Rio - O relógio marcava oito da manhã quando Beto Neves, dono da grife Complexo B, ligou para a casa da mãe, Linete, em São Gonçalo, a fim de falar com a sobrinha, Manu, de 22 anos, com quem trabalhava. Três horas mais tarde, resolveu passar por lá, onde as duas moravam, e as encontrou mortas, junto a Rafany, noivo de Manu, na cama de um dos quartos.
“Ninguém vai trabalhar hoje, não, é? É por causa do frio? Que vida mansa vocês têm, hein?”, brincou Beto ao chegar, ainda na calçada da pacata Travessa da Cruz, no bairro Venda da Cruz. Sem ouvir resposta, subiu a escada e entrou na casa. Quando viu a cena, se desesperou. A primeira coisa que veio à cabeça foi pedir ajuda pelo Facebook: “Acabo de perder mãe e sobrinha. Assassinato. O que fazer, meu Deus?”, postou Beto na rede social.
Linete Louback Neves, 65 anos, Manuella Neves da Câmara Coutinho Bouri, 22, e Rafany Pinheiros, 23, levaram pelo menos um tiro na cabeça de revólver calibre 38. Desconcertado, Beto não sabia o que fazer ou falar. Estava em estado de choque.
“Não sei o que foi, não faço ideia. Não tem nada de vingança. Somos de família humilde. Deve ter sido roubo. Só levaram os celulares”, dizia o empresário, atônito.
A irmã de Beto, Rosilene Neves, 44, que perdeu mãe e filha na tragédia, também estava abalada. Mas tinha outra explicação para a tragédia, que era a mesma dos policiais que viram a cena do crime e estão investigando.
“Só pode ter sido vingança por alguma coisa, mas não sei do quê. Deram tiro em todo mundo e não levaram nada”, disse Rosilene.
Sobrinha de Beto vinha recebendo ameaças
O delegado da Divisão de Homicídios de Niterói, Wellington Vieira, revelou que Manuella estaria recebendo ameaças de um advogado que seria ex-marido da mãe. Beto Neves, no entanto, não acredita nessa hipótese. “Por mais psicopata que ele seja, acho não seria capaz de uma coisa dessas”, disse o empresário.
Wellington Vieira pediu a ajuda dos vizinhos para tentar encontrar o assassino.
“Pelas investigações, o autor do crime bateu na porta, entrou, conversou com as vítimas, ameaçou, levou todos para um cômodo e os matou”, disse.
São Jorge na porta de casa
São Jorge é a marca registrada da grife Complexo B, que há 20 anos estampa em suas camisetas a imagem do santo guerreiro sobre o cavalo branco matando o dragão com sua lança. A imagem de São Jorge também enfeitava a porta da casa onde viviam Linete e Manuella, em São Gonçalo. E chamava a atenção de vizinhos e curiosos, dando um tom ainda mais dramático à tragédia.
“Essa coroa (Linete) era nota 10. Não havia quem não gostasse dela. A Manu também. Infelizmente, São Jorge não conseguiu matar esse dragão”, disse uma das vizinhas, aos prantos.