Por felipe.martins

Rio - Sempre atuante nos bastidores, mas sumido dos palanques e das aparições públicas desde março do ano passado, o ex-governador Sérgio Cabral reapareceu, discursou e foi ovacionado em ato do PMDB na manhã de hoje, na sede do partido. O encontro reuniu centenas de lideranças da legenda e marcou, enfim, o lançamento oficial do secretário Pedro Paulo Carvalho como candidato à sucessão do prefeito Eduardo Paes em 2016. 

O pequeno auditório não comportou os novos filiados, apresentados pelo presidente do PMDB Jorge Picciani, tampouco os assessores e aspones dos 67 candidatos a prefeito que o partido promete ter no Rio de Janeiro em 2016. Entre candidatos próprios e nomes apoiados, o partido se lançará a disputa diretamente em 83 das 92 cidades do Rio. Em clima de comício, o mais festejado de todos foi o ex-governador Sérgio Cabral, definido, entre outros predicados, como "grande líder" e "pensador" maior dos peemedebistas fluminenses. Tanto prestígio o levou a ser o último a discursar no ato, após o governador Luiz Fernando Pezão. Em cerca de 12 minutos, ele enumerou realizações, exaltou o partido e afinou o discurso com o antecessor, ao sair em defesa da governabilidade e do mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT). 

Ex-governador, ao lado de Eduardo Paes e Jorge Picciani, participou de lançamento da candidatura de Pedro Paulo à prefeituraDivulgação

"A presidenta é minha amiga pessoal. Não tenho a proximidade que o Pezão tem com ela, mas tenho falado com ela. Há uma discussão entre nós que é verdadeira, se essa crise é política ou econômica? É política, porque é por ela que resolvemos todos os problemas econômicos", afirmou Cabral, que foi "convocado" a participar da campanha de 2016 por Paes e Picciani. "Eu nunca deixei de me engajar", resumiu o ex-governador, que aproveitou seu discurso para "apresentar" Pedro Paulo e justificar a ausência do pré-candidato, em viagem oficial à Europa. 

Questionado sobre sua ausência da cena pública desde que renunciou em prol de Pezão, em março de 2014 Cabral afirmou que tem "educação política" e "soube qual era o seu momento". Quando saiu do governo, o ex-governador tinha baixíssima popularidade e praticamente não apareceu na campanha vitoriosa de Pezão - embora tenha sido voz ativa na articulação da dissidência do PMDB que apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência no ano passado.  "Aqui não tem espaço para polêmica, nós temos um time maravilhoso. Não vão encontrar em mim vaidade ou ego", garantiu. 

Feliz com a recepção dos antigos e novos aliados, Cabral era só sorrisos até para comentar o inquérito aberto contra ele, Pezão e o ex-secretário Régis Fichtner, desdobramento das investigações da Operação Lava Jato, que apura o escândalo de corrupção na Petrobras. A Polícia Federal arquivou o inquérito contra os três, mas este ainda precisa passar pelo Ministério Público Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça para ser encerrado. Tenho absoluta tranquilidade sobre os meus atos, pela forma que nos comportamos. Isso é leviana especulação", resumiu. 

No começo do ano, caciques da política fluminense projetavam que Sérgio Cabral tinha força política para voltar à cena como candidato à prefeitura do Rio. Perguntado, ele desconversou. "Quis ser prefeito há 20 anos atrás, perdi no segundo turno. Sou político, mas a hora é de pensar em 2016. Vamos deixar (o retorno) para mais à frente",disse Cabral. 

Pezão volta a falar em candidato próprio para 2018 

Ao comentar o momento do país, Luiz Fernando Pezão reforçou sua amizade com Dilma e sua defesa da governabilidade, mas voltou a prometer que o PMDB terá um candidato próprio nas eleições presidenciais de 2018. O fato de o partido estar para garantir o ministério da Saúde em reforma a ser feita por Dilma também foi comentado. "Devemos isso ao nosso líder na Câmara (Leonardo Picciani) que soube se colocar lá e mostrou a importância de um espaço maior. Todo mundo deve estar unido para salvar esse país, aqui não é a República das Bananas", afirmou Pezão. 

Mais uma vez, a defesa mais veemente de Dilma partiu de Eduardo Paes. O prefeito do Rio criticou duramente a oposição que tenta "supostamente prejudicar a presidenta, mas acaba jogando contra o Brasil". "A Dilma é uma pessoa decente, mas estamos num grau de instabilidade política exagerado, que prejudica os caminhos do país.  Alguns nomes só querem tumultuar", criticou o prefeito. 

No Rio, o presidente do partido Jorge Picciani promete que a legenda irá se manter fiel ao governo Dilma. Está prevista para os próximos meses uma consulta interna no PMDB nacional para decidir se o partido fica ou sai do governo. "Sair ou ficar é irrelevante. O importante é a governabilidade. Eu fui contra a aliança com o PT, mas aqui a gente sabe respeitar o resultado de eleição", garantiu Picciani. 

Paes sonha com Romário 

O nome do vice de Pedro Paulo em 2016 ainda é uma incógnita: o PT, que atualmente é vice de Paes com Adilson Pires, afirmou que apoia o nome do secretário, mas só abre mão do lugar na chapa se os senadores Romário (PSB) ou Marcelo Crivella (PRB) participarem da chapa. Uma corrente no PMDB, liderada por Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara dos Deputados, defende a composição de uma chapa 'puro-sangue'. Não por acaso, o nome do vice seria o do irmão de Leonardo, Rafael Picciani, secretário municipal de transportes. 

Perguntado sobre o assunto, o prefeito Eduardo Paes deixou tudo em aberto, mas ficou subentendida sua vontade de ver Romário ao lado do PMDB em 2016. "A gente vem conversando com Romário há um tempo. Eleitoralmente, ele é muito bem sucedido, esteve comigo e com o Pezão. Ele concorda que estamos mudando o Rio de Janeiro, deve ter suas críticas, mas tem sinalizado... Ele seria um senhor apoio, mas o sonho dele não deve ser a vice-prefeitura", reconheceu Paes. Segundo ele, uma chapa pura do partido, com Rafael Picciani de vice, também seria "fantástica". "Não nos faltam nomes. Estamos conversando para formar uma aliança", destacou. 

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