Rio - O governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB) disse, na manhã deste sábado, durante carreata no Parque Flora, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que desconhece as denúncias de corrupção envolvendo policiais do 17º BPM (Ilha).
Pezão afirmou que irá analisar a qual período essas denúncias se referem para tomar as providências necessárias. O governador também disse que confia no secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e que o governo irá auxiliar nas investigações.
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Traficantes que atuam no Morro do Dendê são estampados em cartazDelator diz que parte da propina dada a BPM da Ilha ia para o Comando-Geral
A prisão de 16 policiais militares por corrupção — entre eles o coronel Dayzer Corpas, ex-comandante do 17º BPM (Ilha do Governador) — voltou a atingir a cúpula da Polícia Militar. Um dos delatores do esquema disse que parte do dinheiro da propina era entregue ao Comando-Geral da PM em reuniões às segundas ou sextas-feiras com comandantes de unidades.
Mas ele acentuou que ‘trata-se de um comentário generalizado’ na tropa. A acusação foi feita em um dos três depoimentos dados pelo policial ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
É a segunda vez em um mês que a credibilidade da cúpula da PM é posta em xeque. Em setembro, com a Operação Amigos S/A, da Subsecretaria de Inteligência, da Secretaria de Segurança e do Gaeco, quando 26 PMs foram presos, outro delator denunciou que o Estado-Maior da PM recebia propina de R$ 15 mil de todos os batalhões. Na ocasião, promotores da 2ª Promotoria de Justiça, junto à Auditoria de Justiça Militar e no Gaeco, abriram investigação criminal contra o comandante da PM, coronel José Luís Castro, e os chefes do Estado-Maior, Paulo Henrique Azevedo e Rogério Pacheco.
Em nota, a PM informou que recebeu informações sobre os novos depoimentos na quinta-feira. O comando negou as acusações de corrupção contra a atual gestão e informou que os oficiais estão à disposição do MP para esclarecimentos. Segundo o delator, o dinheiro da propina no 17º BPM era recolhido pelas patrulhas de trânsito e dividido pelos integrantes do alto escalão da unidade. Os valores eram entregues em bolsas chamadas de ‘bornéu’.
O colaborador informou que o maior beneficiado era o coronel Corpas, que receberia do traficante Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de R$ 120 mil a R$ 150 mil por mês. Com isso, não havia operações nas áreas dominadas pelo bandido, principalmente no Morro do Dendê. Corpas foi promovido pelo comandante da PM um dia antes de ser preso na operação Ave de Rapina. O coronel Alexandre Fontenele recebeu promoção enquanto era investigado pela Amigos S.A.
Propina seria maior que os R$ 300 mil identificados
Os valores recebidos pelos PMs para libertar os traficantes Atileno Marques da Silva, o Palermo, e Rogério Vale Mendonça, o Belo, presos em falsa blitz, dia 16 março, pode ter sido maior do que os R$ 300 mil identificados nas investigações. Só para o coronel Dayzer Corpas teriam sido pagos R$ 40 mil. Mas, segundo informações de um dos delatores, o montante correspondia apenas a uma parte do pagamento. Outra parcela, cujo valor não foi especificado, seria quitada depois. A negociação foi feita com a advogada dos bandidos mantidos em cativeiro por mensagens do celular de um deles.
Câmeras da Base Aérea do Galeão registraram a ação. Em nota, a FAB informou que entregou a gravação à Secretaria de Segurança. Mas os policiais não se beneficiaram só com o pagamento de resgate dos traficantes. Eles apreenderam três fuzis que revenderam à quadrilha do Morro do Dendê por R$ 140 mil. E ficaram com joias e relógios dos criminosos.
A divisão do lucros não era igual para todos. O colaborador diz que sofreu chacota no batalhão ao ter recebido R$ 1 mil do 3º sargento Erickson Barros Pieroni, um dos presos. “Ouvia piada dos policiais porque ganhei R$ 1 mil e os outros levaram um dinheiro forte”, observou o policial. Nas investigações, dois militares do 17º BPM estão colaborando com a Justiça. Em função da delação premiada, eles sequer foram denunciados. A dupla, que alega estar com medo de represálias, pediu medidas protetivas para eles e suas famílias.
Mesmo flagrados, PMs continuaram extorquindo motoristas e bandidos
Os 16 PMs presos — entre eles o ex-comandante do 17º BPM (Ilha do Governador) Dayzer Corpas — têm outra conta para acertar com a Justiça. Acusados de extorsão mediante sequestro e roubo majorado (quando há colaboração de duas os mais pessoas) na Auditoria de Justiça Militar, eles também serão denunciados por formação de quadrilha armada, desta vez, na Justiça Comum, ou seja, em uma Vara Criminal. A denúncia será feita pelo Ministério Público.
As penas de todos os crimes variam de dois a 15 anos. O grupo também responderá administrativamente na Polícia Militar. O que poderá resultar na expulsão dos acusados. Porém, o coronel Corpas só pode ser demitido depois de concluído o procedimento e passar pelo crivo do Tribunal de Justiça.
Enquanto a investigação da operação Ave de Rapina estava em curso, os policiais que participaram da extorsão aos dois traficantes, embora fossem investigados em Inquérito Policial Militar (IPM) no batalhão da Ilha, voltaram a trabalhar nas ruas. E mesmo com as imagens que comprovavam a abordagem a um EcoSport com cinco traficantes, que foram extorquidos, segundo um dos delatores, o grupo não parou de cobrar propina a motoristas de van, mototaxistas e de outros traficantes do Morro do Dendê.
Bem à vontade com o esquema de propina na unidade, o então comandante, coronel Corpas, também decidiu viajar de férias para Miami, nos Estados Unidos, quando foi deflagrada a operação Amigos S.A., que prendeu 26 PMs, entre eles o coronel Alexandre Fontenelle e um mototaxista, no mês passado. A viagem do oficial provocou o adiamento da operação para prendê-los na última quinta-feira.
Briga por causa do dinheiro sujo
Os policiais do batalhão da Ilha não tinham a menor preocupação em esconder o esquema de propina. A arrecadação era tão comum que eles brigavam pela divisão do dinheiro sujo. Segundo o delator, um major que assumiu o Serviço Reservado da unidade brigou com um subtenente que era da confiança do coronel Dayzer Corpas. O motivo da discórdia foi que o valor não foi repartido com todos.
As punições também não eram temidas. Corpas abriu investigação para apurar o sequestro dos traficantes. O oficial determinou a prisão dos praças por 72 horas. Na ocasião, o tenente Vitor Mendes da Encarnação — braço direito do Corpas — orientou que era para o delator manter a versão de que só um fuzil fora apreendido com os traficantes, quando na verdade foram quatro. Corpas também entrou no circuito sobre o assunto. Ele teria dito a um sargento que se ninguém delatasse na investigação do Gaeco, a punição seria branda.
Cunhado e mulher na mira
Os sócios da loja Plaza Ferragens — entre eles a mulher do coronel Dayzer Corpas — vão ser chamados para prestar depoimento. Há suspeita de que, quando era comandante do 17º BPM, ele comprava materiais de construção para a unidade com preços superfaturados. Se forem comprovados os valores acima dos de mercado, os donos do negócio podem ser responsabilizados por crimes tributários. Dayzer vai responder ação por improbidade administrativa.
Pelas investigações, o oficial comprou casa em área nobre na Ilha, quando já possuía um imóvel na mesma região. Ele tinha uma caminhonete Tucson, mas só usava a viatura oficial, com motorista, para resolver assuntos pessoais. Outros policiais envolvidos no esquema também gostavam de investir em carros. O 3º sargento Erickson Pieroni comprou caminhão de R$ 70 mil e o sargento Honorato José da Silva tinha um Honda zero quilômetro que ficava estacionado no batalhão.