Por bferreira

Rio - Questiono bastante o uso, a exposição e a exploração de imagens de crianças e adolescentes pela mídia. Volta e meia, algumas campanhas publicitárias, por exemplo, passam do limite quando colocam meninas e meninos em poses sensuais. Talvez, vocês tenham visto o caso mais recente: o ensaio/editorial Sombra e água fresca, da revista ‘Vogue Kids’, veiculada junto à ‘Vogue Brasil’, de setembro. Acusada de violar princípios básicos ligados à proteção integral da criança, a revista foi tirada de circulação por ordem da Justiça. O fato – já noticiado – chocou pais, responsáveis e especialistas no assunto.

Ainda bem. Mas que pena que este caso, assim como outros similares, não seja amplamente discutido. Não é debatido porque simplesmente se tornou banal e sem importância. Como se tudo isso fosse normal em nossa sociedade. Não, não é. Os impactos de tal exposição são muitas vezes danosos, numa sociedade em que há, digamos, um pseudodiálogo franco e contínuo entre pais e filhos e em que supostamente não há nada a ensinar a crianças e jovens, afinal tudo está dito e explicado no Google.

Uma das últimas modas entre meninas cariocas pré-adolescentes é criação de grupos fechados no Facebook, onde postam, sem cerimônia, fotos nuas de si mesmas. Objetivo? Simplesmente se exibir para os meninos da própria turma da escola. A disputa é quem ganha mais curtidas.

Dizer que esses casos estão diretamente ligados à exposição, à adultização de crianças e adolescentes pela mídia pode ser um exagero? Acho que não. Sem dúvida, trata-se de uma consequência, inclusive, natural. Tal fato é fruto, sim, de uma sociedade comercialmente sexualizada, do culto ao corpo. Ir contra a todo este cenário parece, às vezes, impossível. Mas quando esses casos batem à porta da minha ou da sua família nos assustamos e vemos o quanto a infância e a juventude estão precisando de diálogo. O quanto estamos banalizando certas práticas, atitudes e valores.

Marcos Tavares é professor e jornalista

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