O Instituto Vital Brazil (IVB) reinaugurou sua fábrica.Divulgação IVB - Foto: Rafaela Cassiano

O Instituto Vital Brazil (IVB), localizado em bairro do mesmo nome, da Zona Sul de Niterói, vai reabrir na sexta-feira (15/7) sua fábrica que produz soros contra o veneno de animais peçonhentos para o Ministério da Saúde. Depois de quase seis anos interditada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a instalação obteve o Certificado de Boas Práticas de Fabricação, conquistado pela primeira vez na história, que atesta o cumprimento de todos os aspectos regulatórios preconizado e já dá início aos lotes de soro (anticrotálico), usado no tratamento causado pela picada de Cascavel. 
Nesta entrevista, a diretora-presidente do Instituto, Priscilla Palhano, fala sobre o fato da instituição de ciência e tecnologia do Governo do Estado do Rio de Janeiro ligado à Secretaria de Estado de Saúde ser um dos laboratórios oficiais brasileiros e um dos quatro produtores do país. Ela explicou como foi o trabalho para atender as boas práticas de fabricação e algumas adequações. "Desta forma, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, trouxe para a gestão do IVB a missão de atender a todos os requisitos sanitários", ressaltou Palhano.
Ela ainda disse que, nesta semana, ocorreu o envase que é a etapa final no processo produtivo de soro, quando acontece a diluição final do produto e o soro é envasado na embalagem primária (ampola). "Após esta etapa ocorre a revisão dessas ampolas. Depois vem o processo de acondicionamento nas embalagens secundárias (cartuchos com bulas) e aí sim temos o produto pronto para a comercialização", explica a diretora-presidente. Confira o bate papo:
1) - Jornal O Dia: Quais as principais dificuldades encontradas para reabrir a Fábrica?
Priscilla Palhano:  Os soros hiperimunes são medicamentos injetáveis do tipo intravenoso, desta forma todas as etapas de fabricação exigem níveis altíssimos de limpeza, descontaminação e qualidade tanto do ambiente quanto do produto. Após quase 6 anos de paralisação do IVB, o governador Claudio Castro nomeou nossa gestão com a missão de realizamos imediatamente um diagnóstico para estruturar um plano de ação para a reabertura da fábrica, porém, como todo equipamento parado muito tempo, a fábrica foi uma caixinha de surpresas, pois a cada etapa superada, seus desdobramentos traziam inúmeros problemas novos que somente apareciam quando colocávamos uma área para funcionar. 

2)- Após o cumprimento das exigências à Anvisa, o IVB recebeu duas certificações importantes. Quais foram e o que isso significa? 
PP: Foram as Certificações: De Boas Práticas De Fabricação (CBPF) De Insumos Farmacêuticos Ativos e a de Boas Práticas De Fabricação (CBPF) De Medicamentos. Nos 103 anos de existência, o Instituto Vital Brazil sempre manteve suas operações com Condições Técnico-operacionais (CTO), que são condições sanitárias básicas para funcionamento de uma indústria farmacêutica. A nova inspeção sanitária da Anvisa, realizada nesta gestão, não só desinterditou a planta fabril do Instituto, como também concedeu o CBPF, que é o mais alto nível dos padrões internacionais de qualidade que uma indústria farmacêutica pode atingir.

3) - Qual a relevância da reabertura da fábrica de soros hiperimunes para a população?
PP:  Com a reabertura da fábrica do IVB, a população poderá contar, de forma gratuita, com estes medicamentos nos polos especializados de atendimento, reduzindo o risco de morte e outros tipos de sequelas graves oriundas de picadas de cobra, aranha, abelha, e do contato com os agentes causadores de raiva e tétano. Este abastecimento do SUS, fortalecido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, traz mais segurança para o Ecoturismo, visto que os praticantes de atividades ao ar livres poderão circular com
a certeza de que caso recebam uma picada de animal peçonhento, terão um tratamento eficaz à disposição. 

4) - Como anda as fábricas de soros hiperimunes no país?
PP: Atualmente, no Brasil, existem apenas quatro fabricantes de soros hiperimunes, sendo todos eles Laboratórios Públicos, pois este tipo de medicamento não é produzido pelas indústrias farmacêuticas do setor privado. No entanto, cada um dos quatro fabricantes públicos nacionais encontram suas dificuldades ao longo do processo de fabricação, que vão desde interdição da fábrica à problemas de escalonamento e aquisição de insumos. Desta forma o Sistema Único de Saúde (SUS) encontra-se desabastecido para alguns tipos de soro e caminhando para o desabastecimento para outros tipos.
5) - Cada vez mais estão sendo notificados os casos de acidentes com animais peçonhentos em zonas urbanas, fale sobre.
PP: Isso acontece com o avanço da intervenção humana em áreas de habitat natural destes animais, ocasiona um deslocamento deles em direção aos centros urbanos, em busca de comida e abrigo. Como resultado, nos deparamos com casos de aranhas peçonhentas em apartamentos da Zona Sul, que chegam dentro de caixas de eletro domésticos, cobras encontradas em casas de condomínios próximos a grandes avenidas, e outros tipos de animal silvestres como morcegos, gambás, micos e pacas, que cada vez mais são encontrados em residências urbanas com risco de transmissão do vírus rábico.
6) - Como é ver o IVB voltar a produzir após quase seis anos parado com a mesma referência nacional de sempre?
PP: Para a Gestão do IVB, para os funcionários e colaboradores, e para o Governo do Estado do Rio de Janeiro, é muito gratificante ver a retomada da produção após um ano e quatro meses de muito trabalho. Foram mais de 2.500 (duas mil e quinhentas) intervenções para que pudéssemos alcançar os resultados obtidos no nosso primeiro ano de gestão do Instituto. E quem ganha com isso é a população, que terá acesso aos soros hiperimunes para o tratamento de envenenamento por acidente com animais peçonhentos, além do tratamento em casos de suspeita ou contração de raiva e tétano.
Além de sermos referência no Brasil, nos tornamos referência internacional. Representantes de outros países têm procurado nossa gestão para entender como conseguimos nos adequar às exigências da Anvisa, de modo que também possam receber a liberação para a produção de suas áreas fabris e assim possam exportar seus produtos ou tecnologia farmacêutica para o Brasil. Isso é muito satisfatório, pois trabalho no IVB há tantos anos e essa é a primeira vez que vejo de perto o processo de produção acontecer, dentro dos mais elevados padrões sanitários, o que se refletem da qualidade imposta por nossa gestão e pelos valores sociais traduzidos pelo Governador Claudio Castro em suporte à Saúde Pública.
7) - Quais são as suas considerações finais?
PP: Esse é um momento de festa para a saúde pública. Para este marco da reabertura de nossa fábrica, vamos convidar representantes do Ministério da Saúde, das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, da classe científica, pesquisadores e universitários, a população do entorno e adjacentes, além dos familiares dos funcionários e colaboradores e empresas parceiras. Com a casa cheia, vamos celebrar.