Por thiago.antunes
Rio - O sotaque é nordestino. Antes de falar, costuma abrir largo sorriso e dizer: ‘Rapaaaz!’, como se buscasse pausa antes de contar uma história. Preso no Ceará, Luiz Ricardo Vitorino da Silva, o Menor do Grotão, traficante acusado de envolvimento em assassinatos no Morro do São Carlos, no Estácio, não sai do personagem criado por ele mesmo para fugir do mundo do crime, onde passou a ser perseguido por antigos comparsas. Segundo a polícia, traficantes da facção Amigos dos Amigos (ADA) estariam oferecendo um ‘prêmio’ de R$ 200 mil pela morte dele.

Em Nova Russas, no Ceará, construiu uma nova identidade para fugir do próprio passado. Lá, era Alex Costa do Nascimento, um homem que se preparava para se tornar lutador de MMA e trabalhava como agenciador de seguros para DPVAT, com RG, CPF, certificado de reservista e até carteira de trabalho. Embora tentasse esconder, ele ainda exibia as cicatrizes do passado que o perseguiu até o interior cearense, onde foi capturado por agentes da 6ª DP (Cidade Nova), na quarta-feira.

Menor do Grotão na 6ª DP (Cidade Nova)%2C pouco antes de ser levado a Bangu%3A ‘Minha vida agora é outra’Carlo Wrede / Agência O Dia

Luiz Ricardo diz ter uma bala alojada no pescoço há mais de sete anos. Também tem marcas de tiros no antebraço direito e na perna esquerda. Mas desconversa logo, reproduzindo uma frase repetida sempre que o assunto é o seu passado: “Rapaz, deixa isso pra lá. Minha vida agora é outra.” Uma vida registrada em vídeos de lutas, apreendidos no computador da casa dele, no Ceará.

“E o vencedor, por decisão unânime, é Alex Carioca”, anuncia árbitro de uma luta de muay thai.
No fim da entrevista ao DIA, ontem à tarde, na delegacia, ele foi advertido por outro preso, próximo à cela. “Aí, tu é um comédia! Vacilão!”, gritou, incomodado pela conversa com a reportagem. Luiz Ricardo desfez o sorriso e olhou no rosto do outro detento. Mas não esboçou reação. “Isso é viciado. Deixa ele falar”, sorriu, mais tarde.

Aliás, o sorriso só deu lugar a um ar de preocupação quando ele estava prestes a ser levado da delegacia para o Complexo Penitenciário de Gericinó. “Aquele rapaz vai comigo, né?”, perguntou, apontando para um policial que portava um fuzil. Alvo de traficantes, ele irá acertar as contas com o passado atrás das grades, numa cela isolada.

Bandido teria participado do assassinato de jovens

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Menor do Grotão possui seis mandados de prisão por homicídio e tráfico de drogas. Ele é um dos suspeitos da execução de três jovens, levados por militares do Exército do Morro da Providência para o Morro da Mineira, em 2008. 
O acusado era o homem de confiança do traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, preso em 2011, chefe do tráfico no São Carlos. Segundo a polícia, Menor do Grotão participou de guerra entre facções rivais que deixou 25 mortos. Ele tinha cinco namoradas no interior do Ceará. Entre elas, uma aspirante a policial militar, que seria noiva de um capitão da PM cearense.
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Policiais infiltrados em academia
Agentes da 6ª DP (Cidade Nova) ficaram três dias em Nova Russas, no Ceará, à procura de Menor do Grotão. Policiais chegaram a se infiltrar na academia onde ele treinava, à procura de informações que pudessem levar ao seu paradeiro. Segundo a polícia, o traficante deixou o Rio após a pacificação no Morro do São Carlos, em 2011.
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“Ele fugiu, porque era conhecido e tinha muitos inimigos”, disse o delegado Antenor Lopes, que coordenou a ação no interior do Ceará. Menor do Grotão disse ter deixado para trás uma companheira e três filhos pequenos no Rio, quando decidiu se mudar para a cidade que fica a 300 quilômetros da capital Fortaleza. O destino foi a cidade de origem de um amigo, de 50 anos, a quem ele costuma chamar de pai. Ele foi à delegacia, ontem à tarde, para oferecer auxílio.
Varredura na Pavuna e Maré
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As polícias Civil e Militar fizeram ontem operações no Morro do Chapadão, na Pavuna, e no Conjunto Esperança, na Maré. Dois homens foram presos, incluindo um chefe do pó, e 500 kg de maconha apreendidos em favelas dominadas pelo Comando Vermelho (CV).
Policiais da Companhia Destacada da Pavuna, que pertence ao 41º BPM (Irajá), prenderam Fábio Genuíno Frazão, o Jamaica, de 36 anos, apontado pela polícia como o chefe do Chapadão, e Marcos Pablo de Souza, de 19.
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Jamaica foi capturado na Estrada do Camboatá num Renault Sandero clonado, com granada e identidade falsa.  Na Maré, agentes da 39ª DP (Pavuna), com apoio do Batalhão de Operações Especiais (Bope), apreenderam meia tonelada de maconha. Ninguém foi preso.
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