Por felipe.martins

Rio - Os taxistas cariocas estão ameaçando parar. E não é para pegar passageiros nas ruas. Grupos de motoristas vêm se mobilizando e pretendem até realizar uma paralisação de 24 horas. O motivo? Muitos. Desde as possíveis mudanças na legislação sobre a concessão da autonomia e cursos de capacitação que eles serão obrigados a fazer até a concorrência com novas tecnologias. A principal delas, que vem deixando os taxistas insatisfeitos mesmo, é a Uber, empresa que conecta usuários e motoristas por meio de um aplicativo.

A Uber chegou na cidade ano passado, com a Copa do Mundo, e desde então já arrebanhou um bom número de usuários. Mas o serviço pode vir a ser proibido. Na semana passada, a vereadora Vera Lins (PP), vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Municipal, apresentou o Projeto de Lei 1362/2015 pedindo a proibição da Uber e de qualquer aplicativo semelhante. “Isso com certeza aumenta a proliferação de táxis piratas, já que o cadastro é feito nos aplicativos sem nenhum tipo de verificação de antecedentes da pessoa, colocando em risco a segurança dos usuários”, opina.

Rodrigo conta que adotou os novos aplicativos de celular para táxis%2C que%2C segundo ele%2C são melhores do que cooperativasErnesto Carriço / Agência O Dia

A Uber, por meio de sua assessoria de comunicação, nega e informa que seus motoristas, para serem cadastrados, precisam apresentar carteira de motorista cuja categoria permita exercer atividade remunerada, além de certidão de antecedentes criminais nas esferas federal e estadual. Diz ainda que o motorista, quando aceito, tem de fazer seguro que cubra terceiros em um valor mínimo de R$ 50 mil, além de aulas de boas maneiras. O passageiro ainda avalia o motorista após cada corrida.

Outro que discorda da opinião da vereadora é o empresário Rafael Sampaio, 35 anos. Ele diz que conheceu a Uber pela internet há cinco meses e desde então não pega mais táxi. “Me sinto muito mais seguro dentro de um carro da Uber do que num táxi comum. Cansamos de pegar táxis caindo aos pedaços e motoristas grosseiros. Com a Uber, cujo valor das corridas é equivalente, os carros são novos, com wi-fi e os motoristas, bem educados.”

Procurada, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) respondeu que entende que o serviço da Uber é ilegal. “Quando a corrida é paga, torna-se um transporte remunerado sem o devido licenciamento, e configura-se uma prática sem amparo nas normas que regem a prestação desse serviço.”

Outra mudança foram os aplicativos de celular, que oferecem forte concorrência às cooperativas. O taxista Rodrigo Duarte é dono do carro, mas paga R$ 1.300,00 de aluguel da autonomia. Diz que já foi de cooperativa, mas que, desde que começou a utilizar aplicativos, como Easy Taxi e 99Táxis, roda a cidade toda por conta própria. “Cooperativa não compensa. Com os aplicativos é tudo mais fácil.”

Quanto ao serviço da Uber, ele engrossa o coro dos insatisfeitos: “Não passam de carros piratas que atrapalham nosso trabalho.” Rodrigo, no entanto, acha que os colegas também poderiam melhorar o serviço para enfrentar a concorrência. “Meu carro é novo, estou sempre bem arrumado. Creio que todos poderiam trabalhar assim. Por que não?”

Outra ‘ameaça’ a tirar o sono de taxistas é a Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando a Lei Federal 12.587, de 2012, que reconheceu o direito de transferência das licenças de táxi. Autor da ação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pretende impedir que os titulares transfiram as permissões a seus herdeiros e ainda vetar qualquer tipo de comercialização das autonomias. A ADI está no Supremo Tribunal Federal e ainda não foi avaliada.

Protestos estão previstos

Por meio de redes sociais, os taxistas do Rio marcaram assembleia para sábado, no Clube Boqueirão, no Centro, onde devem decidir sobre a paralisação no próximo dia 24. O vice-presidente da Comissão de Transportes da Alerj, deputado Dionísio Lins (PP), informou que em 15 de julho haverá uma audiência pública na sede da Escola de Samba União da Ilha do Governador. “Queremos que o Ministério Público faça uma apuração rigorosa sobre a Uber aqui no Rio de Janeiro e que suspenda os serviços até que tudo seja apurado”, diz o deputado.

Um motorista da Uber, que não quis se identificar, disse que, por muitos anos, foi taxista, mas que vendeu a autonomia, comprou um carro novo, um Corolla, e resolveu se cadastrar no aplicativo. Ele diz que é outro padrão de trabalho. No Rio, os carros da Uber são pretos e luxuosos, sempre nos modelos Toyota Corolla, Nissan Sentra e Ford Fusion. “Até minha relação com os passageiros mudou. Eu fumava no carro, ouvia som alto, recusava viagens. Isso tudo é passado”, afirma.


Enfrentando a competição

Para driblar as dificuldades do mercado, os taxistas devem se atualizar e fidelizar a clientela. Confira abaixo as dicas do diretor do Serviço Social do Transporte/ Serviço Nacional de Transporte, Edelcio Luduvice.

Aplicativos como Easy Taxi e 99Taxis são eficazes para captar passageiros rapidamente e dão opção de pagar a corrida com cartão. Quem aceita o “dinheiro de plástico” sai na frente.

Perguntar se o passageiro quer ouvir rádio e qual a estação que ele prefere, além de ter jornais e revistas no carro, ajuda a conquistar clientes.

Dirigir de forma imprudente ou em alta velocidade assusta o cliente e faz com que ele procure outro serviço. Cobrar corridas “no tiro” também abre brecha para reclamações.

A cordialidade do motorista é fundamental para conquistar o usuário.

Aprender outro idioma é um trunfo para atender melhor a turistas e estrangeiros que estão vivendo no Rio.

Uber chega a 57 países

Criada em 2009 nos Estados Unidos, a Uber está em 57 países. No Brasil, o serviço é oferecido no Rio, Brasília, São Paulo (onde a Câmara Municipal votou pela proibição na última semana) e Belo Horizonte. O aplicativo vem sendo alvo de protestos de taxistas em várias cidades. Em Nova York, os carros da Uber já superam os tradicionais táxis amarelinhos.


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