Por bianca.lobianco

Rio - Está de volta a velha temática rebelde de 1968, paixão dos repressores, legisladores e formadores de opinião que atravessam a História, querendo ditar a moral e regular os costumes. Passam batidos pela “garantia ao direito à liberdade”, claro na Constituição; buscam fundamento para seu desejo de poder em brechas de interpretação. São mestres na articulação de palavras, apaixonados em castrar e proclamar o que é certo e errado.

Proibir que se cantem sambas em que delicadamente se diz “o teu cabelo não nega, mulata” ou “quero a mulata sapateando no meu caixão” ou ainda “esse mulato inzoneiro”, de ‘Aquarela do Brasil’, é varrer a cultura brasileira para uma lixeira que não é possível.

A questão da “apropriação cultural” ligada ao uso de turbantes é uma loucura. Quem disse são propriedade da cultura negra? Entendo que quem veste um acessório de outra cultura, numa interpretação positiva, está muito mais perto da valorização do que da apropriação indevida e dominação.

Afinal, existem tantos modos de interpretar as intenções que restringir o uso de algum ícone cultural como exercício de poder fica secundário e raivoso. Talvez o sentimento inerente de inferioridade das minorias produza essa revolta em relação à maioria, que por questões de tendência e ditames da moda acaba se enfeitando sem mesmo se dar conta ou ter como objetivo ofender e se apropriar de algo que não lhe pertence.

Por outro lado, não seria saudável esse agenciamento entre todas as culturas? O livre trânsito sem patrulhamentos e ofensas, a boa base do relacionamento intercultural como uma consequência natural e vivência antropológica entre povos. Qual o problema da indústria da moda usar um produto de modo descontextualizado?

O mundo é capitalista, as discussões, infindas, e o politicamente correto acaba incorreto, se perde em exigências inviáveis refletindo ódios desnecessários que terminam como leis que nascem mortas. Inviabilizar a liberdade de expressão na arte e na cultura é inibir a criatividade, esse grande patrimônio da humanidade.

Não me leve a mal, hoje é Carnaval, opinião não é palavrão, e cada um tem a sua!

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