Rio - O Ministério Público do Estado do Rio conseguiu na Justiça a interdição do imóvel da Rua Fonseca, 1.040, e de outros dois locais, todos em Bangu, na Zona Oeste, usados por uma quadrilha envolvida na exploração de caça-níqueis comandada pelo contraventor Fernando Iggnácio.
Um oficial de justiça e policiais militares da área seguem para cumprir os requerimentos cautelares. Os outros imóveis ficam localizados na Avenida Cônego de Vasconcelos, 1.270; e na Rua Agrícola, 696.
Esses endereços foram alvos de operação deflagrada, na manhã da última quarta-feira, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MPRJ e pela Polícia Militar, resultando na prisão de 23 pessoas, entre elas policiais militares, e na apreensão de farto material.
O Ministério Público também pediu a suspensão das atividades da empresa Ivegê, controlada por Fernando Iggnácio, que tinha sede e filiais nesses pontos.
A Rua Fonseca 1.040 é o mesmo endereço onde, em 1994, funcionava a “fortaleza” do contraventor Castor de Andrade, estourada em operação do Ministério Público do Rio. Na época, os promotores encontraram uma “lista do bicho” contendo registros de pagamento de propina.
Chefe dos caça-níqueis leva golpe da própria quadrilha
Poderoso e temido como um dos chefes da máfia dos caça-níqueis no Rio, Fernando Iggnacio caiu em armação tramada por integrantes da própria quadrilha, que montaram farsa para justificar roubo de R$ 700 mil. Parte do plano foi arquitetada em reunião do sargento Sílvio César Lopes Vieira, o Gianecchinni, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com o ex-PM Mário César Aiello Gomes, o Paraíba ou Aiello, na sede da tropa de elite da PM, em Laranjeiras, em março. A ação foi orientada pelo tenente-coronel Marcelo Bastos Leal, o Pastor, chefe da segurança do bando.
O golpe foi revelado em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça para a Operação Perigo Selvagem — às quais O DIA teve acesso com exclusividade. A ação — que prendeu 23 acusados de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, entre eles os dois PMs — foi deflagrada dia 21 pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público e a Polícia Militar. Dois outros envolvidos estão foragidos, entre eles Iggnacio.
O assalto ao ‘cofre’ do chefão foi dia 2 de março, em ‘bunker’ usado só para guardar dinheiro, em endereço ainda não identificado. Para não levantar suspeitas, o grupo envolvido decidiu montar um álibi. Inventaram, então, que o sargento Sílvio César fazia o transporte dos valores em um Gol, quando foi cercado por homens armados, reagiu a tiros, foi ferido na perna e ficou sem o dinheiro. Para compor a farsa, Fábio Luiz de Andrade Pereira, o Baia, bateu de propósito com o carro que teria sido usado por Sílvio César.
Segurança 24h e alarme
A quadrilha de Fernando Iggnacio trata o segundo ‘bunker’ do bando — de onde sumiu o dinheiro — como casa da ‘Velha’ ou ‘Tia’. O primeiro é a Rua Fonseca 1.040, em Bangu, Zona Oeste, conhecido como a fortaleza do bicheiro Castor de Andrade, já falecido, sogro de Iggnacio. O endereço já fora investigado 19 anos atrás.
Na casa da ‘Velha’, o bando guarda o pagamento dos integrantes do grupo. Fora, a segurança é reforçada 24 horas e, dentro, há sistema de alarme. No roubo dos R$ 700 mil, porém, a segurança nada percebeu e o alarme ficou em silêncio. Com medo de represálias, como mortes e demissões, o bando forjou o assalto para justificar o sumiço da quantia.
Pai de santo alertou oficial sobre prisão
Apontado como chefe da segurança de Fernando Iggnacio, o tenente-coronel Marcelo Bastos Leal, o Pastor, desdenhou dos búzios. Um pai de santo previu que ele seria preso, mas o oficial não acreditou, o que acabou acontecendo quarta-feira.
O sinal das entidades sobre a prisão foi registrado em escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça no início do ano. A conversa espiritual aconteceu entre Andreia Melo Conrado, amante de Pastor, segundo o MP, com homem identificado como Alessandro, em 17 de janeiro.