Por thiago.antunes
Rio - E aí? Tudo direitinho? Acho difícil. Se você lê jornal de vez em quando, e ainda bem que lê, acho difícil ficar incólume a essas loucuras que a gente presencia diariamente. Nossos governos e parlamentares estão se superando na corrida rumo ao lixo da história.
O problema é que a gente tá indo junto. Agora mesmo, por exemplo, o digníssimo Congresso está aprovando uma medida permitindo que partidos façam o que quiserem sem receber punição. Ó, dó. Como pode isso?
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Por essas e por outras, sempre me pego pensando em pesquisar se essas sandices acontecem também em outros países. Claro que acontecem, mas duvido que seja com a mesma frequência. O ritmo aqui é insano.
Tem um livro de que gosto muito chamado ‘Se vivêssemos em um lugar normal’, do Juan Pablo Villalobos. Nem vou falar da história, que é engraçadíssima e, ao mesmo tempo, um retrato cruel da vida latino-americana. Vale a pena ler. Mas lembro dele porque o título resume o que sempre me vem à cabeça: como seria se vivêssemos num lugar normal?
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Não somos normais. Não somos. A civilização brasileira, que poderia salvar o mundo graças à grande mistura que nos formou, é chegada nas mais variadas esquisitices, e elas vão levar para o buraco tudo o que conseguimos fazer de bom. Danar a coisa toda é uma questão de tempo. Não sou pessimista. Tanto que sou botafoguense, modéstia à parte.
Um exemplo do que falo. Aqui na Galeria Gambier, na Rua do Catete, duas irmãs criaram uma biblioteca livre. Coisa de primeiríssimo mundo. O leitor não paga nada, não precisa de registro, carteirinha, nada dessas burocracias.
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Funciona tudo na base da confiança. Você deixa lá os livros que quiser e leva pra casa os que lhe interessarem. A premissa, claro, é que você os pegue para ler e depois, sem pressa, devolva-os para as prateleiras. Simples assim.
No entanto, como não vivemos num lugar normal, existe um certo cidadão, cuja imagem já foi até capturada pelas câmeras de segurança do prédio, que surrupia os livros para vendê-los. Acho incrível.
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Como a biblioteca está numa área de acesso livre a todos, e nem poderia ser diferente, o sujeito quebra a cadeia de confiança e, assim, dá mais uma demonstração de como podemos ser mesquinhos. É dura a vida honesta. Mas vamos resistir.
Nelson Vasconcelos é jornalista