Rio - A morte de uma jornalista no último fim de semana ao adentrar de carro numa rua do Complexo do Caramujo, guiada por um aplicativo; o desaparecimento misterioso de um casal cujo filho brigava com traficantes do mesmo conjunto de favelas, no último mês, e os recorrentes arrastões — como o de ontem — que amedrontam moradores de Niterói. Todos esses crimes ocorrem, segundo a polícia, pelos mandos e desmandos de Rodrigo da Silva Rodrigues, o Tineném, o homem mais procurado da cidade e número um do Complexo do Caramujo, considerado o epicentro do medo em Niterói, que se orgulha de figurar entre os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais altos do país.
De acordo com policiais civis e militares, o conjunto de seis comunidades está para Niterói, da mesma maneira que o Complexo do Chapadão está para o Rio de Janeiro. “É rota de fuga para a Região dos Lagos, São Gonçalo e tem acesso fácil para o Rio. Além disso, o território extenso, com mata e fronteira com outros morros, é o pouso perfeito para traficantes do Comando Vermelho egressos do Complexo do Alemão e dos morros do Bumba e Salgueiro, em São Gonçalo”, afirma o comandando do 12º BPM (Niterói), coronel Fernando Salema.
É justamente em uma região de mata que o criminoso pode estar escondido, acredita a polícia. “Sabe-se que ele trafega com frequência entre as localidades do Morro do Céu, Mundo Novo e Caixa D’água”, diz o comandante, que confessa ser difícil mapear a região e estabelecer reforço em todos os seus acessos. Como na tarde de ontem, quando blindados realizaram operação na região, em busca do criminoso, mas não apreenderam drogas, nem prenderam suspeitos.
Chama a atenção entre as autoridades de segurança o perfil sanguinário de Tineném. “Ele tem prazer em ordenar e executar com as próprias mãos. É extremamente violento e territorialista”, afirma o delegado Fábio Baruk, titular da Divisão de Homicídios da Niterói, onde constam mais de 20 procedimentos contra o traficante, sendo quatro mandados de prisão por homicídios e um por tráfico.
Segundo o delegado, será pedida até o final da semana a prisão preventiva do traficante pela morte do casal Edvaldo e Jane Correa, sequestrados no Morro do Céu após o filho deles se desentender com criminosos por uma barricada em frente à casa onde moravam. “Vizinhos reconheceram o Tineném entre os executores”, confirma o delegado. Os corpos podem estar em um lixão de difícil acesso.
Aplicativo vai continuar a indicar rotas
Em nota, o Waze lamentou a morte da jornalista, mas refutou qualquer possibilidade de deixar de indicar rotas que passem por comunidades. “As pessoas que moram nessas localidades também usam o serviço e precisam chegar em casa”, diz o texto. No entanto, o aplicativo se comprometeu a marcar reunião com os centros de operações das cidades e alinhar de que forma passará a agir.
A Prefeitura de Niterói negou a possibilidade de fornecer qualquer mapeamento ao aplicativo, por entender que esta responsabilidade pertence à polícia.
Em sua página no Facebook. ONG Maré Vive dá dicas a quem entrar por engano em favela: “Jamais engate a ré. Nunca tente voltar! Coloque o farol baixo; ligue a luz interna do veículo; abaixe os vidro; encontre uma pessoa e peça informação; se fora bordado por homens armados, não faça movimento brusco e diga que está perdido.”
Placas de aviso e mais policiais
A morte da jornalista Regina Stringari Múrmura, alvejada por disparos depois de entrar na Rua Quintino Bocaúiva, no Complexo do Caramujo, guiada pelo aplicativo de GPS Waze, quando na verdade pretendiam ir para a avenida de mesmo nome, reacendeu a polêmica sobre a possível indicação de áreas de risco em territórios urbanos.
O comandante Fernando Salema, disse que pretende solicitar a instalação de placas com o indicativo a alguns dos principais acessos ao conjuntos de favela à prefeitura da cidade e ao governo do estado. “É difícil mapear um estudo da região e ainda mais definir alguma região como ‘perigosa’ ou não. Mas é necessário este debate.”
Ontem, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, ressaltou que o Caramujo possui uma Companhia Destacada. “Precisamos de mais efetivo”, resumiu ele, que avalia a necessidade de mais 200 PMs. A cidade tem 500 mil moradores e 1.150 policiais.
Após o enterro da esposa, o empresário José Francisco Múrmura lembrou os momentos de horror. “Já estava saindo da rua e eles dispararam. Perdi a minha companheira de vida”. Segundo policiais, a ordem de Tineném é alvejar qualquer carro suspeito.
Cuidados
Para o programador de informática e idealizador de aplicativos Sávio Nogueira, apesar de benéfico, o uso de ferramentas do gênero requer alguns cuidados.
“Ruas homônimas em municípios diferentes, ou mesmo caminhos mais curtos para a mesma localidade, podem levar ao perigo. O ideal é consultar mais de um recurso tecnológico e, se possível, recorrer à boa e velha indicação de um conhecido”, afirma. Conferir o itinerário em sites de busca ou digitar o nome do estabelecimento para o qual se está indo, ao invés do nome da rua, podem ser boas opções.