Por thiago.antunes

Rio - No último domingo, o prefeito concedeu entrevista ao programa Jogo do Poder, da Rede CNT, com participação do jornalista Caio Barbosa, do DIA, (publicada na íntegra no DIA Online), e para defender as realizações de sua gestão no âmbito da Educação foi irônico e debochado em suas declarações, ofendendo levianamente a memória de minha relação com meu avô. Para rebater minhas críticas em relação ao uso eleitoreiro do nome de Leonel Brizola em sua “fábrica de escolas”, disse que desconheço a história de meu avô e que não aprendi nada do que ele me ensinou.

O prefeito - com total falta de respeito - desconhece o fato de que sou o neto mais velho e de que trabalhei com meu avô desde 15 de novembro de 1993, quando tinha 17 anos, de segunda a sexta-feira, das sete da manhã à uma e meia da tarde, com plantões nos finais de semanas. Meu avô achava importante para a formação do jovem a responsabilidade do trabalho. A luta política e o exílio o impediram de dar uma atenção maior aos filhos e na maturidade, governador do Rio de Janeiro, conseguia ser um avô presente e atento, sempre pronto a transmitir de maneira filosófica e prática sua visão humanista e igualitária. Nessa convivência diária, aprendi o que é ser brizolista. Consultando a história de Brizola e seu legado político não há nada que indique ou justifique uma aliança com o Eduardo Paes, pelo contrário, o atual governo é a antítese do brizolismo.

A trajetória política de Leonel Brizola no Rio de Janeiro foi pautada na luta contra o chaguismo e em 1986 foi o único político que denunciou o Plano Cruzado implantado pelo Presidente José Sarney. Vale lembrar: o Plano Cruzado elegeu Moreira Franco, derrotando Darcy Ribeiro, braço direito de Brizola. Não podemos esquecer que foi Moreira Franco que iniciou a destruição dos CIEP’s.

É estranho esse súbito “brizolismo” de Eduardo Paes. As visões políticas são radicalmente distintas, principalmente nas questões de moradia e mobilidade dos trabalhadores. A titularidade dos terrenos da Vila Autódromo foi concedida por Brizola e hoje presenciamos a remoção truculenta e absurda de seus moradores. Brizola promoveu a integração da cidade colocando linhas de ônibus diretas da zona norte à zona sul. Hoje linhas tradicionais foram extintas, dificultando a mobilidade da população. Brizola introduziu a política de direitos humanos no Estado. Atualmente, em nossa cidade, o que impera é a criminalização da juventude pobre da periferia.

O prefeito afirmou que a escola de turno único é uma evolução em relação aos CIEP’s, mas as aulas terminam às duas e meia da tarde. É evolução os jovens ficarem três horas a menos na escola? Ao longo de um ano quantos dias letivos são perdidos com essas três horas a menos? Isso representa um retrocesso em relação aos CIEP’s onde as aulas acabavam as cinco e meia da tarde, eram dadas quatro refeições, havia médico, dentista e a aula de reforço com um segundo professor concursado.

O prefeito entregou a educação do município à Fundação Roberto Marinho através de contratos sem licitação para a produção de tele-aulas. Ao invés de professores, os alunos têm aulas de reforço escolar da tele-sala. Brizola, diferentemente do prefeito, combateu intransigentemente o poder político e cultural da Rede Globo.

Como o prefeito pode homenagear Leonel Brizola em seu programa educacional e ao mesmo tempo destruir os CIEP’s que restaram? Para conseguir apoio dos brizolistas assinou a lei de tombamento dos CIEP’s, aprovada por unanimidade na Câmara Municipal. Depois, para atender

interesses imobiliários, os destombou na calada da noite. No CIEP de Santa Cruz ele construiu uma UPA. A biblioteca do CIEP em Jacarepaguá foi transformada em sede da Região Administrativa e em Magalhães Bastos o CIEP foi atropelado pela construção Transolímpica.

A Educação, para Leonel Brizola, era uma condição fundamental para o desenvolvimento econômico soberano da Nação. Essa concepção vem desde a época em que ele foi prefeito de Porto Alegre, cuja gestão tinha como lema “Educação Popular e Desenvolvimento Econômico”.

O CIEP, em sua concepção original, não está separado do respeito pelos direitos humanos; das ações para eliminar a segregação social; das políticas de transporte e de saúde de qualidade e da racionalização da gestão pública para o atendimento dos mais necessitados.

Leonel de Moura Brizola é um herói nacional. Seu nome merece respeito. Não pode ser usado como recurso de retórica marqueteira para perpetuar uma política que faz do Rio de Janeiro o quintal dos interesses multinacionais. O prefeito, por sua vez, representa a síntese entre PSDB e PMDB, a antítese de Brizola, e deveria ter coragem de assumir isso. É tempo de tirar as máscaras e acabar com a hipocrisia na política brasileira.

Leonel Brizola é vereador pelo Psol

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