Rio - É curioso que o Rio, ao mesmo tempo em que executa grandioso programa de obras públicas, comparáveis no volume e na repercussão na vida da cidade às operadas por Pereira Passos e depois por Lacerda e Negrão de Lima, conviva com o descaso das autoridades em relação a detalhes muito importantes.
É a constrangedora tolerância, que beira a irresponsabilidade, em relação à crescente população de rua, 24 horas por dia, ocupando espaços que são atrações da cidade e deveriam servir à população. Ao invés disso, tornaram-se pontos negros da segurança, em locais estratégicos como o Passeio Público, a Praça da República, os jardins do Museu de Arte Moderna e a Praça Salgado Filho, no Aeroporto Santos Dumont.
Calcula-se que as ruas do Centro, ao anoitecer, abrigam quase mil pessoas, boa parte na Avenida Rio Branco, que se tornou lugar perigoso e arriscado para os que trabalham até mais tarde. Policiamento zero; revista para busca de armas e instrumentos cortantes zero. Revista, só para os passageiros que embarcam no aeroporto. No caso do Santos Dumont, é consentida a presença de menores pseudoengraxates, que prejudicam trabalhadores que pagam pelas cadeiras em que exercem seu ofício no saguão e causam incômodo aos passantes.
As calçadas do Leme ao Leblon, nas transversais abrigariam mais de mil pessoas. Todos precisando de assistência social, pois são menores, ou alcoólatras, ou pessoas com problemas psiquiátricos que deveriam ser atendidos de forma correta. E, claro, parte de aproveitadores que vivem de delitos. O Tunel Sá Freire Alvim virou uma cracolândia.
O fenômeno é mundial. Mas a indiferença é que marca nossas cidades, a começar pelo Rio. Uma opção preferencial dos governantes por infratores, contra o cidadão contribuinte e trabalhador. Assim, de que adiantam os museus, as zonas recuperadas, a melhoria na mobilidade urbana?
Por isso é que a população quer mudar, quer gente nova, sem prejuízo do reconhecimento aos feitos pelos formados na velha escola do “politicamente correto”, do medo das críticas dos radicais. Não entendem que o povo goste de autoridade, ordem e respeito à ética pública e pessoal. Detalhes que se inserem no momento que vivemos. Parece que não entenderam o recado de domingo. País limpo, ruas e praças também!
Aristóteles Drummond é jornalista