Por thiago.antunes

Rio - Meus pais sempre me ensinaram que falar a verdade é característica das pessoas de bem. Com o tempo, descobri que a verdade é relativa e que a espécie absoluta não existe. Mais tarde, aprendi que para ser verdade é preciso que haja evidências, comprovações sobre aquela verdade, e que não podemos sair por aí afirmando coisas que não podemos comprovar. Passei a acreditar que algo é tão mais verdade quanto mais comprovável é.

Devo admitir que estou em crise, e a culpa é das mídias sociais (ou será das pessoas?). Por mais que eu saiba que não devo acreditar em tudo que ouço ou leio, confesso que fico apreensivo a cada vez que recebo vídeos e mensagens dizendo que a margarina mata mais do que o álcool e que o agrotóxico nas verduras e o hormônio do frango causam mais câncer do que o cigarro.

Às vezes, tento pesquisar a respeito, mas não tenho tempo para fazê-lo na velocidade com que surgem as mensagens. Costumo filtrar a veracidade das notícias por nível de confiabilidade da fonte. Assim sendo, acredito mais no que me é enviado por amigos da Universidade e pessoas que reputo sérias e ponderadas.

Esse filtro, no entanto, tem falhado bastante, pois todas as pessoas estão propensas a compartilhar aquilo que reforça suas opiniões pré-concebidas e a rejeitar as evidências que as contrariam. Esse comportamento é chamado de viés de confirmação.

As mídias sociais potencializaram a ação desse ‘viés’ e hoje somos tiranizados por ‘verdades’ incompletas ou mentirosas que exercem uma enorme influência sobre o nosso comportamento. Para piorar, vivemos em um país de uma imensa descrença no governo e na política, onde o Estado, enfraquecido, não consegue cumprir seu papel de dar segurança ao povo que, atônito, apega-se a qualquer verdade que reforce a inoperância governamental. Perigo gigantesco para um país que tenta respirar sem aparelhos.

Diante de tudo isso, cresce a importância da escola para que não sejamos cada vez mais atropelados por ‘verdades’ a serviço de interesses pessoais e institucionais. É essencial que a escola ensine a avaliar opiniões pessoais a partir de evidências, a valorizar o debate a partir de dados reais e, acima de tudo, a questionar informações e opiniões através do confronto de interesses, típico de uma sociedade capitalista.

Júlio Furtado é professor e escritor

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