Por thiago.antunes

Rio - Andar apressado, não porque precisa chegar ao trabalho no horário, e sim para evitar ser mais uma vítima de assalto na rua. Assim tem sido o cotidiano de muitos que moram ou trabalham no bairro da Pavuna, Zona Norte do Rio, que se sentem abandonados por causa da falta de segurança. O medo é maior principalmente nos pontos de ônibus pela manhã e à noite, na entrada ou saída do metrô e na praça central, reformada há pouco mais de um ano e que hoje “abriga” mendigos e usuários de drogas.

A ação dos bandidos — como mostrou Alexandre Medeiros em seu blog “Cenas Cariocas” — atinge homens e mulheres de várias idades. Registros de ocorrências do Instituto de Segurança Pública (ISP) confirmam o aumento de crimes no bairro. De janeiro a agosto deste ano, os casos de roubos a transeuntes são um “atestado” de que andar pelas ruas da Pavuna está muito mais perigoso do que antigamente: 3.078 pessoas registraram ocorrência na 39ª DP (Pavuna), um crescimento de mais de 30% em relação a igual período de 2014. Comerciantes e motoristas de transporte coletivo são alguns dos alvos.

Mulheres são alvo fácil da ação de bandidos%2C principalmente no acesso à estação do metrô da PavunaCacau Fernandes / Agência O Dia

Também nos oito primeiros meses deste ano, 274 estabelecimentos comerciais foram roubados, um aumento de quase 35%. Uma faxineira de 32 anos, que aguardava para ser atendida na movimentada 39ª DP, foi atacada por assaltantes duas vezes em um mês. No último dia 8, levaram sua bolsa com todos os pertences. “As mulheres são as principais vítimas”, afirmou, sem se identificar. Não querer revelar o nome parece ser algo comum para mais de 30 pessoas entrevistadas pelo DIA.

“Moramos e trabalhamos aqui. Não queremos ter mais problemas. Por isso, impera a lei do silêncio. Só posso garantir: os bandidos expulsos das favelas ocupadas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) vieram para cá porque sabem que não temos patrulhamento da PM”, criticou o dono de um bar perto da 39ª DP.

Na tentativa de conversar com a associação de moradores, um rapaz, que disse ser filho de um dirigente da entidade, garantiu que ninguém daria depoimento “porque na porta funciona uma boca de fumo”. Ambulantes que trabalham na praça central disseram que eles mesmos garantem a segurança do lugar. “O problema maior é o usuário de drogas. Hoje pela manhã (quarta-feira), colocamos sete cracudos dentro de um carro preto e mandamos rodar”, contou o homem, sem querer ser identificado. “Todos os meus amigos e até minha mãe já foram vítimas de bandidos nas ruas”, disse a gari Roberta da Silva Aguiar, 34, ao entrar no metrô.

O motorista de ônibus Davidson foi esfaqueado ao reagir a assaltoCacau Fernandes / Agência O Dia

Motorista se fere ao reagir

Motorista da linha Pavuna-Cascadura, Davidson Leandro Coelho Vieira, 23, se diz traumatizado depois de quase ser morto por um assaltante. O episódio ocorreu em fevereiro deste ano, por volta das 23h. “Para não ser morto, lutei com o bandido e acabei esfaqueado nas costas, orelha e mão”, relata o rapaz, que exibe marcas de facadas e perdeu o movimento de um dos dedos.

Como “presente” da empresa, Leandro voltou a trabalhar na mesma linha. Outros colegas também reclamam da falta de segurança. Para não serem assaltados, eles chegam a deixar possíveis passageiros nos pontos de ônibus, quando veem alguém com “atitude suspeita”.

Durante as quase cinco horas que a reportagem do DIA circulou na Pavuna, pela manhã e à tarde, nenhuma viatura da PM foi vista passando pela praça central e imediações. Em nota, a Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informou que a região da Pavuna recebeu uma Companhia Destacada em janeiro. Com isso, o 41º BPM (Irajá) teve um reforço de 60 PMs. Para o comandante do batalhão, tenente-coronel Luiz Carlos Leal Gomes, o aumento de 50% do efetivo designado para atuar na região facilitou o trabalho de policiamento. Também foram incorporadas mais oito viaturas para circular na comunidade.

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