Rio - Este artigo foi escrito nesta quarta-feira. Pela rapidez com que evolui a situação, corre o risco de estar defasado. Até sábado, o assunto era o pedido de prisão de Lula feito pelo MP paulista. Domingo, a conjuntura mudou com as gigantescas manifestações pela saída de Dilma. Segunda-feira foi marcada pelas notícias da possível nomeação de Lula como ministro, para protegê-lo de mandado de prisão expedido por juízes de primeira instância. Lula teria seu destino determinado pelo STF. A nomeação foi confirmada ontem.
Terça-feira apareceram o depoimento do senador Delcídio Amaral, que joga na lama petistas e tucanos, e a gravação de conversa de Mercadante com assessor de Delcídio. Nela, o ministro tenta barrar a delação premiada. Amanhã haverá manifestações pró-Dilma. Serão menos expressivas do que as da direita, domingo passado. E terão menos espaço na mídia, que fará a comparação, mostrando que o governo está isolado e sem apoio popular.
A Constituição, porém, não contempla a destituição de governos impopulares. O afastamento de um presidente precisa se apoiar em fatos previstos na lei. Dilma e o PT fizeram por merecer a atual situação. Cometeram estelionato eleitoral, prometendo um programa e adotando o de seus adversários. Fazem um governo de direita. E se “lambuzaram”, para usar expressão do ministro Jacques Wagner.
Nesse quadro, pedir eleições gerais organizadas pelo STF, como fazem alguns, tem um problema: pelo caminho legal, seria preciso uma emenda constitucional. O Congresso a aprovaria, extinguindo os mandatos de seus integrantes?
Ou a medida viria por um caminho extralegal? Nesse caso, seria resultado de um levante popular ou de uma intervenção militar. Está no horizonte a primeira hipótese? Parece claro que não. Assim, defender caminhos extralegais só fortaleceria a direita.
A esquerda não deve apoiar Dilma. Tem que ter cara e agenda próprias, afirmando suas propostas, mas opondo-se à derrubada da presidente. Essa derrubada, além de ser eivada de ilegalidade e abrir um precedente perigoso, poria no poder gente pior do que Dilma e o PT. Basta ver o tal programa “Ponte para o futuro”, do PMDB, que tem o apoio tucano. Ele é um verdadeiro trem-bala para o passado.
Cid Benjamin é jornalista