Rio - Um grupo acusado de fraudar vistorias, perícias e processos de liberação de veículos no posto do Detran em Duque de Caxias foi desarticulado nesta quinta-feira, garantiram a Polícia Civil e a corregedoria do órgão. Catorze pessoas devem responder por formação de quadrilha, falsidade ideológica e corrupção ativa. Elas prestaram depoimento e vão responder em liberdade.
A ação envolveu 70 agentes e foi comandada pelo corregedor do Detran, David Anthony, e pelo delegado-titular da 62ª DP (Imbariê), Marcelo Ambrósio. A Justiça expediu 35 mandados de busca e apreensão para serem cumpridos na capital, Baixada e interior do Rio. Doze suspeitos foram denunciados, sendo que nove trabalham no Detran (um funcionário e oito prestadores de serviços) e três são revendedores de automóveis. Outros dois servidores do Detran acabaram detidos em flagrante na ação.
Na operação desta quinta-feira, no posto de vistoria em Duque de Caxias, agentes flagraram um carro em condições precárias deixando a unidade. O motorista afirmou que havia pago R$ 300 ao vistoriador Diego Fabiano da Conceição da Silva para ter o veículo liberado. No laudo, constava numeração diferente do motor do carro. Diego Fabiano foi um dos dois presos em flagrante, acusado de falsidade ideológica. Casos de veículos registrados com documentos de pessoas mortas também foram descobertos na operação.
Quando chegou no posto para trabalhar, Bruno Gomes, de 23 anos, um dos responsáveis pela liberação da vistoria, também foi preso em flagrante. A polícia encontrou na mala do carro dele, no estacionamento, uma tabela de preços para diversos tipos de fraudes, além de inúmeros laudos de vistoria de gases do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Ele recebeu voz de prisão assim que a corregedoria identificou que os laudos preenchidos em seu carro não constavam na base de dados do Detran.
Documento era entregue em casa
Segundo David Anthony Alves, corregedor do Detran, além dos carros liberados sem condições de circular, algumas pessoas compravam e recebiam os documentos em casa: “Eles não precisavam sequer levar o carro ao posto de vistoria”, afirmou David Anthony.
Já o delegado Marcelo Ambrósio relatou o caso que mais chamou a atenção dele:
“Pegamos uma van que fazia o trajeto de Xerém para o Centro de Duque de Caxias. O carro não estava em condições de circular, totalmente precário. O motorista bateu o veículo e uma criança de nove meses morreu. Quando vistoriei os documentos, eles estavam todos fraudados como se o motorista estivesse com tudo regular”, contou.
Denúncias de motoristas foram o ponto de partida para a investigação
As investigações começaram há um ano, e as supostas irregularidades foram descobertas pela Corregedoria do Detran a partir de denúncias de motoristas que perceberam as fraudes quando levaram seus carros para a vistoria.
De acordo com o corregedor David Anthony, uma sequência de denúncias chegou ao conhecimento do setor sobre a cobrança de propinas, entre R$ 50 e R$ 300, para a liberação de veículos irregulares.
“A partir da deflagração das ações penais, a Corregedoria do Detran vai ampliar suas ações, identificando outras pessoas envolvidas no âmbito administrativo”, prometeu David.