Por daniela.lima

Rio - O diálogo deve ser o caminho adotado pela Unidade de Polícia Pacificadora que será instalada no Complexo da Maré, no dia 1º. A conclusão é de quatro especialistas consultados pelo DIA

Edson Diniz%2C da Redes da Maré%2C está cético com a entrada da polícia%3A ‘Só falam em guerras%2C não em paz’Paulo Araújo / Agência O Dia


“Estamos diante de uma grande oportunidade para romper com a inércia que tem levado a um distanciamento entre a polícia e a sociedade nos territórios de favelas”, acredita Átila Roque, diretor-executivo da Anistia Internacional, organização que atua na defesa dos Direitos Humanos.

A Anistia Internacional está se preparando para atuar contra qualquer abuso que a Polícia Militar possa cometer no complexo que integra 17 comunidades e mais de 140 mil habitantes — segundo o censo feito pela Redes de Desenvolvimento da Maré.

“Sou cético quanto à entrada da PM para resolver os problemas da Maré”, afirma um dos diretores da Redes da Maré, Edson Diniz, que coloca o diálogo como a alternativa para que a onda de violência que antingiu o Alemão não se repita. “Só vejo a polícia falando em batalhas e em guerras, não em paz.”

DESAFIOS

A crítica de Diniz é a mesma que o diretor da Anistia Internacional aponta. Segundo Átila Roque, o estado e a sociedade têm três grandes desafios a superar. “O primeiro é a tradição de violência policial e brutalidade com o morador de comunidades”, afirma. O segundo, para ele, é resgatar o lugar do morador como sujeito ativo na implantação de direitos. “O terceiro é romper com a ideia de que nós estamos numa guerra.”

Para Eduardo Alves, diretor do Observatório de Favelas, outra ONG atuante na comunidade, a igualdade de direitos também é o caminho. “Qualquer ação policial que tira as pessoas da rua não pode gerar a paz. O sentimento de segurança são as ruas cheias de pessoas.”

Segundo o diretor do Museu da Maré, Luiz Antônio de Oliveira, a PM não deve acreditar em um modelo engessado para pacificar a Maré, pois cada favela do complexo tem a sua própria particularidade. “É óbvio que é preciso ações diferenciadas para cada uma.” Segundo ele, a polícia não deve tratar os moradores como inimigos. “Eles precisam se inteirar, conhecer nossa cultura.”

Para que a PM conheça a história das favelas, Luiz os convida a conhecer o museu: “Pode dar uma ideia de como ocorreu a ocupação. A informação pode abrir o diálogo e humanizar o processo.” 

Presidente de Associação diz que complexo precisa de escolas e hospitais

Se as ONGs e organizações exigem diálogo, moradores não têm expectativa de se sentir mais protegidos com a PM. Essa é a visão de Janaína Monteiro, presidente da Associação de Moradores da Vila do Pinheiro e Salsa e Merengue. Segundo ela, a entrada da polícia não é a prioridade da favela.

“Queremos saneamento, postos de saúde, creches e escolas. Não de polícia. Não queremos que aqui fique como o Alemão”, destacou.

A PM já ocupou a Praia de Ramos e a Roquette Pinto desde 1º de abril. Um morador da Baixa do Sapateiro, que não quis se identificar, acredita que em um primeiro momento a situação vai melhorar. “Mas não acredito que fique calmo para sempre. No início pode até diminuir a essa tensão, mas depois a violência volta.”

Desde 1971 na Vila do Pinheiro, outra moradora se diz desesperançada por conta da quantidade de agressões do Exército que diz ter presenciado. “Vimos tanta barbaridade que fica até difícil falar. É criança apanhando de soldado, repressão contra pessoas do bem...Para mim é trocar seis por meia dúzia. Vimos uma criança morrendo no Alemão por causa da PM. Aqui vai ser igual”, afirmou.

De acordo com a Polícia Militar, a estratégia de ocupação aos poucos faz parte do planejamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública para pacificar o território da Maré, que é formado por 16 comunidades. (Reportagem de Eduardo Oliveira)

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