelados (fundada por Erika Ferreira), tendo participado de mais de 30 festivais de teatro por todo o país, passando por Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro. E, há sete anos, integra ainda a equipe do Theatro Municipal João Caetano, como Coordenadora de Palco, gerenciando e organizando questões da área técnica do espaço, dos eventos e da área da produção de espetáculos. Paralelo a isso, a artista também colhe experiências nas áreas de figurino, maquiagem, cenografia, produção e apresentação.


Entusiasmada e ansiosa pelos próximos projetos, como a estreia da próxima produção bíblica da Rede Record, ela salientou. “A arte, dentro de todas as suas linguagens, é para mim uma ferramenta de transformação e de cura. Eu me alimento da arte, vivo dela, para ela e tento multiplicá-la sempre. Meu sonho é exercer o que amo da melhor forma e trabalhar com pessoas que respeitem e acreditem na arte. Um outro sonho também é continuar o que amo sem precisar correr duas vezes mais que outras pessoas para ser reconhecido e valorizado profissionalmente”, desabafou Macedo.