A menina Vitória da Silva, de 3 anos, deixou neste sábado a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pediátrica, após passar três dias internadas. Ela e mais dez pessoas foram intoxicadas após comerem uma peixada feita com alguns filés de baiacu, durante uma confraternização no bairro de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Além da criança, Luciana Gonçalves, 22, que era paciente do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, também recebeu alta no final do dia de ontem.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Duque de Caxias, o paciente José Augusto de Souza, 41, que estava no CTI do hospital Moacyr, já saiu da sedação e da ventilação mecânica. Ele está conseguindo respirar sem a ajuda de aparelhos e, até às 10h20 de hoje, encontrava-se lúcido. Souza permanecerá sob observação até amanhã, sem previsão de alta.
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Paciente do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, Guilherme da Silva Manoel, de 4 anos, continuava internado em estado grave neste sábado, em um leito de terapia intensiva, embora tenha apresentado um quadro estável, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Internados na mesma unidade, Jackson da Silva de Souza, 30, está na enfermaria com estado de saúde estável; e Guilherme Lucas da Silva, 5, está em um leito de terapia intensiva com quadro também estável. Não há previsão de alta para nenhum dos três, segundo informações da direção do hospital.
Também intoxicado pelo peixe, Anderson Lucas, de 31 anos, contou ao DIA que a pescaria teria sido feita por um amigo de sua mãe, próximo a Mauá, no distrito de Magé (RJ). Ele contou que, assim que começaram a comer, ele e os amigos sentiram dormência nos dedos e na língua. Cinco minutos depois eles já estavam caídos no chão, se contorcendo de dor. Como já conhecia os sintomas, o rapaz ligou para a mãe para saber se havia filé de baiacu na peixada. Com a confirmação, todos foram levados ao hospital onde foram internados.
TOXINA
“A neurotoxina liberada pelo baiacu, conhecido como fugu no Japão, pode ser até 1,2 mil vezes mais mortal que o cianeto”, alerta o biólogo Murilo Luiz e Castro Santana, especialista em Gestão, Auditoria e Perícia Ambiental. “Trata-se de um dos peixes mais venenosos do mundo.”
De acordo com Santana, a toxina deste peixe, ainda pequeno (ele pode pesar até dois quilos), poderia matar de 30 a 50 pessoas. O que diferencia é a dose do “veneno”. “Se é misturado a outros peixes, seus efeitos colaterais aparecem, de modo geral, em menores proporções causando náuseas, dores de cabeça e má indigestão.”
O especialista ainda ressalta que, em quantidades mais elevadas, a intoxicação pode matar principalmente crianças, idosos e pessoas com doenças preexistentes do sistema nervoso. Em situações mais graves, destaca ele, a pessoa pode ter o corpo paralisado, ter dificuldade de respiração e sofrer perda de consciência, podendo vir a óbito.
Santana explica que o baiacu não produz a toxina para se defender, por exemplo, dos seus inimigos naturais. “A tetrodotoxina, ou TDX, fica dentro do sistema nervoso deste tipo de peixe, formado por glândulas que secretam a toxina que, por sua vez, fica armazenada nas gônadas, fígado, baço e até na pele.”
Conforme o especialista, no Brasil o baiacu (fugu) é encontrado mais habitualmente na região do Amazonas e do Cerrado, onde os pescadores não costumam consumi-lo, porque sabem do perigo à saúde. No Japão, o “hobby” de comê-lo é considerado exótico e tratado como uma “aventura gastronômica”. No país asiático, no entanto, seu manuseio só pode ser feito se o chef obtiver uma licença especial. Mesmo assim, não é raro ler notícias de pessoas intoxicadas em restaurantes japoneses, após comerem o baiacu.