Rio - O verão carioca deverá ser o mais quente dos últimos anos. E isso é só o começo. Os termômetros na capital vão subir 1 grau nos próximos cinco anos, segundo alerta global feito ontem pela Rede de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, que reúne 600 cientistas de 150 cidades.
No mesmo período, o nível do mar na região será elevado em até 14 centímetros, um a mais do que em Buenos Aires, na Argentina, e em Lima, no Peru. O cenário projetado para a cidade é o pior da América Latina.
Veja dados das mudanças que afetarão o Rio
As previsões vão afetar diretamente a saúde dos moradores do Rio de Janeiro. O principal perigo é a disseminação de doenças respiratórias, cardiovasculares, gastrointestinais e outras infecciosas como dengue e leptospirose. A conclusão é do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), que está à frente do primeiro núcleo latino-americano da rede internacional, junto com a Coppe da UFRJ.
“O clima pode agravar várias doenças. A cidade tem que se preparar para enfrentar essas alterações, que afetam principalmente a população de baixa renda”, constata a pesquisadora da Fiocruz, Martha Barata, enfatizando que o clima precisa ser considerado no planejamento urbano. “Não podemos continuar erguendo residências e fábricas em áreas que correm grande risco de sofrer com enchentes no futuro”, diz ela.
As pessoas mais vulneráveis ao calor são os idosos e os bebês, cujos organismos têm menos capacidade de adaptação e defesa. As projeções apontam ainda que, em 2080, as temperaturas no Rio subirão 3,4 graus, mesmo acréscimo previsto na cidade de Cubatão, no interior paulista. Já o nível do mar vai avançar entre 37 e 82 centímetros, em 65 anos.
A pesquisa chama a atenção para os problemas que impactam o dia a dia da população nas metrópoles, como a formação de ilhas de calor — bairros com temperaturas acima da média, como Bangu no Rio — desabastecimento de água e as inundações em áreas costeiras.
A situação do Rio é agravada pela ocupação desordenada em encostas e pela falta de saneamento básico nas comunidades de baixa renda. A pesquisadora recomenda que os governos adotem políticas públicas para evitar tragédias provocadas por catástrofes ambientais.
“Além disso, a sociedade também tem de assumir a sua parcela de responsabilidade. Não pode jogar a culpa só no governo. É preciso priorizar o transporte público e não agravar o desmatamento”, recomenda a coordenadora do Núcleo, Martha Barata.
Nível do mar elevado causa enchentes
Dos 92 municípios fluminenses, o Rio de Janeiro é o mais vulnerável pelas mudanças climáticas previstas para as próximas três décadas. O alerta faz parte do Mapa da Vulnerabilidade da População dos Municípios do Estado do Rio, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Entre os perigos que ameaçam a capital estão o efeito estufa e as enchentes agravadas pela elevação do nível do mar. Em uma escala que vai de 0 a 1, o município do Rio está no nível 1, por ter grande vulnerabilidade nas áreas de saúde e meio ambiente.
O índice de vulnerabilidade classifica os municípios quanto ao grau de atenção que terá que ser dado frente às esperadas mudanças climáticas. Quanto mais próximo de 1, maiores as chances de eles serem afetados. De acordo com a pesquisa, as cidades de Angra dos Reis e Paraty, na Costa Verde, Teresópolis e Petrópolis, na Região Serrana, estão em situação de elevado risco ambiental.