Rio - A gente tenta acreditar na humanidade, mas está difícil. Toda semana é um golpe. Não é por acaso que sempre repito que temos que investir nas crianças, porque nós, os grandinhos, já não estamos mais dando conta de criar um mundo melhor. Nós perdemos.
Por essas e por outras, anote esse nome: Chimamanda Ngozi Adichie. Difícil, né? Mas merece. É uma escritora nigeriana que vai fundo na crítica a duas das práticas mais odientas da nossa cultura: racismo e machismo. Seus livros (‘Americanah’, por exemplo) são obrigatórios para quem precisa abrir a cabeça. Daí que está saindo por aqui seu pequeno e poderoso ‘Para educar crianças feministas – Um manifesto’. Leitura rápida, mas muito enriquecedora.
O livro é uma carta de Chimamanda (anote esse nome) a uma amiga que acaba de ter uma menina. São sugestões de como não fazer a garota baixar a cabeça diante da pretensa superioridade masculina. Está longe de ser uma pregação raivosa contra os homens, mas, sim, contra essa cultura idiota que nos cerca, perpetuada não só por homens, mas também pelas mulheres, como sabemos.
Num tempo em que o caso do goleiro Bruno volta a ser discutido, taí um livrinho que pode ajudar a gente a mudar o mundo, ajudando as crianças a construir outras relações humanas, verdadeiramente humanas.
Por sinal, um livro que certamente vai agradar a papais, mamães e crianças é ‘Querido mundo, como vai você?’, de Toby Little. Olha que história bacana. Aos 5 anos, o garoto descobriu que o planeta é muito maior que sua ilha chamada Inglaterra e começou a escrever cartas para pessoas de outros países.
Contou com a ajuda dos pais, que foram brilhantes, facilitando a vida do garoto e, ao mesmo tempo, deixando-o livre para construir novas amizades.
Resultado: em quatro meses, Toby bateu a meta de escrever para os 193 países que constam na lista da ONU. Até agora, ele enviou 1.100 cartas e recebeu a resposta de quase 500 destinatários, mesmo aqueles de locais tão isolados como a Antártica ou, sei lá, o Tadjiquistão. A cartinha para o Nelson Mandela, por exemplo, é tocante. É muito carinho envolvido.
No fim, é tudo bem sacado. O garoto, que hoje está com 9 anos, mergulhou em mil histórias, aprendeu geografia, exercitou a escrita, fez amigos e, com toda a certeza, será um homem mais aberto às pessoas que o cercam, longe do umbiguismo nosso de cada dia. A propósito, por que não fazer um projeto parecido ao do Toby? Você e suas crianças só têm a ganhar, vai por mim.
Nelson Vasconcelos é jornalista