Rio - A sala do apartamento do aposentado Antonio de Almeida, de 66 anos, respira o clima de Copa do Mundo. Na parede, um quadro em 360 graus do Maracanã. Bandeiras do Brasil estão penduradas em todas as janelas. E um varal com pedaços de plástico em verde e amarelo dá o toque final da decoração. Ideia da mulher dele, a aposentada Ítala Regina Silva de Almeida, 64. Com o controle remoto na mão, Antonio é o encarregado pela programação da TV, que exibe todos os dias jogos do Mundial.
Uma rotina mantida há duas semanas, desde a estreia da Seleção Brasileira contra a Croácia. Mas que está prestes a ter uma ruptura. É que amanhã, pela primeira vez, haverá uma pausa na competição, só retomada no sábado, nas oitavas-de-final. Fissurado pela competição, Almeida encontrou uma solução para minimizar os efeitos da “ressaca” causada pela pausa na Copa: irá assistir às reprises dos jogos.
“As pessoas perguntam o que eu ganho com isso. Só a emoção. Estou vivendo intensamente essa Copa. E já estou começando a sentir saudade”, diz Almeida, que coleciona cadernos de esportes de todos os dias do Mundial.
Assim como o aposentado, o engenheiro Daniel Celli, 33, também entrou de cabeça no espírito da Copa. E irá aproveitar o primeiro dia sem jogo para descansar. “Porque o jogo do Brasil é mais cedo no sábado. Então, vou dormir bem para começar os ‘trabalhos’ logo de manhã”, sorri, ao se referir à rotina de ver os jogos bebendo cerveja nos bares com os amigos.
Desde que a Copa começou, ele engordou quatro quilos ao trocar a academia pelos botecos. Quando não está no bar, Celli vê os jogos em casa, conciliando o trabalho como consultor autônomo com o futebol. Antes de uma reunião de trabalho, o cliente projetava a imagem de um dos jogos num telão. “Depois, todo mundo queria saber o resultado da partida. Assistir aos jogos é uma forma de quebrar o gelo nessas reuniões”.
Aliás, não são só os brasileiros que respiram futebol. Embora não seja um fanático pelo esporte, o francês Pascal Rubio, 50, que mora há duas décadas no Rio, reconhece que absorveu o espírito do Mundial. O envolvimento aumentou depois de trabalhar como tradutor para um grupo de jornalistas argelinos, às vésperas da Copa. “Não esperava me envolver tanto”, admite o francês, que irá aproveitar o dia sem jogo para ir ao supermercado.
‘Quero conhecer a cultura do país’
À primeira vista, Suíça e Honduras, ontem à tarde, parecia ser um jogo sem atrativos. Não em um dos bares da Cobal do Humaitá, onde dois sujeitos com a camisa da seleção suíça levantaram das cadeiras onde estavam acomodados para saber como poderiam ver o jogo, após o garçom trocar o canal para o jogo entre França e Equador.
Desfeito o mal-entendido, o cientista político Daniel Kaelin, de 32 anos, e o bancário Romualdi Hesson, 35, passaram a acompanhar a partida com atenção. E, após o primeiro gol na vitória de 3 a 0 da Suíça, vibraram como se estivessem assistindo a uma decisão. Hoje, eles estarão nas arquibancadas do Mané Garrincha, em Brasília, para ver Portugal e Gana. No dia seguinte, a pausa nos jogos será aproveitada. “Não é só futebol. Queremos conhecer a cultura do país”, diz Kaelin.