Rio - Os recentes episódios de violência à luz do dia no Grande Méier aterrorizaram moradores e trouxeram à tona a insegurança que a região, um dia conhecida pelo seu bucolismo, tem vivido. Os relatos de pessoas que se dizem “acuadas” ganharam força com as estatísticas da criminalidade recém-divulgadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Em alguns casos, houve aumento de até 100% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Em julho deste ano, foram registrados 404 casos de assaltos a pedestres nas cinco delegacias que abrangem a área do 3º BPM (Méier), contra 235 em 2013. O número representa salto de 71,9%. A engenheira Ana Paula Dias é uma das pessoas que estão com medo de circular com objetos de valor.
“Todo mundo tem uma história para contar. É fácil ver pessoas consumindo drogas pelas ruas”, diz ela, que trocou o smartphone por um modelo mais simples em fevereiro. Os roubos a aparelhos, que em julho de 2013 foram 30, no mesmo mês deste ano subiram para 58.
Quem usa o transporte público também tem motivos para temer. Se naquele mês de 2013 foram 11 roubos a coletivos, no mesmo período de 2014 passageiros de 29 ônibus foram surpreendidos por assaltantes: 163% a mais. Índice melhor foi registrado em relação ao roubo de veículos: 110 agora, contra 117. A recuperação de carros roubados, por sua vez, não seguiu a melhoria: foram 81, comparados a número anterior de 88.
Habituados a fechar as portas por conta de tiroteios e manifestações, comerciantes viram os casos de assaltos a estabelecimentos caírem pouco: os 30 roubos em julho de 2013 deram lugar a 25 no mesmo período deste ano. Se somados todos os tipos os registros feitos nas delegacias, nota-se acréscimo de 16,3%: o número subiu de 2.620 para 3.049. Vizinha da 25ª DP (Engenho Novo), a dona de casa Elza de Souza diz não ter segurança. “Como posso sair tranquila pela ruas se, diariamente, vejo o bairro nas páginas dos jornais? Quem mora no Méier, hoje, tem medo de circular à noite pelas ruas”, afirma.
O DIA perguntou ao comando do 3º BPM quais são os esforços empregados para diminuir os roubos a pedestres e ônibus; e se existe a possibilidade de reforço no policiamento ostensivo da região. A assessoria de imprensa da PM enviou nota com cinco itens que não se referem ao Grande Méier, mas sim a números de todo o Estado do Rio sobre homicídios, roubos a residência e prisões efetuadas.
Morte de engenheiro aumentou medo
O terror dos moradores do Grande Méier se acentou nas últimas semanas, quando as proximidades da Rua Dias da Cruz foram palco de vários casos de violência que chocaram a vizinhaça. Na manhã da última segunda-feira, o engenheiro Marcelo Magalhães Gonçalves foi morto a tiros, depois de deixar as filhas na escola. Ele reagiu a um assalto na Avenida Marechal Rondon, no Rocha.
Na quarta-feira, o delegado da 25ª DP (Engenho Novo) Rodrigo Barros disparou contra criminosos que o atacaram no Viaduto Ana Neri, em Benfica. Um bandido morreu. Outros dois comparsas também ficaram feridos. Motoristas que passavam pelo local se assustaram com a cena.
Após intenso tiroteio no Complexo do Lins, na terça-feira, três ônibus foram queimados na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. A via chegou a ser interditada e moradores das proximidades chegaram a ficar encurralados durante a volta para casa. Na quinta-feira, foi a vez do Morro do São João, no Grajaú, se tornar cenário de intensa troca de tiros. Nas redes sociais, moradores do bairro de classe média se disseram aterrorizados pelo som dos estampidos.
Rotina de pavor
“Os números divulgados pelo ISP só refletem uma queixa antiga do morador do Méier”, garante o presidente da Associação de Moradores do bairro, Jorge Barata. No mês passado, a AMME encaminhou ao secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame um abaixo-assinado pedindo reforço no policiamento ostensivo da região.
“O policiamento atual é insuficiente. Vivemos com medo e atendemos a mais de dez sub-bairros que não contam com associações”, afirma Barata. O presidente da Associação Comercial do Bairro Sylvio Mattos, por sua vez, lembra que a política de segurança deve vir acompanhada do serviço de desenvolvimento social.
“Em muitos casos, os roubos são associados a dependentes químicos que frequentam a região”, afirma. Em páginas do Facebook como a Grande Méier da Depressão, são muitos os relatos de violência feitos por internautas.