Moradores e comerciantes reclamam de explosões. Até prédios públicos na área apresentam problemas
Por tamyres.matos
Rio - As explosões diárias realizadas nas obras do Porto Maravilha, na Praça Mauá, têm estremecido o dia a dia de quem mora ou trabalha na região. Moradores, comerciantes e funcionários se queixam que, após as obras, casas, estabelecimentos comerciais e até prédios públicos apresentam fissuras e rachaduras. Eles afirmam que as explosões acontecem em qualquer horário, chegam a sacudir as paredes e pisos e, além de assustar, causam prejuízos materiais.
Além dos abalos nas estruturas, moradores e comerciantes reclamam da falta de comunicação e de assistência por parte do Consórcio Porto Novo, que administra a obra. No dia 17 de novembro, às 23h, parte do teto de um bar na Rua Sacadura Cabral desabou após uma explosão. Ninguém se feriu. No dia seguinte, João Armando, de 67 anos, dono do bar, ligou para a concessionária e abriu um protocolo. Ele conta que até hoje ninguém visitou seu bar. “Precisei colocar um toldo para evitar que escombros caiam sobre os clientes. Fiz um orçamento e a reforma vai custar R$ 16 mil”, lamentou.
Moradores tanto da Sacadura Cabral quanto das ruas do Escorrego e Eduardo Jasen contam em suas paredes as rachaduras e rebocos caídos. Rita de Fátima, costureira que mora há três anos em frente à obra, diz que perdeu uma máquina de lavar por causa de uma explosão. O prédio, com 36 apartamentos, tremeu e o telhado de sua área caiu e danificou o eletrodoméstico. “A cada explosão é um medo. Seja de perder mais alguma coisa, abrir outra rachadura ou o prédio cair”, disse.
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No imóvel onde funciona o laboratório de análises da Receita Federal, na Avenida Rodrigues Alves, a fachada está cercada por fita de interdição da Defesa Civil. Segundo funcionários, o fechamento seria por conta de fissuras.
A Defesa Civil também teria notificado a Superintendência Regional da Polícia Federa sobre o risco de desabamento em seu prédio, na mesma rua. Procurados pelo DIA, os dois órgãos não responderam sobre os problemas. A Defesa Civil informou que “até o momento, não foram identificados na região imóveis com risco iminente de desabamento, apenas com pequenos danos como fissuras ou rachaduras.”
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Em nota, a Concessionária Porto Novo informou que “são realizadas vistorias cautelares nos imóveis no entorno”, que “mantém contato contínuo com os moradores da região” e que “possui uma área para o atendimento de demandas específicas, tratando cada caso pontualmente após visita técnica.”
Laudo avalia rachaduras em museu
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No prédio da Superintendência da Polícia Federal, na Rodrigues Alves, um agente contou que há rachaduras com até dois dedos de largura na academia usada pelos policiais. Segundo ele, a Defesa Civil teria notificado o órgão sobre possíveis riscos de desabamento.
“Realmente a situação é grave, até porque já estamos em preparativos para a Copa do Mundo e, se tiver que evacuar o prédio, haverá sérios prejuízos”, conta o agente, que pede para não ser identificado.
O Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado há menos de um ano, também apresenta rachaduras, mas, segundo a assessoria, uma análise estrutural não relaciona o problema às obras na região. Aberto ao público como o “símbolo da revitalização da Região Portuária”, o imóvel teve paredes trincadas em outubro, na área técnica e no hall de saída do pavilhão de exposições.
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Segundo a assessoria do museu, o projetista da edificação e uma empresa especializada fizeram análises. O laudo apontou que as trincas são na parte de alvenaria e não oferecem risco às estruturas, funcionários e visitantes. O documento informa que o motivo das rachaduras seria a acomodação do solo após a construção, já que os dois locais foram erguidos em épocas diferentes.