Por thiago.antunes

Rio - Um dos xodós da Secretaria de Estado de Segurança, o Regimento de Polícia Montada Coronel Enyr Cony dos Santos (RPMont), em Campo Grande, teve o efetivo reforçado, e o plantel de equinos, dobrado, passando de 155 para 310 animais. Por conta disso, é cada vez mais comum ver cavalos e cavaleiros substituindo os temidos caveirões (blindados) do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e o armamento não-letal do Batalhão de Choque em processos de pacificação de favelas e na linha de frentes de protestos nas ruas, respectivamente.

“Com a aproximação de grandes eventos, como a Copa do Mundo, a tendência é que esse contingente aumente ainda mais”, afirmou o comandante do regimento, tenente-coronel Anderson de Souza Maciel. Este ano, 155 cavalos, todos da raça lusitana (mais altos e resistentes), foram adquiridos através de pregões eletrônicos por R$ 1,1 milhão, valor financiado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

Animais passam por treinamento ‘linha dura’ no quartel do regimento%2C em Campo GrandeEstefan Radovicz / Agência O Dia

“Vamos nos tornar o símbolo da pacificação das favelas”, vislumbra o oficial. “Sem disparar um tiro e sem ostentar armas de grosso calibre, a nossa cavalaria já participou de pelo menos 172 ações no primeiro semestre deste ano. Em 60% delas fizemos apreensões de drogas e armas e em 40%, prisões de criminosos”, garantiu Maciel.

Os números significam o dobro de ocorrências ao longo dos últimos três anos somadas. Recentemente, o RPMont participou de importantes operações, como a ocupação do Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, no dia 2, e no controle de tumultos em passeatas. Dos 310 cavalos, 60 foram treinados para a linha de frente em casos de extrema violência. Outro 20 estão sendo preparados para o mesmo propósito. Anderson explicou que os demais cavalos são aplicados em patrulhamento de rotina em favelas pacificadas.

Colunas de fogo, spray de pimenta e fortes explosões

O treinamento dos cavalos ‘linha-dura’ do RPMont é puxado. Diariamente, na sede do regimento, os animais passam por situações que enfrentam em confrontos nos morros ou no Centro. Os equinos saltam colunas de fogo, atravessam densas nuvens de fumaça, água e spray de pimenta, desviam de rojões de fogos de artifício e aprendem a se acostumar com fortes explosões.
“Por isso se comportam melhor nas ações, com rapidez, flexibilidade e coragem”, justifica o tenente-coronel Anderson.

Equino e policial militar usam vários equipamentos de proteção%3A ideia é evitar e minimizar impactosEstefan Radovicz / Agência O Dia

Para suportar impactos, altas cargas de estresse e condições climáticas adversas, os bichos usam equipamentos de proteção nos olhos, focinho, tornozelos e anca. As ferraduras têm o dobro de espessura em relação às convencionais e aliviam os cascos do calor e imperfeições do asfalto.

A alimentação, por sua vez, é balanceada. “A ração foi criada por um grupo de veterinários da PM e encomendada a uma empresa. Consomem 6 kg de ração por dia, além de 12 kg de capim e 50 litros de água com isotônico por dia”, explica o tenente-veterinário Roberto Gonçalves. Já os cavaleiros PMs usam fardas especialmente confeccionadas, dos pés à cabeça, que suportam impactos, como pedradas.

Equoterapia vai beneficiar quase 180 famílias de graça até dezembro

O RPMont informa que atende a todas as exigências da legislação de saúde animal. Uma vez por semana, os cavalos folgam e ficam soltos em pastos. Após atuação em conflitos, no dia seguinte também são dispensados de trabalhar e ganham mimos como fartas porções de cenouras e doces. Nos banhos, xampu e sabão de coco não faltam.

Todos são identificados por números, com informações sobre vacinas, idade e características. Os cavalos que estão prestes a se aposentar, perto dos 24 anos, são aproveitados no Centro de Equoterapia RPMont, para pessoas com necessidades especiais.

“Setenta e oito famílias são beneficiadas. Há outras 100 na fila de espera. Nosso plano é atender, de graça, todas elas até dezembro”, diz o tenente-coronel Anderson, mostrando cinco consultórios que estão sendo construídos por moradores de Campo Grande no regimento.

“O contato com cavalos me dá equilíbrio no tronco e firmeza nos braços”, revela o fuzileiro naval Vinícius Pontes, 33, que ficou paraplégico em 2003 num acidente de moto.

“Meu filho (o autista Ismael, 7) está mais calmo, atencioso e começou a balbuciar palavras”, comemora Dalila Silva, 39. “É emocionante ver crianças e adultos se recuperando”, diz o tratador voluntário Kleber Schapett, que tem sequelas de paralisia infantil na perna esquerda. Em breve, o RPMont vai abrir cursos de tratador e ferrador, profissões extintas, em favelas pacificadas.

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