Por thiago.antunes

Rio - O Rio ganhará um museu diferente na Gamboa: um laboratório aberto de Arqueologia. O espaço, um projeto coordenado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), vai expor os itens arqueológicos encontrados nas escavações das obras do Porto Maravilha. Mais que isso, todo o processo de restauração e catalogação poderá ser acompanhado pelo público. A previsão é que o local esteja aberto à visitação até o final de 2015.

De acordo com o presidente do IRPH, Washington Fajardo, o conceito de um laboratório aberto é diferente do de um museu. Em um espaço como esse, o objetivo é que as pessoas possam aprender como é feito o processo de recuperação de uma peça histórica. “Os visitantes vão poder acompanhar a restauração, em seus detalhes. Queremos mostrar o passo a passo de um trabalho de Arqueologia”, comentou Fajardo.

Fajardo%2C junto a peças encontradas nas escavações durante as obras do Porto Maravilha%3A elas estão guardadas no local onde o museu funcionará%2C em frente à Cidade do SambaFernando Souza / Agência O Dia

As relíquias serão tratadas e reunidas no Galpão da Gamboa, em frente à Cidade do Samba. O local foi um dos primeiros galpões construídos na Região Portuária do Rio de Janeiro, em 1889, para poder escoar a produção de café que era embarcada em navios e levada para o exterior. O local está passando por reformas para receber o laboratório e o ambiente de exposições. Ele também contará com um auditório multiuso para palestras, apresentações e exibição de filmes.

A construção do laboratório será financiada pela Lei Complementar 101/2009, que instituiu o Porto Maravilha. De acordo com ela, 3% dos recursos arrecadados com Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) precisam ser investido na recuperação e valorização do patrimônio material e imaterial da Região Portuária.

Relíquias das escavações%3A um canhão%2C provavelmente do século XVIIDivulgação

Segundo o IRPH, a área do Porto foi dividida em diversos sítios arqueológicos. De cada frente de trabalho, foram recolhidos os objetos. Eles precisam ainda ser catalogados. Os dados serão enviados para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Uma cápsula do tempo fincada no Cais do Valongo

O trabalho de escavações, iniciado em 2011, continua e não tem previsão para acabar. Por conta disso, o IRPH ainda não tem ideia de quantos itens estarão expostos no laboratório. Porém, entre os que já foram encontrados, estão louças e produtos do cotidiano como escovas de dente e cabelo, moedas de ouro e garrafas. “Achar esses itens usuais é interessante porque mostra a evolução da sociedade”, disse Fajardo.

O sítio arqueológico%2C com as muretas do Cais do Valongo e da Imperatriz%2C em 2011Divulgação

Há outros achados entre as relíquias. Entre eles, uma pedra fundamental que continha uma cápsula com um jornal com notícias que datam de 150 anos atrás. Os arqueólogos também encontraram um canhão do século XVII e munições e peças de navios, como âncora e mastro.

A maioria das relíquias é da cultura africana. A escavação trouxe à exposição pública o Cais do Valongo, na Avenida Barão de Tefé, por onde cerca de 500 mil africanos escravizados chegaram ao Brasil. Entre os objetos, encontraram artefatos usados para a proteção do corpo (pedras, miçangas e piaçava), para cultos religiosos (como búzios) e peças de louças, talheres, botões, dedais e brinquedos.

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