Rio - Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes. Ele é apontado como principal nome à solta da sangrenta milícia Liga Justiça, que domina serviços irregulares e impõe medo em territórios e condomínios do Programa Minha Casa, Minha Vida, na Zona Oeste. Ontem, atrás de pistas que levem ao homem de confiança do ex-policial militar Toni Ângelo Aguiar, ‘número um’ do grupo para-militar, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas cumpriu 50 mandados de busca e apreensão em 39 conjuntos, nos quais moram mais de 30 mil pessoas. Quatro homens foram presos, três deles em flagrante. Depósitos clandestinos foram estourados e farto material de contabilidade recolhido.
De acordo com o promotor de Justiça Luiz Antônio Correa Ayres, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, Carlinhos Três Pontes tem uma trajetória peculiar dentro da Liga da Justiça. Criado na favela Três Pontes - próxima à favela de Antares - ele ganhou a confiança do chefe por mediar o diálogo entre traficantes do Terceiro Comando Puro (T.C.P) e a milícia na Favela do Aço, onde a dobradinha criminosa, por vezes, impediu invasões de bandidos do Comando Vermelho baseados no Rola e Antares.
Toni Ângelo está preso desde 2013 e considera Carlinhos Três Pontes como seu sucessor natural. A ficha de Carlinhos é longa. Ele é acusado de liderar, em outubro de 2014, o atentado que matou Ricardo Gildes de Souza, o Dentuço, conhecido à época como o principal matador da Liga da Justiça. Os dois disputavam o controle da Gardênia, na Zona Oeste. Por lá e em bairros como Cosmos, Seropédica, Paciência, Sepetiba, Campo Grande e Santa Cruz, a milícia manipula cifras milionárias às custas de serviços de comércio de gás e cestas básicas, furtos de energia e TV a cabo, além de recolher o lucros de casas de prostituição.
HISTÓRIA
“O que se vê desde 2007, quando se intensificaram os trabalhos da Secretaria de Segurança contra grupos para-militares, foi a prisão de mais de mil milicianos e uma ação cada vez mais discreta”, explicou o promotor. De acordo com ele, o grupo que já se notabilizou por pichações com o símbolo do personagem Batman - apelido de Ricardo Teixeira da Cruz, preso com Toni Ângelo em Rondônia - hoje tem atuação quase discreta, mas ainda se valendo de informações privilegiadas passadas por agentes públicos.
Mesmo assim, uma placa apreendida ontem em um dos condomínios dava o tom da vida daqueles que vivem sob os mandos e desmandos de Carlinhos Três Pontes. “O porteiro só abrirá a porta para quem estiver com o condomínio em dia”, avisa sobre as altas taxas de segurança na área. Em 2009, ele foi condenado a três anos de reclusão por formação de quadrilha, mas está foragido. Na 35ª DP (Campo Grande), ele é alvo de outros dois inquéritos.
Coleção de apreensões
De acordo com o delegado da Draco, Alexandre Capote, a figura do síndico dos condomínios continua sendo fundamental para que milicianos exerçam o poder. Ontem quatro pessoas foram presas, três delas em flagrante e outra em cumprimento a um mandado de prisão.
Três centrais de distribuição de cestas básicas de grupos paramilitares foram estouradas, cinco carros roubados foram recuperados e três casas de prostituição pertencentes a milicianos foram fechadas. Em uma delas foram encontrados R$ 30 mil. Os policiais também fecharam uma cooperativa pirata de transporte alternativo e uma central de clandestina de distribuição de sinal de tv a cabo e internet com mais de mil assinantes.
Uma pistola com a numeração raspada, além de munições para fuzil, toucas ninja, porretes e fardas da PM e do Exército completam a lista. “Queremos precisar de quanto era o superfaturamento imposto aos moradores”, disse o delegado.