Por bianca.lobianco

Rio - A sede do AfroReggae foi reaberta na manhã desta quarta-feira na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, ainda sob clima de muita tensão. A ONG retomou as atividades 15 após um incêndio que destruiu parte de sua pousada na comunidade. Mas poucas horas antes da cerimônia, a hospedagem foi novamente alvo de pelo menos nove tiros de fuzil.

“Tentaram nos intimidar para que a gente não reabrisse hoje. Mas seria um retrocesso. Se eu disser que não estamos com medo, vou estar mentindo. Só que o processo de pacificação não pode voltar atrás. E o AfroReggae não pode compactuar com isso”, disse o coordenador da ONG, José Junior.

O governador Sérgio Cabral estava tenso durante a cerimônia. E pediu a compreensão dos moradores da comunidade e de toda a população: “A UPP não é perfeita. Se o Amarildo sumiu, vamos atrás do Amarildo. Se o AfroReggae fechou, vamos reabrir. A quem interessa desmoralizar um projeto que não é do meu governo, mas da sociedade? A gente tem que lutar para melhorar o projeto, e não para desmoralizá-lo”.

José Júnior afirmou que tem o apoio do prefeito e do governadorEstefan Radovicz / Agência O Dia

De acordo com os moradores vizinhos à sede do AfroReggae, os tiros desta madrugada teriam sido disparados por traficantes ligados ao pastor Marcos Pereira, preso acusado de estupro e ligação com o tráfico, após ter sido denunciado por José Junior.

“A matemática é simples: grana. Duas ONGs faturavam na favela. A do Júnior e a do Pastor. Se um caiu por causa do outro, a represália não tardaria”, contou um morador.

"Nós não vamos sair daqui. Isso foi uma demonstração de fraqueza e não de força. Eles (os traficantes) queriam intimidar para não abrir hoje. Nós temos o apoio do governador e do prefeito Eduardo Paes", disse José Junior.

Repasse de R$ 3,5 milhões

A prefeitura divulgou nesta quarta no Diário Oficial, repasse de R$ 3,5 milhões ao AfroReggae. A despesa foi despachada pelo secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão. Até a noite de ontem, a Secretaria de Cultura não detalhou o destino da verba. No Diário Oficial, consta que o apoio financeiro é para fins educativos, culturais e sociais.

Wagner Moraes da Silva, 20 anos, acusado de ter incendiado a pousada do AfroReggae, morreu ontem no Hospital Pedro II, onde estava internado sob custódia, após ter 30% do corpo queimado. Ele havia dito à polícia que tentou apagar o incêndio, e era investigado por suposta ligação com o tráfico.

'Movimento é contra líder do AfroReggae', diz Beltrame

O secretário José Mariano Beltrame acredita que os ataques de facções criminosas não sejam contra as UPPs instaladas no Complexo, mas contra o coordenador do AfroReggae. "Nós não podemos esquecer do que tínhamos aqui. A ação do tráfico aqui. A polícia daqui não sai, só aumenta. O movimento é mais contra ele, contra a sua história, mais do que contra a UPP", explicou. 

Aliança entre AfroReggae e Governo do Estado do Rio é selada em reuniãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

O governador Sérgio Cabral afirmou que a política de segurança já foi acertada e acrescentou que quer aperfeiçoar ainda mais as UPPs.

José Júnior disse que vai passar a andar escoltado por seguranças, pois se sente ameaçado desde que denunciou o pastor Marcos Pereira. "Eu não estou seguro desde fevereiro de 2012, quando denunciei o pastor Marcos Pereira. Já estamos numa guerra. Ja está declarado que há uma guerra e querem me matar. Eu tenho receio pelos inocentes", afirmou.


Segundo o coronel das UPPs Paulo Henrique de Moraes, os tiros foram disparados da Favela Nova Brasília, que fica há dois quilômetros da pousada do Complexo do Alemão, na Zona Norte. O autor dos disparos ainda não foi identificado, mas a polícia segue investigando os ataques contra o AfroReggae.

As aulas de música, de dança e outras atividades que o AfroReggae coordena serão retomadas nesta quarta-feira. A pousada, que continua fechada, não vai atrapalhar o serviço social do grupo.

Morre homem suspeito de atear fogo na sede do AfroReggae

O suspeito de atear fogo no prédio do AfroReggaee, Wagner da Silva, morreu na madrugada desta quarta feira. Ele estava internado no Hospital Pedro II, em Santa Cruz e tinha queimaduras graves pelo corpo.

Wagner chegou a ser indiciado pela polícia como autor do incêndio que destruiu a redação do jornal A Voz da Comunidade e parte da pousado da ONG. O incêndio foi na madrugada do dia 16 de julho. Alguns objetos chegaram a ser furtados na ocasião.

Garantia de segurança 

No dia 23, o prefeito Eduardo Paes chegou a se reunir com José Júnior para oficializar a intenção da prefeitura em assumir as dependências da ONG do grupo cultural. Segundo o coordenador do AfroReggae, traficantes os expulsaram da comunidade no dia do incêndio criminoso na pousada e no jornal Voz da Comunidade, forçando o AfroReggae a encerrar suas atividades no local. 

Também no dia 23, o governador Sérgio Cabral assegurou que garantiria a segurança da ONG, caso a equipe retomasse às atividades. 

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