Por bianca.lobianco

Rio - A 17ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) ofereceu denúncia, com pedido de prisão preventiva, contra Márcio Nepomuceno dos Santos, o “Marcinho VP”, e contra o pastor Marcos Pereira da Silva, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, pelo crime de associação para o tráfico.

Segundo o promotor Alexandre Murilo Graça, a associação dos denunciados para o tráfico de drogas começou em 1993, época em que Marcos Pereira fazia trabalho de evangelização em presídios, delegacias e comunidades dominadas pelo tráfico. Paralelamente, Márcio Nepomuceno começava a crescer na estrutura do “Comando Vermelho”, organização da qual é hoje um dos principais chefes.

No início, Marcos agia como “pombo correio”, levando ordens de chefes do tráfico que estavam presos para as comunidades onde atuavam, aproveitando-se do fato de ter acesso aos presos como pastor. Nas comunidades – principalmente nos complexos do Alemão e da Penha – outros religiosos eram ameaçados e impedidos de realizar seus cultos, o que fortalecia a igreja do pastor.

Templo como esconderijo para traficantes

A Promotoria acusa o pastor de utilizar os templos da igreja como esconderijo para traficantes e paiol para armas da organização criminosa. Além disso, “sob o manto de estar fazendo um serviço de ressocialização de criminosos”, convencia fiéis a esconder traficantes e a depor a seu favor.

No início dos anos 2000, o pastor passou a promover filmagens de supostas ações de resgate, nas quais ele aparecia para salvar alguém que havia sido condenado à morte pelo tráfico, para convencer outro a abandonar o vício ou para conter uma rebelião em alguma cadeia.

“Na verdade, os traficantes participavam da simulação e os viciados recebiam drogas e dinheiro do próprio Marcos para participarem da encenação”, diz a Promotoria.

Depoimentos colhidos pela Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) revelaram que diversas rebeliões no sistema penitenciário – como a que ocorreu em 31 de maio de 2004, na Casa de Custódia de Benfica, na qual foram assassinados diversos integrantes da facção rival “Terceiro Comando” – eram usadas para fortalecer o poder do pastor e sua projeção na mídia. “Além da teatralização da ‘rendição’, Marcos tinha incumbência de relatar o que estava acontecendo do lado de fora (dizer quais os planos das autoridades) e repassar ordens para os membros da quadrilha que não estavam presos”, destaca um trecho da denúncia.

Pastor levava ordem dos traficantes às comunidades

Em 2006, o pastor atuou, segundo a Promotoria, recebendo ordens dos presídios e levando-as às comunidades, durante os ataques contra a população civil e os policiais, nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, como forma de protesto contra o programa de isolamento das lideranças em presídios federais, com a implantação do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Em razão da prisão do pastor Marcos, traficantes liderados por Bruno Eduardo da Silva Procópio atacaram a sede da ONG AfroReggae, como represália, com a autorização de Luiz Fernando da Costa, a pedido de Márcio dos Santos Nepomuceno. A ação foi encaminhada à 43ª Vara Criminal da capital.

Você pode gostar