Por thiago.antunes

Rio - Para marcar os três anos do acidente com o bonde de Santa Teresa, que causou a morte de seis passageiros, e cobrar a volta do tradicional e charmoso meio de transporte, os moradores do bairro saíram nesta quarta-feira pelos trilhos, a pé, fazendo uma série de atos de protesto.

Embora o modelo novo já esteja exposto desde terça-feira no Largo do Curvelo, a frota renovada, com 14 bondes, só estará circulando em dezembro de 2015. O cronograma inicial previa que em março de 2014, o sistema já estivesse em operação, a tempo da Copa do Mundo.

Mas, este ano, apenas um trecho de cerca de um quilômetro, na Rua Joaquim Murtinho, vai entrar em operação. A linha completa terá 10,5 quilômetros de extensão — 3 quilômetros a mais do que na época do acidente. Os protestos desta quarta começaram de manhã cedo, quando uma faixa gigante foi estendida nos Arcos da Lapa. A tarde foi marcada por uma caminhada até o ponto onde o bonde descarrilou, na Rua Joaquim Murtinho. À noite, foi celebrada uma cerimônia ecumênica, em memória das vítimas, na Igreja Anglicana do bairro.

Moradores de Santa Teresa saem em passeata pela Rua Joaquim Murtinho%3A há três anos os tradicionais bondes estão fora de circulaçãoAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Durante a passeata, que reuniu cerca de 70 moradores, o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), Paulo Saad, homenageou o motorneiro Nelson Correa da Silva, que morreu no acidente. “Nelson era muito gentil e educado, ajudava os mais velhos a embarcar. Ele fez o que pôde para evitar uma tragédia ainda maior”, disse Saad, no local do acidente, onde flores foram depositadas.

Na terça-feira, o primeiro dos novos bondes foi apresentado aos moradores. Puxado por um caminhão, subiu a Rua Joaquim Murtinho e está agora estacionado no Curvelo. Ele será testado durante cerca de 30 dias, quando começará a fazer o transporte de passageiros no trecho que já está pronto. “Vamos testar à exaustão. A prioridade é a segurança”, declarou o subsecretário da Casa Civil, Rodrigo Vieira.
Em 27 de agosto de 2011, um bonde descarrilou e tombou na Rua Joaquim Murtinho, na altura do número 273. Além das seis vítimas fatais, mais de 50 pessoas ficaram feridas.

O novo modelo do bondinho está exposto no Largo do CurveloAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Atraso nas obras causa transtornos no bairro

Para os que vivem em Santa Teresa, a falta do bondinho, além de descaracterizar o bairro, traz uma série de inconvenientes. “Nossas ruas não são preparadas para receber um trânsito tão intenso, com veículos pesados como esses ônibus que substituem o bonde. Eles abrem muitos buracos nas vias, causando vazamentos de água e de gás”, reclamou o engenheiro José Rabelo, de 62 anos, que vive há 50 no bairro.

Segundo ele, as concessionárias CEG e Cedae fazem reparos e, em seguida, surgem outros buracos. Questionada sobre se há alguma ação para prevenir a abertura dos buracos nas ruas, a Secretaria Municipal de Obras informou que “não possui ações previstas para a área”.

Outro transtorno relatado pelos moradores é a irregularidade na frequência do ônibus com tarifa subsidiada, conhecidos como Florzinha, que custam o mesmo preço dos antigos bondinhos, R$ 0,60. “São apenas dois veículos que deviam passar de meia em meia hora, mas não passam. E também não circulam nos fins de semana”, lamentou o produtor cultural Paulo Vasconcelos, de 49 anos. O comércio local também sofre com as obras. “As vendas caíram muito”, comentou a vendedora Fernanda Fagundes, 37.

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