Por felipe.martins

Rio - Atocha chegou e, de alguma forma, há uma tentativa de acender o espírito de euforia na população por estarmos recebendo pela primeira vez o maior evento do mundo. O problema é que não há motivo nenhum para comemoração. No Rio, milhares de trabalhadores estão sem receber salários, pacientes agonizam nas filas dos hospitais e as escolas estão sucateadas. A amarga cereja do bolo foi a queda da ciclovia em São Conrado, matando duas pessoas. Portanto, não parece haver motivo para celebrar nada.

Ao contrário, essas perdas despertam indignação pela falta de fiscalização do poder público, que insiste em passar a imagem positiva, camuflando problemas críticos da cidade. Um desrespeito a todos os cidadãos.

Depois de percorrer o país, o símbolo maior da competição chegará ao Rio e seria interessante incluir no trajeto da tocha os escombros da ciclovia, hospitais e escolas desvalorizados para mostrar ao mundo a realidade brasileira. A obra de R$ 45 milhões que, em menos de quatro meses, desabou é o símbolo do que os grandes eventos trouxeram para o país: urgência em detrimento de obras de qualidade.

A negligência do governo é clara, começando por assinar contrato com uma empresa envolvida em uma Ação Civil de Improbidade Administrativa por superfaturamento em contrato com o governo do Espírito Santo. Como se não bastasse, elegeu a empresa para gerenciar sua própria obra, tendo a atribuição de prestar contas daquilo que ela mesma realizaria. Por óbvio, não fiscalizou como deveria. A tragédia não só coloca em xeque toda a construção, mas, também outras obras que andam a toque de caixa por conta do tempo. Já temos a Vila do Pan que está literalmente afundando, mas parece que isso não serve como exemplo e em sinal de alerta para aqueles que estão à frente do processo.

Embora afirmem que os jogos deixarão muitos legados, seria muito mais importante que investimentos fossem direcionados para interesses efetivos da população. O aporte de R$ 40 bilhões, sendo cerca de 40% vindo dos cofres públicos para um evento de pouco menos de 30 dias, é aviltante em um país sem infraestrutura de transporte, saúde e educação. Não há herança que explique a opção pelo evento em detrimento da dignidade de milhões de brasileiros. Legado para quem?

João Tancredo é advogado


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