Rio - A coluna é fã do Catete e da Copa do Mundo. Além disso, compartilha do sentimento de que uma rua enfeitada alegra a alma da gente. Portanto, foi coberta de motivos que abriu sua janela, semana passada, para enaltecer o esforço da galera da Rua Buarque de Macedo. Em apenas duas semanas, ela vestiu a ‘calle’, como dizem nossos hermanos da Latinoamérica, tão presentes em nossas vidas nos últimos dias, com as cores do Brasil. A vizinha Corrêa Dutra foi citada como a única ‘rival’ do bairro a também se enfeitar para a Copa. Em simpático e-mail a este escriba, a turma da Corrêa descreveu como se mobilizou para a tarefa. E cabe aqui um saudável ‘direito de resposta’.
Para começar, Jorge Pulmão, um dos organizadores da galera da Corrêa, garante que, ao contrário de boatos que rolam pelo Catete, a decoração não teve patrocinador. Foi com doações de moradores e comerciantes que a turma comprou material para enfeitar o trecho que vai da Rua do Catete à Praia do Flamengo. E Jorge dá detalhes: a mais jovem doadora é a Geovana, de 7 anos, que mora no número 24, e a mais velha é a Dona Délia, de 77 anos, moradora no número 88. Quem dera os gastos da Copa tivessem uma prestação de contas assim, na ponta do lápis...
Bem que a turma tentou que a parte de cima da Corrêa, entre as ruas do Catete e Bento Lisboa, também se mobilizasse. Mas não teve jeito. “A gente fez uma carta, tipo um ofício, aos moradores e comerciantes, pedindo ajuda para a decoração. Mas só a parte da praia se mexeu”, lembra Michele Souza, uma das organizadoras da turma, por sinal formada em sua maioria por mulheres. Nas Copas passadas, não foi assim. “Todo mundo se mobilizava. Dessa vez, começamos só com umas dez pessoas, mas fomos contagiando os outros com nossa alegria, e aí foi crescendo. Trabalhamos dois meses para deixar a rua como está”, diz Michele.
Duas coisas se destacam na decoração da Corrêa. Uma é o caráter eclético. Os painéis pregados nos postes homenageiam desde o atacante Fred ao Zé Carioca, de Pelé a Ayrton Senna, de Zagallo ao Capitão América ‘do Sul’. Há um painel que saúda outro ícone carioca, do qual a coluna também é fã, mas que amarga o descaso do poder público há mais de três anos: o bonde de Santa Teresa. Um Felipão com pinta de ministro Aldo Rebelo, Parreira e Murtosa são os motorneiros do bonde. Esperamos que eles não nos tirem dos trilhos.
Outro destaque foi a dedicação dos ‘convocados’. Nada de chinelinho. Michele, por exemplo, varou madrugadas decorando a rua. Murilo, que é funcionário da Sampés Calçados, lá no número 12 da Rua Marquês de Abrantes, largava do trabalho às 19h30 e ia direto para a Corrêa desenhar e pintar painéis.
E o cara mora na Penha! Tinha também o Dente, que mora na Rua Tavares Bastos, mas não ia negar fogo aos coirmãos. Aos dois artistas se juntaram os locais Maurício, morador no 55 da Corrêa, e Edgar, porteiro do prédio número 15. Dois bandeirões de 15 metros pendurados entre os edifícios são testemunhas: se o nosso hexa não vier, não terá sido por falta de garra desse escrete.
Só uma coisa preocupa. O Jorge Pulmão está querendo pendurar as chuteiras. “Esta é a última Copa com a minha liderança, já tenho 51 anos e estou passando a bola para a Michele, uma amiga e guerreira”, diz ele. A coluna vai fazer coro com muita gente da Corrêa: fica, Jorge! Uma tradição como essa precisa de gente como você para não se perder.
'Rua da Copa'
Com nota 10 em todos os quesitos, a Rua Jaguaré, em Austin, foi a vencedora do concurso ‘Rua da Copa’, promovido pelo DIA e pela Prefeitura de Nova Iguaçu. Em segundo lugar ficou a Rua Marco Antônio, em Caiçara, e em terceiro a Travessa Leonor, em Comendador Soares. A festa das campeãs é destaque hoje do caderno Baixada do DIA. A coluna, que também é fã de carteirinha da Baixada, aplaude de pé.