Por felipe.martins

Rio - O escritor, jornalista e acadêmico João Ubaldo Ribeiro morreu ontem, aos 73 anos, em sua casa, no Leblon, Zona Sul do Rio, vítima de uma embolia pulmonar. Ele passou mal de madrugada. A família chegou a pedir ajuda médica, mas não houve tempo para socorrê-lo. O corpo do escritor baiano foi velado na Academia Brasileira de Letras (ABL), que decretou luto de três dias. O enterro acontece neste sábado, às 10h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

João Ubaldo escreveu mais de 20 livros%2C entre eles ‘Sargento Getúlio’%2C ‘O Sorriso do Lagarto’%2C ‘A Casa dos Budas Ditosos’ e ‘Viva o Povo Brasileiro’Efe

Em maio passado, João Ubaldo esteve internado durante cinco dias no Hospital Samaritano devido a problemas respiratórios. Segundo Valéria dos Santos, secretária do escritor por dez anos, os médicos pediram que ele parasse de fumar imediatamente. Ele reduziu os cigarros, mas não parou. Há um ano e meio, o imortal se dedicava a um novo romance.

Em nota, a presidenta Dilma Rousseff prestou solidariedade à família do escritor. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também lamentou a morte de João Ubaldo: “O Rio de Janeiro perde um carioca de coração”.

Muito emocionada, a viúva Berenice de Carvalho Ribeiro acompanhou o velório ao lado dos filhos, Bento e Francisca, além do irmão do escritor, Manoel Ribeiro Filho. João Ubaldo também é pai de Emília e Manuela, frutos do seu primeiro casamento com Mônica Maria Roters.

Artistas como Fernanda Torres, Maria Zilda, Antônio Pedro e o dramaturgo Domingos de Oliveira foram prestar as últimas homenagens ao escritor. Estiveram ainda no velório acadêmicos e autoridades, como o governador da Bahia, Jacques Wagner.

“Ele é o homem, o mito. Quem o conheceu sabe o homem extraordinário que ele é, um contador de história com poder encantatório”, disse a atriz Fernanda Torres.

Autor que buscou reinterpretar o Brasil, seguindo a tradição de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, João Ubaldo escreveu mais de 20 livros, entre eles ‘Sargento Getúlio’, ‘O Sorriso do Lagarto’, ‘A Casa dos Budas Ditosos’ e ‘Viva o Povo Brasileiro’. Era o sétimo ocupante da cadeira número 34 da ABL. Foi eleito em outubro de 1993, no lugar do escritor Carlos Castello Branco.

“João Ubaldo deixa uma obra de excelência”, afirmou o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti. “Ele falava da realidade do Brasil”, destacou o secretário geral, Domício Proença Filho. Nascido em Itaparica, na Bahia, João Ubaldo viveu até os 11 anos com a família em Sergipe, onde o pai era professor e político. Morou em Lisboa e na Alemanha, mas fixou-se no Rio depois de 1991. Formado em Direito, ele nunca exerceu a profissão. Como jornalista, colaborou com diversos jornais e revistas nacionais e estrangeiros.

Fernanda Torres%2C que fez ‘A Casa dos Budas Ditosos’%2C se despedeCarlo Wrede / Agência O Dia

Lançou o primeiro livro, ‘Setembro não Tem Sentido’, em 1968. Ganhou em 2008 o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Levou ainda o prêmio Jabuti por ‘Sargento Getúlio’ (1972) e por ‘Viva o Povo Brasileiro’ (1984), que vendeu mais de 120 mil exemplares e foi traduzido para o inglês pelo próprio autor.

Livros foram adaptados

Obras de João Ubaldo Ribeiro foram adaptadas para o cinema, o teatro e a TV. O romance ‘Sargento Getúlio’ virou um longa-metragem, de Hermano Penna, em 1983, com Lima Duarte no papel principal. O livro conta a história de Getúlio Santos Bezerra, um rude sargento que tem a missão de levar um prisioneiro, inimigo político de seu chefe, de Paulo Afonso até Aracaju. O filme levou cinco Kikitos no Festival de Gramado.

O romance ‘O Sorriso do Lagarto’ foi adaptado por Walther Negrão e Geraldo Carneiro para minissérie homônima na TV Globo, em 1991. Na trama, o biólogo João Pedroso (Tony Ramos) se envolve com Ana Clara (Maitê Proença), casada com o corrupto secretário de Saúde Ângelo Marcos (Raul Cortez), que planeja levar a especulação imobiliária para a paradisíaca ilha de Santa Cruz.

No teatro, ‘A Casa dos Budas Ditosos’ ganhou montagem de Domingos de Oliveira, em 2003, com Fernanda Torres interpretando uma despudorada senhora que narra suas aventuras sexuais.

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