Por gabriela.mattos
Jovens tiveram corpos pintados com tintas spray e foram agredidos com barra de ferroReprodução Vídeo

Rio - A agressão aos grafiteiros provocou reação imediata nas redes sociais e um protesto foi marcado para este domingo, na Saara. A manifestação, esta quarta-feira à noite, já tinha confirmada a presença de 3 mil pessoas. Outras 3 mil demonstravam interesse em participar do ato.

“Foi um crime de tortura. Os rapazes foram humilhados, agredidos, ameaçados. Felizmente foi um ato atípico, pois não há perseguição ao grafite no Rio”, disse Pamela Castro, grafiteira há dez anos.

Os grafiteiros, no entanto, estão divididos nas redes sociais. Enquanto alguns pretendem uma manifestação pacífica, outros sugerem outro tipo de atuação, mais combativa.

“Essa gente é ruim, mata rindo, não gosta de usuário de drogas, moradores de rua, qualquer pessoa pra eles é vagabundo, fazem parte de grupo de extermínio, tem em sua concepção que a lei deles é a que vale, picotam, degolam e desaparecem com pessoas que eles matam pra manter sua área limpa, cobram taxas de segurança pra lojistas”, disse um dos grafiteiros.
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Agressão mobilizou OAB
Barbaridade, humilhação, covardia, tentativa de homicídio. Estas foram as palavras utilizadas pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Marcelo Chalréo, para classificar a sessão de tortura sofrida no Centro do Rio por três jovens grafiteiros de Duque de Caxias, no último sábado. As vítimas acusam seguranças do Camelódromo da Rua Uruguaiana, na Saara (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), pela agressão. Eles foram confundidos com pichadores e agredidos com barras de ferro, além de ter os corpos pintados com as tintas dos sprays usados no grafite.Um vídeo feito pelos próprios agressores circula na internet desde terça-feira.
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“As cenas são bárbaras. Eles (os rapazes) estão muito nervosos. Um deles praticamente não para de chorar e chegou tremendo”, disse Chalréo. “São meninos pobres, humildes, de famílias simples, que desenvolvem a arte do grafite no Rio, que é permitida por legislação municipal. Existe uma comunidade grande de grafiteiros que se reúne sob os auspícios da prefeitura. A lei garante o exercício dessa atividade.”

Nas imagens, um dos vigilantes ataca um dos grafiteiros e diz para ele não olhar para os agressores. “Se olhar para mim vou estourar a tua cara. Está com muita bronca olhando para a minha cara. Um dos jovens implora pelo fim das agressões. “Por favor, cara, tenho família”. “Eu também tenho família, p..., estou aqui pra sustentar minha família, p...”, responde um dos agressores.

Um dos jovens agredidos, em depoimento numa rede social, desabafou. “Fomos abordados por cinco acéfalos na madrugada, que nos agrediram com barras de ferro por nos confundirem com vândalos. Tive duas fraturas na perna. Até quando preconceitos vão oprimir cidadãos trabalhadores para satisfazerem seu ego?”, escreveu a vítima, que postou foto da perna esquerda engessada.

O presidente do Pólo Centro Rio Saara, Denys Darzi, que representa comerciantes mais tradicionais da região, lamentou o episódio. “Me deixou muito triste, isto é uma barbárie, lamentável que isso tenha acontecido”, disse Darzi, que negou ter qualquer tipo de relação com os seguranças em nota divulgada à imprensa. Segundo o comerciante, a Polícia Civil já havia sido alertada sobre o trabalho ilegal dos vigilantes na região.
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“Estes seguranças fazem parte de um grupo irregular, que vem atuando de forma ilegítima, sob a orientação de seus contratantes. No ano passado, o Polo procurou formalmente pela Polícia Civil, solicitando uma investigação sobre a origem deste grupo que circula pela região para, supostamente, garantir a paz e a segurança mas, que na verdade, age com violência e absoluto despreparo”, disse Darzi na nota, se colocando à disposição das autoridades para apuração do caso.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB rebateu a nota divulgada pela Saara: “Nessas horas essas pessoas e organizações sempre dizem que não estão em suas responsabilidades. A autoridade policial vai apurar isso para verificar a responsabilidade dos contratantes destas pessoas, que procederam como verdadeiros criminosos.”
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O deputado estadual Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, também protestou. “É um caso grave. Segurança não é polícia. E ainda que fosse não poderia agir fora da lei. Espero que respondam por isso”, disse Freixo.
O delegado Cláudio Vieira, da 4ª DP (Praça da República), esteve na OAB, onde os jovens foram ouvidos, e disse que aguarda os jovens para prestarem depoimento na delegacia.
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