Rio - Na manhã de 13 de outubro de 2011, um vazamento de gás fez explodir o restaurante Filé Carioca, no térreo do Edifício Riqueza, na Praça Tiradentes, 9, no Centro, causando a morte de quatro pessoas. Quase três anos depois da tragédia, os condôminos do prédio ainda não podem retornar às suas salas, apesar de muitos pagarem as contas em dia.
O edifício precisa passar por reestruturação para ser liberado pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros, mas o dinheiro para as obras, segundo a atual administração, sumiu. Eles acusam o antigo síndico, que é um dos réus no processo que investiga as quatro mortes, de dificultar o trabalho dos novos administradores, não ser claro nas prestações de contas e de não informar o que fez com a indenização de um seguro.
Segundo o atual síndico, José Diniz Nogueira, o prédio precisa passar por dois tipos de obras: na parte hidráulica e adaptações de partes comuns, como saídas e dispositivos contra incêndio. O orçamento feito gira em torno de R$ 190 mil. Mas a obra não pode ser executada porque não há dinheiro em caixa.
“Com as obras vamos conseguir as autorizações dos órgãos competentes para reabrir o prédio. Enquanto isso, nossos condôminos são podem voltar a exercer suas funções e estamos sendo prejudicados”, contou Diniz. Cerca de 42% dos 137 condôminos estão inadimplentes com a taxa mensal de R$ 154. A solução encontrada seria ter acesso a uma apólice que segurava o prédio, entre dezembro de 2010 a 2011.
O antigo síndico, José Carlos do Nascimento Nogueira, alegou que recebeu o dinheiro e os aplicou em obras no prédio, apesar de não revelar quanto foi recebido e quanto foi gasto com as supostas obras.
Ele foi até a seguradora e não conseguiu ter acesso à apólice. A seguradora cobrou uma série de documentos, que estão sendo preparados para ele saber o que foi acordado. Porém, na conta do condomínio, não foi feito depósito.
Diniz, que assumiu a administração em 2013, após criar uma associação dos condôminos, contou ainda que o antigo síndico se nega a colaborar e ainda retem documentos. No último dia 19, houve uma assembleia e nada foi resolvido. A proposta era aumentar o valor do condomínio e também o pagamento de uma cota extra, mas não foi aprovado. Os proprietários das salas reclamaram que não podem arcar com mais despesas já que estão com suas atividades comerciais paradas. Procurado, a advogada do ex-síndico preferiu não responder.
Donos de sala amargam prejuízos
Administradora da Escola de Papais Noés do Brasil, que funcionava no quarto andar do prédio, Fátima Xerém para continuar trabalhando, transferiu o negócio para um galpão em Realengo. Apesar de estar em dia com as contas e de a explosão não ter atingido o andar de sua sala, ela, assim como os outros, não pode voltar enquanto as obras das partes comuns não forem feitas.
“Já são quase três anos sem o imóvel que compramos e não podemos usar”, disse. Quem vive a mesma situação é a advogada Eliana Labronici, proprietária de uma sala desde 1961. “Hoje, não posso trabalhar nela. Isso me prejudica porque me limita a atender o público”.
MP acusa ex-síndico de omissão
Na explosão do Restaurante Filé Carioca quatro pessoas morreram e 17 ficaram feridas. Na Justiça, ainda tramita o processo contra dez pessoas, movido pelo Ministério Público. Entre os réus estão os donos do restaurante, peritos da prefeitura e o ex-síndico do prédio, José Carlos Nogueira. Ele é acusado de ser omisso e não respeitar as regras específicas para o prédio.
O restaurante era proibido de ter instalação de gás, o que ocasionou o acidente. No processo consta sobre Nogueira: “Ele tinha inteira ciência da vedação expressa de manutenção de cilindros de gás ou similares sem autorização do Corpo de Bombeiros”.