Por thiago.antunes

Rio - Quanto tempo por dia você passa no seu carro? Duas ou três horas — e olhe lá. Depois disso, o possante fica ocioso. Mas, se existisse um sistema de transporte capaz de suprir suas necessidades básicas, você não abriria mão de ter um carro somente seu? Não estamos falando de táxis, uber ou ônibus, mas de um veículo que, no momento certo, estará esperando por você na hora e no local marcados. Detalhe: não precisa nem de motorista. Acho tentador.

Parece ficção, mas haverá serviços assim em breve. Não é à toa que gigantes como a Google estão criando veículos autônomos, ou seja, dirigidos a distância, via computador. Será uma baita guinada no planeta.

Calcula-se, por exemplo, que 50 milhões de carros compartilhados podem substituir um bilhão de particulares — uma bênção para todos, menos para a indústria automotiva, claro. O grande nó para que isso vire realidade é popularizar a tecnologia capaz de administrar toneladas de informações na hora certa, exigindo um poder de processamento inimaginável. Questão de tempo.

No fim das contas, estamos falando aqui do casamento cada vez mais apaixonado entre tecnologia e circulação de informação. Veja-se a internet. Pense em como a vida de políticos (e jornalistas) anda mais difícil graças às redes sociais. Ou pense em como o Facebook ‘adivinha’ os seus objetos de desejo e, muito habilmente, trata de oferecê-los em anúncios que piscam a todo momento em sua tela. Essas e outras manhas são frutos da crescente força do tráfego de informações. Apenas isso.

Para continuar essa conversa, sugiro aproveitar ‘Homo Deus’, de Yuval Noah Harari. É intrigante. Harari lembra que, se as máquinas já nos substituíram em inúmeras tarefas físicas nos últimos séculos, agora elas vão se ocupar cada vez mais com questões que exigem mais cérebro.

Afinal, ao contrário da estupidez, nossa inteligência tem limites, e é por isso que os computadores vão assumir os trabalhos de processamento pesado. Já existe algo assim há algum tempo, mas ainda é pouco.

O problema é que não falta muito para que máquinas comecem a tomar decisões baseadas na lógica da cultura e da biologia humanas. E o futuro não estará mais nas mãos do homem. E isso, naturalmente, vai deixar muita gente de cabelo em pé. E sem emprego.

Muito resumidamente, essa é a base do dataísmo, espécie de nova ciência (ou religião, sei lá) a que estamos sendo apresentados dia após dia. Enfim, esteja alerta. Há um mundo novo por aí. Um mundo dinâmico e muito, muito desafiador. Quem viver verá.

Nelson Vasconcelos é jornalista

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