Por daniela.lima
Rio - Ativistas do movimento Ocupa Golfe, que há um mês estão acampados na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, pressionando a paralisação das obras do campo para a disputa do esporte nas Olimpíadas de 2016, acusam a Guarda Municipal de ações truculentas para desmontar o acampamento. Agentes agrediram os manifestantes com cassetete e balas de borracha. A obra também é alvo de ação movida pelo Ministério Público, que vê irregularidades na construção, feita em área que era de proteção ambiental e abrigava parte dos raros remanescentes de restinga da cidade. 
Movimento Ocupa Golfe está há um mês acampado em terreno na Avenida das Américas para pressionar a paralisação das obras no espaço que era de proteção ambiental%2C oEstefan Radovicz / Agência O Dia


No dia 3 de janeiro, o Ministério Público Federal (MPF) emitiu petição que impede a prefeitura de “adotar qualquer medida que implique na retirada dos manifestantes do movimento Ocupa Golfe”.

Por volta das 17h da última terça-feira, os ativistas relatam que cerca de 25 guardas municipais desceram de carros e ônibus e iniciaram a destruição do acampamento, quebrando e confiscando barracas, lonas, cartazes, objetos pessoais e até medicamentos. Em vídeo, na página do Ocupa Golfe numa rede social, as imagens mostram que um homem é imobilizado pelo pescoço, enquanto uma guarda municipal o agride com o cassetete.

“Levaram todo meu material de desenho, que usava para produção de cartazes. Na confusão, alguém poderia ter sido atropelado”, criticou Daniele Fontes, 36 anos, que guardou as balas de borracha disparadas pelos guardas durante a confusão.
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Em outro momento, uma integrante do movimento é derrubada é arrastada pelo asfalto. Outros dois homens tiveram o braço e um dente quebrados. Membros do Grupamento Especial de Praia (GEP) participaram da ação.
A Guarda Municipal negou o uso de balas de borracha, e informou que as denúncias de excessos e as imagens serão encaminhadas à Corregedoria. Em nota, a GM informou que “a atuação na região não envolve repressão à manifestação e, sim, atuação de rotina para garantir o ordenamento. A Guarda Municipal não tolera violência”. 


“Acabaram com tudo, levaram até o meu skate”, conta Ian Miranda, 19 anos, que explica o funcionamento do acampamento: “Cinco ou seis sempre ficam aqui, em esquema de revezamento. Tem gente que está em férias, como eu, ou que só pode vir no fim de semana, por conta do trabalho”.

Entre os ativistas, geólogos, professores, jornalistas, advogados e estudantes. De múltiplas idades e trajetórias de vida, muitos se conheceram ali e se organizaram buscando um modo de vida sustentável: o lixo é separado de acordo com sua composição, uma biblioteca comunitária foi criada com doações, e são realizadas atividades culturais como debates, exibição de filmes e intervenções artísticas.

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No sábado, um luau celebrou o primeiro mês da ocupação. As dificuldades, que não são poucas, vão desde o uso do banheiro até a ação de grupos de jovens que, durante uma madrugada quebraram placas e cartazes.
“A gente vai lutar até embargar completamente a obra do golfe, nem que fiquemos aqui até o fim das Olimpíadas” ,garante o professor de História Bruno Cintra, 31 anos. 
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Vereador tenta criar CPI do Golfe

Na Câmara, o vereador Renato Cinco (Psol) está recolhendo assinaturas para tentar emplacar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) habilitada a investigar as obras do campo de golfe. Até agora, apenas nove assinaram — são necessários 17 nomes. No requerimento, cinco questionam o fato de o Rio contar com dois campos de golfe, na Gávea e no Itanhagá, e mesmo assim a prefeitura ter decidido construir um novo espaço na Barra.
“A prefeitura alega que o novo campo poderá ser usado pela população após a Olimpíada, já que será público, cobrando-se uma taxa de ingresso e o aluguel dos equipamentos. Mas qual é a popularidade deste esporte entre os cariocas? Será que existe demanda que sustente tamanho investimento, considerando-se os danos ambientais?”, questiona o requerimento, apresentado em novembro por Renato Cinco. 
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Em entrevista ao programa ‘Jogo do Poder’ ontem, na CNT, o presidente da Câmara Jorge Felippe (PMDB) disse que o campo de golfe “não será objeto de discussão” no Legislativo municipal. “Era uma área degradada ali, o campo de golfe não compromete o ecossistema e trará estímulo ao turismo. A cidade ganhará o Parque Ecológico do Marapendi”, afirmou.  
MP diz que construção é irregular

O Ministério Público também quer a paralisação das obras do campo de golfe. Promotores do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) alegam que a construção é irregular e danifica o Parque do Marapendi. Uma lei, aprovada em 2012 pela Câmara Municipal, diminuiu a área de proteção ambiental, possibilitando o trabalho das máquinas.
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Para o MP, que entrou com ação civil pública, a redução do espaço foi feita sem a realização de estudos técnicos e a retirada da Mata Atlântica, de forma irregular. O órgão pede ainda que, caso não seja possível a recuperação dos impactos negativos ao ambiente, a Prefeitura do Rio e Fiori Empreendimentos, responsável pela obra, sejam obrigados a pagar indenizações. Em dezembro, a Justiça negou o embargo das obras, mas proibiu a construção em áreas de vegetação nativa.
“A prefeitura não está respeitando isso. As obras avançam sobre o corredor ecológico”, indica Jean Carlos Noves, advogado do movimento “Golfe Para Quem?”
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