Por cadu.bruno

Rio - O gesto natural de quem ama o Rio será sempre o de acarinhá-lo, o de se orgulhar dele, o de defendê-lo das mazelas impostas, inclusive pelos maus administradores. O procedimento oposto será sempre o velhaco, o mesquinho, até o de difamá-lo (especialmente junto aos estrangeiros), atitude, como as demais, abominável e desrespeitosa para com o espírito da cidade.

O cronista João do Rio, lá pelas décadas ingênuas dos anos 10 e 20, chegou a apontar um solitário vandalismo, ao deparar, horrorizado, com a “gravíssima infração” de um desenho de coração pichado em vermelho no Theatro Lírico, com a clássica seta transpassando-o. E deixando escritos os nomes do apaixonado grafiteiro e o de sua Julieta. Que diria o escritor obre o que ocorre hoje, com os rabiscos dos porcalhões infestando a maioria dos edifícios públicos e privados, dos monumentos, das esculturas e das obras de arte?

Há dias li que um leão, moldado em belíssima escultura de bronze, postada há quase cem anos no Parque Guinle, foi danificada. Por nada, para nada, sequer para roubá-la. Não creio que uma pessoa normal, de qualquer condição, adulta ou criança, seja capaz de bestialidade tamanha.

O mais grave é que ataques como o desta semana vêm ocorrendo com assiduidade assustadora. O coração me condói a cada agressão, em especial quando as vítimas são esculturas mais antigas, como as de Mestre Valentim. Agredidas sem dó nem piedade no Passeio Público e no Paço Imperial.

E o que dizer da insanidade de destruírem por dezenas de vezes os óculos do poeta Drummond, posto em homenagem pública na Avenida Atlântica? Logo os óculos, meu Deus, infligindo a ele, observador das culminâncias da beleza, a cegueira mais cruel.

As razões dos crimes? Certamente que a falta de noções de cidadania nas escalas primárias. Cabe ensinar às crianças de hoje, os adultos de amanhã, que a cidade nos pertence a todos. Aduzo outro dado fundamental, a que o pensador inglês Bernard Show deferia importância capital como elemento regulador do proceder humano: punibilidade severa aos agressores. Especialmente, ele acentuava, em relação aos bens que nos são comuns, como os das ruas, das praças, das veredas. Agredir a beleza não pode merecer perdão. Muito menos comiseração.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Inst. Cultural Cravo Albin


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