Rio - A Polícia Militar cercou o prédio do Consulado do Uruguai, em Botafogo, Zona Sul do Rio, onde a a advogada Eloísa Samy, considerada foragida, aguarda uma resposta sobre o pedido de asilo político ao país. Cinco viaturas do 5º BPM (Praça da Harmonia) chegaram ao local. Como o prédio é considerado território uruguaio, os militares não podem acessá-lo. Porém, se a ativista sair do edifício, ela será presa.
Eloísa está entre os 23 ativistas denunciados pelo Ministério Público por associação criminosa, e é uma dos 17 que estão foragidos. Eles foram investigados pela Operação Firewall, da Polícia Civil. A prisão preventiva de todos os acusados foi decretada na última sexta-feira, pela 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.
O advogado Marcerlo Mondego está no consulado ao lado de Eloísa para acompanhar o pedido de asilo. "A Eloísa veio para cá no desespero, ela está muito nervosa. E pede apoio do consulado. No momento, ela já conversou com a cônsul. Elas estão organizando documentos, para enviar o pedido à Brasília".
A ativista chegou por volta das 8h, com uma mochila de roupa. Ela está acompanhada de David Paixão, que completou 18 anos recentemente. Eles se conheceram durante uma manifestação e a advogada é a responsável legal dele desde o ano passado.
O nome de David é citado no inquérito, mas ele não não havia sido denunciado por ser menor de idade até pouco tempo. Eloísa apede o asilo para ela, David e a namorada dele, Camila Nascimento.
Manifestantes também estão no entorno do prédio e protestam contra a prisão de Eloísa. Eles seguram cartazes de apoio à ativista e pedem que o asilo seja concedido à advogada.
Justiça nega pedido de habeas corpus
Neste domingo, o plantão judiciário do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) negou no domingo, o pedido de habeas corpus para os 23 ativistas que tiveram a prisão preventiva decretada na última sexta-feira. Eles foram apontados pelo Ministério Público como responsáveis por promoverem violentas manifestações nas ruas do Rio durante os protestos que começaram no segundo semestre do ano passado.
A denúncia do MP contra 23 ativistas atribui a eles a confecção de explosivos usados nos protestos. De acordo com o promotor Luís Otávio Figueira Lopes, que assina o documento, o objetivo do grupo era disparar os artefatos em direção a agentes de segurança.
“As atribuições de tal grupo incluem o planejamento dos atos violentos, bem como a preparação de coquetéis molotov, artefatos explosivos, além de fogos de artifício alterados para adquirirem potencial lesivo, como, por exemplo, com a colocação de pregos em morteiros, posteriormente disparados em direção aos agentes de segurança pública”, diz o texto.
O documento aponta ainda a existência de sete grupos de ativistas, todos comandados pela Frente Independente Popular (FIP), liderada por Elisa de Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, que permanece presa.
De acordo com a denúncia, Sininho teria ainda cogitado o nome de Fábio Raposo Barbosa para assumir cargo de liderança no grupo. Denunciado pelo MP, Fábio está preso como coautor da morte do cinegrafista Santiago Ilídio de Andrade, da Band, atingido por um explosivo durante manifestação em fevereiro no Centro.
Consta ainda nos autos que um adolescente teria confirmado a intenção de matar um policial durante atos contra a Copa do Mundo. Uma testemunha ouvida no inquérito também teria visto Sininho incentivando manifestantes a levarem gasolina para atear fogo na Câmara de Vereadores, o que não chegou a acontecer.
O MP concluiu que o objetivo de um único comando seria a definição de uma linha de atuação para os diversos grupos e indivíduos envolvidos nos protestos.
“A existência de um comando centralizado e a convergência de desígnios existentes entre os integrantes das diversas estruturas orgânicas permitem o reconhecimento da associação entre todos, ainda que de forma compartimentalizada”, diz o texto.