Rio - Meu nome é Denise, e há quase oito anos a minha vida e a de minha família mudaram radicalmente. O autismo entrou em nossa rotina, sorrateiro, e sem pedir licença, através do diagnóstico de meu filho caçula, então com 3 anos. Ainda não existe cura, mas o diagnóstico precoce e o tratamento transdisciplinar são vitais para que a pessoa com o transtorno conquiste autonomia, além de proporcionar melhora em sua qualidade de vida, bem como a de seus familiares.
Assusta-me pensar que no Estado do Rio de Janeiro existem, aproximadamente, cerca de 160 mil pessoas com autismo. O que torna este índice ainda mais assustador é o fato de que 80% deste contingente não é sequer diagnosticado. Aqueles que porventura conseguem o diagnóstico não possuem condições financeiras para proporcionar a seus filhos o tratamento adequado, que envolve a participação de diversos profissionais, dentre eles psiquiatras, neuropediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e outros mais.
Mais revoltante, entretanto, é o fato de nosso estado não oferecer na rede pública de saúde este tratamento, e as poucas instituições que o fazem apresentam filas de espera de meses. Este sentimento de indignação e inconformismo me motivou a criar, junto com outras mães de crianças com autismo, um grupo cujo objetivo principal é debater ideias, buscar alternativas e soluções para mudar este triste panorama de descaso e abandono em que os autistas e suas famílias se encontram atualmente.
Objetivamos, através de debates, conscientizar as famílias sobre a importância do voto consciente, uma vez que, daqui a dois domingos, já teremos eleições. É imperioso termos representantes na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal que sejam comprometidos com a causa autista.
A eleição de parlamentares pode contribuir na construção de leis que beneficiem as pessoas com autismo, para cobrar de forma efetiva o cumprimento das leis que já existem. A Lei 6.169/12, que dispõe sobre a criação dos Centros de Reabilitação Integral para Autistas e Deficientes Mentais, por exemplo, foi sancionada há mais de dois anos e, até agora, não saiu do papel, pois nenhum centro foi construído.
O lema do nosso grupo é “Minha vida é azul, e meu voto também”. O azul é uma alusão à cor escolhida pela ONU, em 2008, para simbolizar a síndrome, uma vez que a prevalência do autismo é maior em meninos do que em meninas. É necessário que as autoridades ouçam o grito de socorro de todas estas famílias! Já passou da hora de as pessoas com autismo terem seus direitos respeitados! Autistas têm voz e têm vez! E a voz dos autistas será ouvida nas urnas.
Denise Aragão é relações-públicas e mãe de um autista