Por felipe.martins

Rio - A uma semana do início das mudanças que prometem melhorar o trânsito, retirando o excesso de ônibus na Zona Sul, ainda restam muitas dúvidas. Há, no entanto, pelo menos uma certeza: vai alterar a rotina de muita gente. No mínimo, 100 mil pessoas por dia terão que descer no meio do caminho e pegar uma condução a mais para percorrer o mesmo trajeto que fazem atualmente.

A conta se baseia no último relatório operacional disponível da prefeitura, de maio, que mostra que 1 milhão de passageiros utilizam diariamente as linhas e terão de se adaptar à racionalização. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), cerca de 20% dos usuários desses coletivos precisarão fazer integração. Ou seja, 200 mil passageiros (ou 100 mil pessoas, já que a grande maioria vai e volta).

Clique sobre a imagem pra visualizar o infográficoArte O Dia

O número pode ser ainda maior, já que a estimativa feita pelo DIA só considera as 21 linhas que serão encurtadas (veja infográfico). Além dessas, foi anunciado que 28 seriam extintas até o fim do ano, mas a SMTR estuda diminuir esse número. As primeiras devem ser eliminadas já a partir de 3 de outubro. Também serão criadas cinco linhas até dezembro.

O plano completo, a ser concluído em 2016, prevê eliminar ou modificar 70% das linhas que cortam a Zona Sul — e que hoje são sobrepostas — e retirar até 700 ônibus das ruas (35% da frota), melhorando o trânsito e reduzindo o tempo médio de viagem, mesmo que as pessoas tenham de fazer mais baldeações.

Isso é o que mais preocupa os passageiros, como o marceneiro Rodrigo Lira, de 30 anos. “Hoje pego um ônibus intermunicipal até a Central e um municipal para a Barra. Pago R$ 5,90 no Bilhete Único. Se tiver que pegar um terceiro, vou ter de pagar mais uma passagem”, diz o morador de São Gonçalo.

"Se eu tiver que pagar uma terceira passagem%2C vou ficar indignado", Rodrigo Lira, marceneiroMárcio Mercante / Agência O Dia

A preocupação dele é porque, no planejamento já apresentado, os ônibus que fazem a ligação do Centro à Barra, passando pela Zona Sul, serão extintos. Os passageiros desse trajeto terão de fazer baldeação em Botafogo. A SMTR, no entanto, garante que ninguém terá de pagar mais caro e que, as duas passagens incluídas no Bilhete Único Carioca, serão suficientes para todos os deslocamentos.

Plano definitivo deve ser apresentado até terça-feira

Perguntada, a Secretaria Municipal de Transportes não respondeu qual a estimativa do total de passageiros que devem ser atingidos pelas mudanças dos ônibus na Zona Sul. Segundo o órgão, o planejamento definitivo será apresentado até terça-feira. A Secretaria Estadual de Transportes informou que não estuda mudar as regras do Bilhete Único estadual, que dá direito a uma viagem intermunicipal e outra municipal, em três horas, com o valor de R$ 5,90. O Bilhete Único Carioca dá direito a dois ônibus municipais por R$ 3,40, em até 2h30. Para obter os cartões, os passageiros devem procurar o site da RioCard, bilheteria do BRT ou unidades do Poupa Tempo.

Especialistas preocupados

Especialistas consideram a racionalização importante para desafogar o trânsito, organizar o transporte e reduzir as emissões de poluentes, mas ressaltam que não pode haver prejuízo econômico para os passageiros. “O fato de quebrar a viagem de algumas linhas não pode significar aumento de custo, senão o planejamento não é bem-sucedido”, ressalta Ronaldo Balassiano, professor de Planejamento de Transportes da Coppe/UFRJ.

“Enquanto não houver integração tarifária de todos os modais (metrô, trens, ônibus e barcas), não é possível fazer a integração física. Tem que ter algum mecanismo que me permita usar quantos modais eu quiser num intervalo determinado”, sugere Alexandre Rojas, especialista em Engenharia de Transportes da Uerj.

Para o professor da Uerj, a espera pela integração deve ser de 3 a 4 minutos, no máximo, para que o tempo total de viagem compense ao passageiro fazer a racionalização. Os dois especialistas concordam que a comunicação do plano até agora foi falha. “Em todo lugar do mundo uma mudança desse peso é discutida com a sociedade. Aqui ninguém sabe o que vai acontecer”, diz Rojas.


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